Em uma manhã de 5 de janeiro de 1976, quinze operários da Aghil Comércio de Ferro Ltda chegaram ao centro do Rio de Janeiro para iniciar a demolição do Palácio Monroe, uma das construções mais emblemáticas da cidade. A empresa, sob a propriedade de Antônio Gonçalves da Silva, havia vencido a licitação para desmontar o edifício. Munidos de marretas e britadeiras, os trabalhadores aguardaram a licença oficial da prefeitura, mas começaram a remover objetos de valor, como vitrais e estátuas, entre elas os icônicos leões de mármore esculpidos pelo artista italiano Vaccari Sonino. Hoje, dois desses leões adornam a entrada da Fazenda São Geraldo, em Uberaba, Minas Gerais, enquanto os outros dois estão expostos no Instituto Ricardo Brennand em Recife. As informações são da BBC/Brasil.
O contrato da demolição permitia que a Aghil vendesse itens internos do palácio. De acordo com o Diário de Notícias, a empresa faturou 9 milhões de cruzeiros com a venda de ferro e cobre, o equivalente a aproximadamente R$ 6,2 milhões em valores atuais. A cúpula, que pesava 300 toneladas e tinha 15 metros de diâmetro, foi a parte mais complicada da demolição, exigindo três guindastes e vinte dias de trabalho para ser removida. O escritor e pesquisador Carlos Eduardo Drummond observa: “A demolição do Monroe foi um ‘assassinato’ coletivo, quase um linchamento. O palácio foi ‘torturado’ ao longo dos anos.” As colunas de mármore de sua linda fachada e escadaria, assim como vitrais, foram compradas pelo empresário Sérgio Castro, que acabou doando peças de mármore para o Museu Histórico Nacional, e hoje integram seu acervo.
Raízes históricas e simbolismo do Monroe
O Palácio Monroe teve sua história iniciada em 1903, quando o engenheiro Francisco Marcellino de Souza Aguiar recebeu do presidente Rodrigues Alves a missão de projetar um pavilhão que representasse o Brasil na Exposição Universal de Saint Louis de 1904. Concluído em sete meses, o pavilhão recebeu elogios da imprensa americana e conquistou a medalha de ouro em arquitetura na exposição. Após o evento, foi reconstruído na então Avenida Central (atual Avenida Rio Branco) e inaugurado em 1906, como um símbolo da modernização do Brasil.
Renomeado em homenagem ao presidente americano James Monroe por sugestão do diplomata Joaquim Nabuco, o Palácio foi a sede de grandes eventos, como a 3ª Conferência Pan-Americana. Em sua longa trajetória, abrigou o Senado Federal e foi palco de avanços como a aprovação do voto feminino e as primeiras legislações trabalhistas. O edifício tornou-se símbolo do progresso e da estabilidade republicana no país.
Controvérsia e o destino do Monroe
Na década de 1960, o Palácio Monroe começou a sofrer ataques da imprensa brasileira. Enquanto o jornal O Globo o chamou de “monstrengo” em 1961, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) argumentou a favor da demolição, alegando que a edificação “perdeu significação” e “enfeiava o Rio”. A pressão culminou na ordem de demolição em 1975, pelo então presidente Ernesto Geisel. Um documento enviado por Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil, comunicou ao ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, a decisão de Geisel, que foi celebrada por O Globo. “Por decisão do Presidente da República, o Patrimônio da União já está autorizado a providenciar a demolição do Palácio Monroe,” noticiou o jornal em tom de comemoração.
Conflitos entre preservação e modernidade
A demolição do Monroe dividiu opiniões. De um lado, Lúcio Costa, um dos arquitetos modernistas mais respeitados do Brasil, apoiou a decisão, declarando que a demolição beneficiaria o “desafogo urbano”. Do outro, o Clube de Engenharia, apoiado por personalidades como Roberto Burle Marx, lançou o Manifesto pela Preservação do Palácio Monroe, com adesão de 162 arquitetos e urbanistas. O engenheiro Durval Lobo, que liderou o movimento, enfatizou que o edifício não apresentava problemas estruturais e que sua destruição não beneficiaria o tráfego local. “Nos anos 1970, o Brasil vivia os horrores do golpe de 1964. O manifesto, mesmo sem conseguir manter o prédio de pé, foi um ato de coragem,” destaca o historiador Daniel Levy de Alvarenga.
Hipóteses e motivações para a demolição
A pergunta “Quem demoliu o Monroe?” tem gerado discussões por décadas. Algumas teorias sugerem que a decisão foi motivada por ressentimento pessoal do presidente Geisel, que teria sido preterido para um cargo de confiança durante o governo de Juscelino Kubitschek. Entretanto, Alvarenga considera essa hipótese improvável. “A versão mais aceita atribui a demolição à percepção de que o estilo eclético do palácio e as transformações feitas no projeto original justificavam sua destruição,” afirma.
