Veja bem, eu não acompanhei a carreira de Cauby Peixoto, tampouco posso dizer que conheço suas músicas. Fui ao teatro levar minha mãe para assistir, que me jurou de pés juntos que também não era da sua época, mas que admirava e por acaso sabia todas as músicas de cor e salteado. Ao chegar e me deparar com a plateia de 60 anos para mais só conseguia pensar que aquele ia ser um espetáculo com bastante cheiro de naftalina. Guardei as impressões para mim e rumei firme ao meu assento com mente e coração abertos, afinal, já que estava na chuva, que me molhasse. O resultado acabou sendo bem melhor do que o previsto.
A peça se passa toda em um cenário muito bonito. Se eu não fosse fisgada pela história e canções até o final, de certo me deleitaria com a decoração. São dois ambientes principais que retratam o camarim do artista que está sendo desmontado. Ele, que nos deixou em 2016, é retratado como uma lembrança de Nancy, sua fiel escudeira durante 16 anos. Essa remontagem, que já havia estado em cartaz há 11 anos, foi vista pelo cantor duas vezes que dessa vez não aparece como personagem narrativo principal.
Durante as duas horas de musical eu conheci um pouco mais sobre aquele cara que sempre achei muito esquisito durante minha infância e adolescência e fui tomada por um afeto gigantesco pela sua delicadeza e doçura. Cauby, que disse inúmeras vezes que as pessoas só gostavam dele pela sua voz, é representado aqui por um deslumbrante Diogo Vilela que consegue traduzir toda sua essência para o público da forma mais lúdica possível. Com muita voz e coração.
Na hora do intervalo eu já havia esquecido que não conhecia e não sabia nada sobre Cauby Peixoto. Parece que ele sempre esteve ali comigo. O fascínio pelo cantor e pessoa que ele foi marejou meus olhos na cena de ‘Ne me quitte pas’, foi quando não pude mais segurar a emoção dos atos que assisti.
O elenco brilha e interpretam figuras icônicas como Nara Leão e Ângela Maria, que por muitos anos foi apontada como affair de Cauby, boato que foi espalhado pelo seu próprio produtor Di Veras, que também é encenado no musical.
Também não deixam de dar uma cutucada na juventude de hoje que não larga o celular para nada e sequer ouviram falar das cantoras Lisa Minelli, Maísa e da atriz Julie Andrews, todas citadas como referências por Cauby. A verdade é que, infelizmente, essa nova geração não saberá quem é Cauby. Se a música romântica “saiu de moda” com a explosão do samba e da bossa nova, hoje, até esses outros estilos não vendem mais. É a geração do sertanejo universitário, do pop meloso americano e do funk, mas quem sabe com esse lindo espetáculo haja algum tipo de salvação. Para mim teve.
Onde: Teatro Municipal Carlos Gomes
Endereço: Praça Tiradentes, s/n – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20060-050
Quando: 11/01 até 11/03
Quinta a Sábado 19H e Domingo 18H
*Após este período o espetáculo passa a ser apresentado no Imperator, também no Rio de Janeiro do dia 16/03 até 01/04.
Quanto: De R$ 50,00 a R$ 80,00 valores de inteiras, meias de R$ 25,00 a R$ 40,00.
OBS: Aceita Vale Cultura
Classificação: 10 anos
Duração: 2h com intervalo
Direção: Diogo Vilela e Flavio Marinho
Roteiro: Flavio Marinho
Elenco: Diogo Vilela, Sylvia Massari, Sabrina Korgut, Paulo Trajano, Aurora Dias, Luiz Gofman, Ryene Chermont, Luiz Menezes e Rafael de Castro.