Por André Duarte
Madrugada de 11 de Maio de 1938. Palácio Guanabara, residência oficial do Presidente Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Em alguns momentos, ele sofrerá uma tentativa de tomada de poder através de um golpe de estado elaborado e levado a cabo pelos integralistas.
Os integralistas eram membros da Ação Integralista Brasileira, versão tupiniquim do fascismo, fundada como partido político em 7 de outubro de 1932. Seu fundador foi o escritor, político e jornalista Plínio Salgado, que contava, inclusive, com um grupo paramilitar.
A princípio apoiaram o golpe de estado dado por Vargas em 1937, com a promessa de espaço político no novo governo. Acontece que uma das ações da nova constituição foi justamente acabar com os partidos políticos. Dá para imaginar que os integralistas não ficaram nada satisfeitos.
E começaram a conspirar contra o Presidente.
Nos primeiros minutos do madrugada do dia 11 de maio de 1938, dois caminhões com homens disfarçados de fuzileiros navais, encostam no Portão principal do Palácio Guanabara. O porteiro, um guarda civil de nome Josafá, acha a movimentação estranha e fecha a chave o portão, obrigando os caminhões a dirigirem-se a entrada da Casa da Guarda, que dava acesso aos jardins do Palácio. A manobra poderia ter sido igualmente frustrada, não fosse pelo tenente Júlio do Nascimento que, agindo a traição, abriu os portões aos revoltosos. A resistência de fuzileiros leais não foi suficiente, e os golpistas ocuparam suas posições.
Filha e secretária particular do Presidente, Alzira Vargas é acordada com o som de um estampido. Logo seguido de outro, o que faz com que procure pelo pai pelos aposentos. Acha o Presidente Getúlio Vargas colocando um revolver na cintura, por cima do pijama. Estava disposto a vender caro a derrota.
Neste momento o Palácio começa a ser crivado de balas, vindas das metralhadoras no jardim. Ao tentarem contato através dos telefones, descobrem que as linhas, assim como a iluminação, haviam sido cortadas.
Os integralistas talvez tivessem conseguido êxito, não fosse por um pequeno detalhe. As linhas convencionais haviam sido cortadas, mas a linha oficial ainda mantinha contato com o PBX do Palácio do Catete, não…
A própria Alzira Vargas conseguiu contato com o PBX do Palácio do Catete, e por meio dele ligou para o Chefe de Polícia Filinto Muller, ordenando a retomada.
Finalmente uma tropa sob o comando do coronel Cordeiro de Farias chegou no campo do Fluminense, vizinho ao Palácio. Ao tentarem entrar pela “Dondoca”, entrada alternativa entre o campo e o jardim do Palácio, um fato inacreditável acontece: não encontravam a chave que abria o portão… Ao ser informada, Alzirinha, como era chamada pelo pai Presidente, pergunta em tom de ironia: “Porque não arrebentam a porta a bala?” Não arrebentaram, e somente após um dos ocupantes esgueirando-se nas sombras ter levado a chave, a tropa pode entrar, fuzilar os rebeldes e retomar o controle da situação. Passadas cinco horas, a tentativa de golpe havia sido finalmente frustrada.
Vale a pena terminar este texto com a reprodução das palavras escritas por Alzira Vargas, sobre a decisão de Getúlio Vargas em caminhar durante o mesmo dia entre o povo:
“Alcancei-o quase na metade da rua Paissandu. Lentamente, em uma atitude mais do que de coragem, quase que de desafio, avançava em direção ao Catete. As janelas se encheram de fisionomias curiosas. Ninguém havia dormido nos arredores do Guanabara com o ruído das metralhadoras, à espera do inesperado. Das ruas laterais acorriam pessoas de todas as idades, que o seguiam. Durante todo o trajeto era saudado com palmas e exclamações de júbilo. Imperturbável, retribuía um aceno ou um sorriso, como se fora um fato comum o Chefe da Nação ficar cercado, prisioneiro, sem defesa, durante toda à noite, e ainda estar vivo e de bom humor.”