As reclamações sobre árvores detonadas com podas assassinas e raízes concretadas, aos montes, denotam uma cidade-paradoxo. Ao mesmo tempo em que abriga grandes áreas verdes, florestas, e tem 36% de seu território preenchidos por unidades de conservação, o Rio sofre com ilhas de calor e falta de árvores, principalmente em bairros de menor renda per capita. Desde 2016, um plano estruturado que visa reverter essa falta de arborização urbana aguarda implementação da Prefeitura. Pensar em árvore é pensar em estratégias que agreguem ações de compostagem do lixo orgânico nas escolas, em hortas comunitárias, jardins filtrantes. Pensar em árvore é pensar em mais qualidade de vida e numa cidade menos partida. Não vamos bem nesse quesito.
Cientes da necessidade de mais avanços, fundamos o movimento “Respira, Rio!”, um catalizador de transformações socioambientais. No sábado (15), levamos ao Aterro do Flamengo saquinhos com terras e sementes de maçaranduba, pau-pombo, tarumã e carrapeta, para uma ação de conscientização e futuro plantio em áreas prioritárias. Foram 122 saquinhos semeados. Futuras árvores que garantirão mais sombra aos cariocas. Usamos adubo doado pelo Ciclo Orgânico (o que seria “inservível” virou suporte para garantir novas vidas). As sementes vieram da Biovert, maior viveiro de mudas da Mata Atlântica do Estado do Rio.
Queremos fomentar o debate, trazer novas ideias para pensar uma metrópole conectada aos novos tempos, de duro enfrentamento à emergência do clima. A cadeia do reflorestamento tem o condão de tirar milhares de jovens do desalento e da falta de perspectiva. O Rio precisa, urgentemente, liderar nacionalmente movimentos de requalificação verde de seus territórios. O domínio do concreto pode ser combatido com políticas públicas de incentivo à manutenção de parques, jardins e árvores.
O Rio já plantou, em suas ruas, 50 mil árvores por ano. Hoje não planta mais do que 10 mil. Involuímos. É só o começo. Há um longo caminho pela frente!
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O regime democrático brasileiro completou, no fim, de semana, 40 anos em vigor. É o mais longo período democrático ininterrupto da história do país desde a proclamação da República, em 1889. A expectativa de vida dos brasileiros tem crescido a cada década, voltamos a derrobar índices vexatórios de insegurança alimentar severa, O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) avança continuamente.
Lembremos sempre o aforismo do primeiro-ministro inglês Winston Churchil (1874 – 1965): “A democracia é a pior forma de governo, à exceção das demais”.
É difícil quando somos uma sociedade voltada para o deslocamento urbano com carros e (agora) motos. Tudo é feito sob essa lógica: mora-se longe dos locais de trabalho e estudo, provocando longos deslocamentos diários; os pontos comerciais importantes, como supermercados, são poucos e distantes, obrigando o uso de carros; o transporte coletivo é INTENCIONALMENTE precarizado, convencendo os usuários que a vida boa é dentro de um carro ou em cima de uma moto; insiste-se em permitir estacionamento de carros e motos em vias públicas, desperdiçando espaço para canteiros, calçadas e ciclovias; é um crime contra o “direito de ir e vir” decretar (na mão de ferro) a redução do limite de velocidade em perímetro urbano (os adoradores de gasolina odeiam quem sequer menciona isso), afinal de contas todo mundo anda muito apressadinho ultimamente; para muitos, árvores costumam ser um transtorno em dias de tempestades, dada a precariedade de nossa infraestrutura elétrica e de telecomunicações, e como não há um projeto sério de aterramento de cabos e fios (as empresas privadas não querem nem tocar no assunto, pois e problema nem é com elas), mas sim um projeto de lucros altos e rápidos, a cidade vai se transformando nesse monstrengo disforme e cheio de gambiarras mal feitas. E tudo isso para atender aos interesses de lucros dos investidores do setor privado.
Como ser otimista dada a mentalidade que impera?
Não adianta plantar e não cuidar.