Por André Delacerda
O Diário do Rio esteve presente na última terça-feira 18/11, no Espaço Tom Jobim – Jardim Botânico do Rio, para uma sessão fechada do documentário “A Árvore da Música”, dirigido por Otavio Juliano eproduzido por Luciana Ferraz e Rogerio Ribeiro. O filme tem estréia nacional prevista para 2009.
Chegamos por volta das 18:45 para reconhecer o espaço onde ocorreria a sessão de exibição do documentário, e tivemos a grata surpresa de encontrar um local destinado a cultura no coração deste que é um dos grandes legados de D. João VI para o Rio – o Jardim Botânico -. Uma majestosa homenagem no ano em que comemoramos o Bicentenário de chegada da Família Real portuguesa ao Rio.
O Espaço Tom Jobim foi implantado em um antigo prédio tombado pelo Iphan e que desde 1937 funcionava como galpão de depósitos de objetos, oficinas e vestiários para funcionários. Este passou por várias reformas até se transformar em um aconchegante centro cultural que homenageia o imortal maestro, compositor e ambientalista Antonio Carlos Jobim, que foi o maior propagador do Jardim Botânico.
Ao caminhar pelo espaço nos deparamos com um teatro de muito bom gosto e com uma bela utilização de detalhes em madeira, inclusive nos assentos da platéia.
Continuamos a circular pela parte externa do ambiente e encontramos uma senhora que ali estava para assistir a primeira projeção do filme. Marie Yvonne muito simpática e comunicativa, nos falou sobre sua paixão pelas artes, em especial pela música clássica e opera. Ela também me confessou admiradora de exposições. Considerando o Rio bem servido de espaços para estas; dizendo que aqui sempre vêm boas mostras.
Aos poucos os convidados do evento foram chegando, pessoas envolvidas com cinema, patrocinadores, jovens, crianças e senhoras.
Por volta das 20 hs todos foram convidados a entrar no recinto e se acomodar no teatro para que se iniciasse a sessão de estréia de “A Árvore da Música”. A mestre de cerimônias fez um explicação do projeto. E acabamos descobrindo durante as palavras que a Porto Seguro Seguros, estava realizando uma ação de suma importância para preservar um dos símbolos do Jardim Botânico, as famosas palmeiras imperiais, com o replantio de 60 palmas dessa espécie.
Segundo Liszt Vieira – presidente do Jardim Botânico, que esteve presente na cerimônia, essa é uma ação importante:
“Pois, a palma mater foi fulminada por um raio há cerca de 152 anos, e muitas palmeiras imperiais necessitavam de replantio, pois como qualquer ser vivo, nascem, crescem e morrem.”
Em seguida foram convidados o diretor e produtores do filme ao palco, estes fizeram breves considerações sobre o filme.
Para o diretor Otávio Juliano:
“O filme fala por si mesmo, e é dedicado a todos os botânicos e músicos.”
Já a produtora Luciana Ferraz, conclamou o Brasil a salvar a árvore:
“Este filme é uma pequena contribuição para sensibilizar os órgãos e a opinião pública a salvar a árvore que dá nome a nossa nação.”
Rogério Ribeiro, compartilhou sua satisfação de exibir o filme naquele local:
“Não teria lugar melhor para se exibir este filme pela primeira vez, do que no Jardim Botânico do Rio.”
Minutos depois, as luzes se apagam e começa a ser exibido o documentário “A Árvore da Música”.
No início do filme, imagem e frases revelavam o quanto o Pau-Brasil vem sendo levado a extinção. Nas cenas seguintes, um jovem violinista europeu interpreta uma das obras mais famosas da música erudita o “Vôo do Besouro” – lembra o ruído produzido por um besouro ou uma abelha voando – de Rimsky Korsakov. Em seguida o músico explica como o Pau-Brasil proporciona uma qualidade de som para a música clássica.
Durante o decorrer da obra de arte que se concebeu neste documentário, se intercalam imagens no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com o concerto de David Garrett, considerado prodígio e um dos grandes solistas da atualidade. Continuando com a entrevista de um dos maiores celistas do mundo, Antônio Meneses, que esteve no Brasil para apresentações no Rio de Janeiro e Sorocaba.
No continente europeu foram captadas imagens da incrível Ópera de Viena; uma entrevista inédita com Wilfried Hedenborg, violino I da Filarmônica de Viena, filmado em Salzburg. Além do archetário e membro da IPCI, Thomas Gerbeth e Stephane Thomachot, archetário e presidente da IPCI que vive na França. Também foi filmada a performance do violoncelista Marc Coppey durante o Festival Juventos de Música, em Cambrai.
Há cenas no centro de pesquisa do Jardim Botânico no Rio de Janeiro e entrevistas com seus pesquisadores, além de imagens e relatos de pesquisas sobre o Pau-Brasil em outras regiões do país.
Durante a exibição do documentário, entre acordes e cenas de música erudita, Marie Yvonne sempre nos dava detalhes sobre as mesmas e seus grandes compositores. Segundo ela:
“Do ponto de vista de execução musical o mais importante que o filme mostrou foi que o instrumento e o arco são dois seres diferentes que convivem em simbiose. Os arcos são figuras totalmente desconhecidas do grande público. Graças ao filme o público terá oportunidade de conhecer a importância e o significado de um “archetário” ou arquetário no mundo da grande música.”
Sobre a arquetaria vale ressaltar que esta arte que no Brasil ainda é nova, tem um espírito secular, já que nasceu em terras do velho continente, mas possui uma relação de amor e cumplicidade com o nosso país através do Pau-Brasil.
Como visto, a Árvore da Música é uma revelação histórica de como o Pau-Brasil tornou-se vital para o som dos violinos e outros instrumentos de corda desde os tempos de Mozart. Traz ao conhecimento de todos à importância da arte de se fazer archetaria; além de apresentar ações que buscam preservar esta espécie da flora brasileira em extinção.
O documentário consegue com muita sutileza apresentar uma história marcante na qual se tem o Pau-Brasil, como o grande regente, conduzindo seus instrumentistas – músicos, pesquisadores, ambientalistas e archetários – a executem uma obra prima através da imagem, da palavra e do som. Que se transformam em uma sinfonia ao relatar a importância de se preservar, cuidar; e do amor destes por esta árvore que é um dos símbolos de identidade nacional, que, porém, foi esquecida por sua maior platéia: os brasileiros.
Em suma, este filme traduz a relação de um instrumento musical, uma árvore, a ecologia e a história do Brasil.
O Diário do Rio acredita que este deve ser um documentário assistido por todos os cariocas, brasileiros, pois resgata partes da história do Rio, do Brasil, e sobretudo é um chamado para que não esqueçamos desta árvore simples, mas tão valiosa, não somente no seu valor material, mas sobretudo no seu valor memorial, pois ali reside a identidade nominal da nossa nação.