Antes de mais nada, esta coluna, na semana passada, completou um aninho de vida. Que venham muitos…Agradeço pela sua insistência e boa vontade de ler estes textos de um sambista carioca. Salve!
A atenção do carioca ontem foi disputada. Era inauguração de árvore da Lagoa, jogo do Flamengo e Botafogo e ENEM. Mesmo assim, o público compareceu ao Sambódromo. Tímido, mas foi. Com um céu ameaçando chuva, foi dada a largada de ensaios técnicos rumo ao carnaval 2010.
Com uma hora de atraso, a Acadêmicos do Cubango fez bonito na Sapucaí. Considerada a surpresa da noite, a escola de Niterói disse a que veio. A bateria, com a presença de sua madrinha de bateria Samantha Schultz, fez uma entrada explosiva em frente ao setor 1. Depois, a comunidade marcou presença demonstrando sua força e garra na avenida.
Não posso deixar de falar na homenagem consciente que muitos componentes fizeram em colocar uma fitinha cruzada vermelha na camisa da escola, fazendo alusão ao Dia Internacional de Combate a AIDS.
Com o enredo "Os loucos da praia chamada Saudade", a Cubango eletrizou o público presente. O samba de Diego Nicolau, Sardinha, Carlinhos da Penha, Junior Duarte, Dilson Marimba e Raphael Prates foi facilmente cantado pela comunidade e pelos espectadores. "É mais que paixão, beirando a loucura/vesti verde ebranco, ninguém me segura/Cubango encanta e traz liberdade/Aos loucos da praia chamada saudade."
Alguns buracos entre as alas e as falhas no carro de som foram os figurantes no espetáculo, cujo este tinha uma loira de vestido vermelho e sapato em cima de um caminhão. A loira pedia aplausos e levantava a arquibancada com sorrisos e câmeras por toda a parte. Vez por outra, ela tirava a peruca e se revelava de Milton Cunha, o carnavalesco da escola. Por fim, limito-me a dizer que a Acadêmicos do Cubango passou bem pelos 700 metros da Sapucaí com porte de escola do Especial. Que cuidem-se as outras.
Logo depois, a passarela foi colorida de verde e rosa. A Estação Primeira de Mangueira foi saudada, por seu presidente Ivo Meirelles, trajando uma camisa do Flamengo e com uma bandeira metade o escudo da escola e metade o símbolo rubro negro.
No início, ele parabenizou a todos os times cariocas e felicitou o Flamengo pelo hexacampeonato. Em seguida, disse que a escola vinha mais preparada que nunca e que ela continuava inabalada, apesar de tudo. Agradeceu a presença do público e prometeu um tremendo espetáculo. E assim o foi.
A escola veio completa e cantante. Um tripé, que nada mais era uma parte de uma alegoria, pedia aos foliões para a escola passar. Alguns costumeiros destaques, com suas imensas e bem trabalhadas fantasias, também pediam passagem.
Os diretores de alas eram uma atração à parte, pois incitavam seus componentes a cantar e festejar, como se fosse o desfile para valer. Por isso, Mangueira brincou no Sambódromo e impulsionou as arquibancadas, que nesta hora, já estavam cheias até o setor 9.
A Mangueira vai falar da música do Brasil e, talvez, é justamente esta música que irá render o esperado campeonato. Os intérpretes puxavam bem o samba. O carro de som ficou equilibrado e demonstrou a potência do coro verde e rosa. Foi curioso ver que os componentes faziam uma "mesma" coreografia na hora de cada ritmo apresentado:o axé no axé, o frevo nos pés, e o remelexo do bumbum no funk.
Porém, a verde e rosa não veio perfeita. Apesar dos diretores de alas que tentavam a todo momento organizá-las, a escola pecou em evolução e harmonia. A maioria dos componentes se desalinhava e realizava uma tremenda "feira", promovendo verdadeiros "clarões" na avenida. Não por acaso, o presidente Ivo ficou no meio da avenida, na altura do setor 11, cumprimentando todos e mandando beijos para os foliões.
A famosa bateria Surdo Um fez bonito na avenida. Com a presença da rainha Renata Santos, os ritmistas treinaram algumas paradinhas que devem ser utilizadas no dia do desfile oficial. Inclusive, no momento "No sonho dourado embarquei….Parece magia!/Vai minha inspiração", como você pode conferir no vídeo. Logo, a galera aprovou e delirou conforme os ritmistas iam passando. No fim do desfile, a apoteose virou festa e todo mundo se reuniu para sambas de outrora.
Finalmente, se apoteose significa a transformação do ser humano em Deus, ao final da noite de ontem, muitos Deuses cariocas compunham a divindade carnavalesca.