Vimos na cerimônia de abertura das Olimpíadas, um forte apelo para a preservação do meio ambiente e o bom uso da natureza, aclamação de nossa bela flora, bem como o uso de bicicletas (na verdade triciclos) liderando cada uma das delegações que adentravam o Maracanã. O Brasil queria passar uma mensagem de ambientalmente correto para o mundo. Na cerimônia foi tudo lindo, mas infelizmente as políticas brasileiras voltadas ao meio ambiente são uma vergonha, sendo assim a cerimônia de abertura mostrou tudo aquilo que o Brasil não faz.
Foquemos na relação da mobilidade urbana com o meio ambiente. Além de transportar pessoas, um modal de transporte público inserido em uma região urbana, também influencia o meio ambiente, o urbanismo e a habitação do lugar. Esses fatores juntos afetam positivamente ou negativamente a qualidade de vida da população. Aqui no Rio não temos nenhum ônibus elétrico ou elétrico/hibrido. Comprar um carro elétrico no Brasil é um desafio. O Brasil é um país onde as bicicletas tem um preço elevado em comparação a outros lugares do mundo, uma boa bicicleta urbana não sai por menos de 600 reais. E ainda tem o equipamento de segurança (capacete, luvas, espelhos, luzes etc). Uma bicicleta elétrica dificilmente sairá por menos de 3 mil reais. As políticas de segurança para o ciclista não funcionam, além disso as ciclovias são feitas sem nenhum compromisso com a qualidade, algumas até caem e tiram a vida do pagador de impostos. Logo a mobilidade por bicicleta, que seria tão importante para as nossas cidades, é uma das mais injustiçadas pela total falta de visão para com o interesse público. Tudo isso faz a cerimônia olímpica “verde” parecer uma grande hipocrisia.
Apenas para explicar ao leitor, um ônibus ou carro hibrido é aquele que possui dois motores, sendo um elétrico e um a diesel. Existem diversas modalidades de operação, mas geralmente apenas o motor elétrico impulsiona o veículo, o motor a diesel é usado como um gerador, que alimenta o motor elétrico, existem ainda veículos 100% elétricos e também aqueles que o motor a diesel também pode ser usado para mover o veículo, em caso de ultrapassagens, por exemplo. Essa combinação de motores faz com que o consumo de combustível de um ônibus hibrido seja cerca de 30% menor que um ônibus a diesel. Um ônibus hibrido polui cerca de 50% a 90% menos em relação a um ônibus a diesel. Como o motor elétrico funciona quase todo o tempo e o a diesel opera bem menos, o veículo hibrido é consideravelmente mais silencioso que um carro ou ônibus que queima somente combustíveis fosseis.
Mesmo com todas as vantagens dos combustíveis alternativos, ainda encontramos muitos empecilhos para o aumento no número de veículos híbridos e/ou elétricos. Aqui no Rio a administração pública não pensa a longo prazo. Já estive em diversas conferencias sobre mobilidade e sempre alegam a velha desculpa de que “ônibus hibrido é muito caro”, aliás a mesma desculpa é usada muitas vezes para não se expandir o metrô. “O metrô é muito caro”. Sim, essas tecnologias são caras, grande parte dessa culpa são dos altos impostos que incidem sobre veículos, além do velho e perverso superfaturamento em grandes obras, como é o caso do metrô. Porém o pior não é gastar dinheiro investindo em metrô ou combustíveis limpos, o pior é não investir, ou jogar dinheiro fora em projetos que não visam a boa técnica e o longo prazo. Dados da FIRJAM indicam que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro perde cerca de R$24 bilhões/ano devido aos engarrafamentos, que obviamente provocam aumento na poluição e consequente perca de qualidade de vida, problemas que afetam principalmente a saúde pública. Os 24 bilhões de reais viabilizariam 48Km de metrô.
Um ônibus hibrido custa em média 600 mil reais, enquanto um ônibus comum a diesel custa cerca de 350 mil reais, porém o ônibus hibrido consome 30% menos combustível. Uma empresa de ônibus que opera na região norte de Los Angeles, nos EUA, adquiriu 80 ônibus 100% elétricos e afirma que irão economizar algo em torno de 46 milhões de dólares em relação a uma operação com ônibus comuns. Importante ressaltar que os veículos elétricos possuem uma vida útil maior que os ônibus a diesel.
São Paulo possui uma frota de 200 ônibus trólebus (100% elétricos), Curitiba possui 30 ônibus híbridos, Recentemente Bogotá, capital da Colômbia, adquiriu 50 ônibus híbridos. Nova York começou a utilizar ônibus híbridos em 1998, estamos em 2016 e no Rio de Janeiro ainda rodam ônibus com chassis de caminhão, que além de serem barulhentos e poluidores, são péssimos de acessibilidade. Que papelão para uma cidade que sediou a Eco 92, a Rio +20 e sediará as Paraolimpíadas.