Outra teoria, a de que o Monroe teria sido derrubado para dar lugar à estação de metrô da Cinelândia, é contestada pelo cineasta Eduardo Ades. “O metrô não foi a causa da demolição do Monroe. Sua rota desvia do palácio,” revela Ades, diretor do documentário Crônica da Demolição.
Um símbolo perdido e a visão de um futuro alternativo
Hoje, resta imaginar o papel que o Monroe poderia desempenhar se ainda estivesse na Cinelândia. Drummond sugere que ele poderia ser um centro cultural de relevância, semelhante ao Centro Cultural Banco do Brasil ou ao Centro Cultural Correios. Para Eduardo Ades, o Monroe poderia ter se tornado um prédio-sede da Prefeitura do Rio, mantendo a Cinelândia como um ponto vibrante e ativo. “É uma pena! Se o Monroe ainda estivesse lá, a Cinelândia não estaria tão abandonada,” lamenta o cineasta.
Carlos Eduardo Drummond vai além e defende que o Monroe seja reconstruído em seu local original. “Está na hora de criar outra campanha: o da reconstrução do Monroe, bem ali no lugar original. Não há mais justificativa para ter um estacionamento subterrâneo naquela praça. Um chafariz é praticamente inacessível para a população devido ao abandono e à insegurança,” argumenta.
O impacto e o legado do Palácio Monroe na história brasileira
A trajetória do Monroe representa as transformações culturais e políticas do Brasil, desde sua construção como símbolo da nova república até a sua demolição sob a égide do regime militar. Para muitos, sua destruição é vista como um símbolo de perda de memória e de valor histórico, uma lembrança de que a preservação cultural nem sempre foi priorizada no país.
Enquanto permanece a discussão sobre o futuro que o Monroe poderia ter tido, sua ausência é sentida tanto por historiadores quanto pela população, que perdeu não só um edifício monumental, mas também um ponto de encontro e um espaço de representação política e cultural. O Palácio Monroe, para seus defensores, foi mais que uma construção; foi uma peça fundamental na identidade histórica e cultural do Rio de Janeiro e do Brasil.
Será maravilhoso reconstruir o Monroe, ele era majestoso e lindo!!
A versão que conheço é a seguinte: O Marechal Francisco Marcellino de Souza Aguiar foi um dos quadros mais preparados do EB! Prefeito da cidade entre 1906 e 1909 fez obras de expansão da cidade assim como projetos variados. Entre os principais estão obviamente o Palácio Monroe, projetado para ser o Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1904, ocorrida em Saint-Louis nos EUA, a Biblioteca Nacional, o Pavilhão Mourisco, o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, o Palácio da Prefeitura, as Escolas Municipais Menezes Vieira no Alto da Boa Vista, Macaúbas (Inhaúma), Barth (Flamengo), Afonso Pena (Tijuca) e Deodoro (Glória), o Posto Central de Assistência da Praça da República, atual Hospital Sousa Aguiar, o Hospital Central do Exército, casas para operários na Avenida Salvador de Sá e no Becco do Rio, o Mercado Municipal e o Mercado das Flores! Ocorre que mesmo não sendo contemporâneos no EB Geisel parecia alimentar um desconforto/inveja/recalque com a vida e, principalmente, a obra do Marechal e mandar derrubar o Monroe, mesmo com o metrô do RJ fazendo um trajeto que passava ao lado do famoso palácio, a ordem que veio de Brasília foi de demolir para que esse símbolo máximo do Marechal ficasse confinado aos livros! Outra versão reza que um Souza Aguiar, este sim contemporâneo de Geisel sempre o derrotou ao longo da carreira em todas as promoções de patente e isso teria criado um ódio do General em relação à família Souza Aguiar! Geisel tem em sua estória erros graves como a fusão da Guanabara ao Rio de Janeiro, a divisão do Mato Grosso com a criação do Mato Grosso do Sul, o reatamento de relações diplomáticas com a china, reconhecimento da independência de angola, realização de acordos nucleares com a Alemanha Ocidental, o início do processo de redemocratização do país, a extinção do AI-5 (para mim uma traição) e um grande adiantamento da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
O palácio Monroe era bonito, construído com materiais de ótima qualidade e a última vez que estive lá, em 1973, estava bem conservado. Eu chorei quando vi a demolição daquele belo e histórico patrimônio.
Eu choraria também, realmente um crime!! E o Geisel um canalha!! Tô surpreso com as decisões dele!!
Lamentável. Enquanto em outros países procuram preservar o legado artístico arquitetônico, no Brasil ele é destruído.