Por André Delacerda
Sempre que passava em frente a uma vitrine próximo ao apartamento onde resido em Ipanema, me chamava bastante atenção a plasticidade e a arte que a mesma transmitia.
Um dia fiquei bastante curioso vendo a montagem, e resolvi parar e conversar com o vitrinista. Acabei descobrindo esse carioca apaixonado pela arte, vitrines e pelo Rio. Asssim o Diário do Rio traz uma
entrevista com o vitrinista Madison Maia, que nos conta todas as nuanças da arte de combinar cores, tecidos, produtos, de encantar o consumidor pelo olhar. Um dos pontos importantes desta entrevista, é o incentivo a pesquisa e o conhecimento que Madison sugere a que vai ingressar nesta área.
Diário do Rio – Conte-nos como começou seu interesse por vitrines?
Madison Maia – Eu sou figurinista e identifiquei que as lojas em que trabalhava tinham a necessidade de expor seus produtos de uma forma mais criativa nas vitrines. Eu fazia mulage (trabalhava os tecidos). Daí iniciei a confecção de cenários nas vitrines, ambientação dos produtos a temáticas propostas pela moda.
Diário do Rio – No Rio as vitrines trabalhadas sempre tiveram espaço?
Madison Maia – A cidade já teve sua era de ouro das vitrines, por volta dos anos 60, onde ocorriam grande concursos de vitrines, as lojas concorriam para ver quem tinha a mais bonita e criativa vitrine. Hoje infelizmente devido a minimização de custos, os lojistas não têm investido tanto em ambientação das vitrines de suas lojas. Algo que seria muito importante para a cidade, já que se somaria as belezas naturais do Rio como mais um atrativo da Cidade Maravilhosa.
Uma das poucas redes que ainda investem muito em vitrines é a Casa Alberto que sempre busca se diferenciar e expor os seus produtos nesta temática.
Madison Maia – Na vitrine de moveis criamos um ambiente atrativo para remeter o consumidor ao ambiente doméstico, o fazendo imaginar como irá ficar o espaço ou móvel na sua casa. Já a vitrine direcionada a tecido ou moda busca expor um estilo ou tendência da moda segundo a estação. Um exemplo neste verão 2009/2010 será a volta aos anos 80. Alias, a mulher carioca que usa grifes internacionais está sempre a frente, pois essas lojas já compram e antecipam as tendências do verão europeu para quem o consome no Brasil.
Diário do Rio – Como se faz um conceito de uma vitrine?
Madison Maia – É feito através de muita criatividade e adaptação Em caso de lojas que vendem multimarcas, o principal é conceber uma vitrine inteligente que atraia o consumidor e não interfira na nos produtos que a loja comercializa. O importante é saber mesclar e dosar na ambientação da vitrine.
Uma frase que sempre digo é “Dinheiro compra vernis, mas não compra bom gosto”. Daí cabe ao vitrinista trazer o bom gosto ao seu trabalho, e provocar no consumidor esta sintonia.
Diário do Rio – Você estudou para ser vitrinista?
Madison Maia – Não. Meu trabalho foi se formando totalmente intuitivo, através de observações, com detalhes no olhar em tudo que vivencio, procurando trazer algum elemento que possa ajudar na construção dos ambientes que me proponho a fazer.
Diário do Rio – O carioca gosta de vitrines? O carnaval tem haver com a criação de vitrines?
Madison Maia – O carioca gosta do belo. Gosta de se encantar. É como você pegar alguém no meio do nada e criar um elemento que lhe chame atenção agrade os olhos. E no Rio isso é mais forte, pois contracena com a beleza da cidade e sua gente.
É possível que em épocas festivas o carioca saia a frente com o conceito alegórico carnavalesco na montagem de vitrines. Claro que o carnaval traz toda uma linguagem especifica que se familiariza com o conhecimento de materiais e o capital humano capaz de produzir arte tanto para a escola quanto para produção de uma vitrine.
Mas ressalto a criatividade do carioca vai além do carnaval, afinal os melhores cenógrafos do Brasil estão no Rio, e atuam principalmente em novelas.
Como necessito de prazo para entrega de uma vitrine, recorro quando possível aos artistas do carnaval em adereços e marcenaria.
Madison Maia – Busque informação sobre moda e decoração. Valorize o conhecimento como um todo, observe as tendências, tenha um olhar curioso, olhar em tudo, atento a vida, as mensagens vindas das pessoas, procure ter conhecimento da literatura de vitrines.
Na escola não se nasce, você se cria. Então vá em busca de conhecimento em primeiro lugar. O ser humano é capaz de tudo, desde que tenha vontade e criatividade.
Diário do Rio – Qual mensagem você deixaria ao mercado lojista carioca?
Madison Maia – Os resultados das vendas também parte do atrativo na vitrine, uma loja “simples demais” sem um atrativo, passa a imagem que somente quer o consumidor pelo dinheiro. E essa mensagem fica na mente do consumidor. O lojista deve buscar transformar a loja em um lugar prazeroso, com glamour, que agrade aos olhos das pessoas, que remeta a um efeito de fantasia. Certamente se o lojista carioca investir mais terá bons resultados e mais elementos para atrair e fidelizar o cliente.
Vale ressaltar que deve-se também buscar integrar a temática carioca as vitrines. A cidade tem forte ligação com o mar, com as belezas naturais. Assim pode-se ambientar uma vitrine com temática mundial, mas sem perder a identidade carioca, a imagem da cidade.