Semanas atrás, eu vi três meninos, negros, camisas de escola pública, bermudas e tênis velhos, cerca de 10 anos de idade, sentados no chão, próximos à porta, do último vagão do metrô sentido Botafogo. Em Triagem, a voz do condutor anunciou: “Próxima estação Maracanã”. Os três garotos se levantaram rápido e colaram os rostos na porta do vagão. Ficaram lá, nessa posição, por alguns instantes. Eles não viram o que queriam ver, então se sentaram, no chão, outra vez.
Os três conversavam sobre um amigo que tem um celular “bolado”. Em pé, eu estava encostado na outra porta do vagão, do lado oposto ao deles.
O metrô parou na estação Maracanã. Eu, que já havia percebido que eles queriam ver o estádio, estava indo avisar para olharem para o lado de fora, mas uma mulher, que se encontrava perto deles, chegou antes de mim e fez isso.
Os três se levantaram num pulo só e ficaram empolgados ao ver o “Maior do Mundo”. Eufóricos, eles apontavam para o estádio, comentavam que fulano já foi lá várias vezes. Felizes, eles gargalhavam. Parecia até gol em final de campeonato.
As pessoas no metrô sorriam da alegria dos moleques. Eu também achei o momento bonito. No entanto, é duro ver essas constantes confirmações de que muita gente ainda não tem acesso a um monte de coisas que para muitos de nós parecem básicas, bobas, até. E nem estou falando “só” de olhar de perto para o Maracanã, que anda sendo negado a nós, torcedores e amantes do esporte, por consequência de tanta incompetência e corrupção.
No último dia 08/03, ao ver o Maraca funcionando, recebendo um jogo grande novamente (Flamengo e San Lorenzo), fiquei feliz. Muito feliz. Assim como fico feliz agora, acompanhando os preparativos para o jogo do Fluminense, nesta quarta-feira. É sempre bom ver o Maior do Mundo – sem aspas, nesse caso – pulsando. A torcida (e a luta) é para que cada vez mais, nós tenhamos cada vez menos direitos suprimidos, mesmo que isso pareça uma vitória difícil.