As redes sociais e a internet em geral sempre foram conceituadas como ambientes de disseminação de conhecimento. A rede mundial de computadores geraria, necessariamente, um enorme intercâmbio de ideias e um acesso a um conteúdo de dimensão inimaginável antes da sua existência. Contudo, nos últimos tempos, principalmente no que se refere à política, as redes têm sido tomadas, cada vez mais, por uma atmosfera de intolerância, onde todos acreditam ter razão mas, na verdade, a irracionalidade avança.
Esqueça-se o diálogo, abandone-se a sensatez e ignore-se até as regras mais básicas de educação. Muitas pessoas afirmam aquilo que não sabem, compartilham aquilo que não tem veracidade comprovada e, pior, lutam com unhas e dentes para, supostamente, defender as premissas daquilo que postaram, mesmo que isso signifique discutir com amigos, ironizar familiares e romper relacionamentos.
O Facebook, rede social mais disseminada do mundo, não ajuda a corrigir esse fenômeno. Ao contrário, o agrava, com seu algoritmo que exibe para cada um de nós, em nossas linhas do tempo, conteúdos que reforçam aquilo que já pensamos ou que achamos que pensamos. Quanto mais uma postagem defender pontos semelhantes aos que nós defendemos ou tratar de temas próximos aos nossos interesses, mais chances ela possui de ser exibida para nós, reforçando tanto noções corretas como boatos, preconceitos e radicalismos.
Na realidade, não se sabe nem mesmo se as pessoas estão lendo com atenção aquilo que as outras escrevem. Alguns publicam bastante, mas não se dedicam a ler o que os demais produzem. Outros até leem as postagens dos amigos, mas com tantas abas, aplicativos e mensagens para dar conta, a leitura fica pela metade. Esse cenário gera mal-entendidos que, com o clima de animosidade atual, se transformam em discussões épicas e gastam uma energia que sem dúvida poderia ser mais bem utilizada. Talvez falte maturidade para algumas pessoas. Sem dúvida falta credibilidade para muitos veículos.
Outro fenômeno mais recente é o populismo digital, que é pior ainda quando agregado à intolerância. Indivíduos, grupos e movimentos passaram a dizer aquilo que acreditam que seus amigos ou seguidores desejam ler. Afirmam com convicção, defendem pautas e até mobilizam manifestações. Defendem que aquilo que dizem é a verdade única e superior dos fatos. Contudo, se no dia seguinte a opinião pública muda de posição, eles se transformam junto, frente ao terrível medo de perder popularidade na rede. Novamente, passam a defender a verdade da ocasião com ferocidade, até que uma nova surja.
Esse ambiente não é exclusivo do Brasil. Muito pelo contrário. É uma realidade que tem sido observada em diversos países do mundo. O plebiscito que tratou da saída do Reino Unido da União Europeia causou muita intolerância nas redes. Já a campanha presidencial americana gerou uma profusão de boatos e mentiras, que foram espalhados por gente de boa-fé e de má-fé também. No fim das contas, vale a pena que todos nos lembremos das lições das nossas avós, transmitidas a elas no aparentemente longínquo período pré-digital: Temos dois ouvidos para escutar e apenas uma boca para falar. Educação nunca é demais. Duas cabeças pensam melhor do que uma. Se todo mundo está pulando da ponte, você pula também?