
Rua do Passeio, 56. Para muitos cariocas, um endereço que traz memórias. Um ponto de referência que atravessou o tempo, seja pelo letreiro vermelho que brilhava nas noites ou pelo elegante relógio art déco — que rivaliza com o da Central do Brasil—, e que permanece na memória afetiva da cidade. Debruçado sobre o Passeio Público, projeto do Mestre Valentim no século XVIII, o antigo Edifício Mesbla – que por mais de seis décadas foi endereço da saudosa loja de departamentos (que nasceu na Rua da Assembleia) – começa agora a escrever um novo capítulo, com a transformação de suas instalações em um empreendimento residencial.
A missão para essa reinterpretação vem de Andre Kiffer, CEO da Inti, nova proprietária do prédio. A construtora comprou o icônico edifício em janeiro deste ano, por R$ 21,7 milhões, e desde então a equipe tem se dedicado a adaptar a construção – que foi projetada na década de 30 para ser um residencial – para seu retorno a essa vocação original.
Saudosa Mesbla

A antiga loja de departamentos foi sinônimo de inovação e prestígio no Rio. Era um evento ir até a Mesbla. Se consolidou como uma das maiores do país na década de 50. O prédio de 8 mil metros quadrados e 16 andares era um verdadeiro monumento. Apesar de ter outras filiais espalhadas pelo município, a ‘The Best’ era a loja matriz da Rua do Passeio — praticamente um shopping. As vitrine exibiam até carros. No topo do prédio, um restaurante panorâmico foi quase que um precursor para os famosos e populares rooftops cariocas. A loja fechou no final dos anos 90, após uma crise interna, e desde então o prédio foi usado como um edifício corporativo.
Lançamento programado
Com a aquisição do prédio, a Inti planeja transformar a estrutura em 191 apartamentos de alto padrão, com metragens que variam de 33 m² a 69 m², divididos entre estúdios, double suites e quartos e salas. A construção seguirá o estilo retrofit, ou seja, adaptando o que já existe e preservando a essência histórica do edifício. A convenção interna já acontece na semana que vem, no dia 9 — data na qual será revelada a nova marca do residencial (mantida em segredo) e todos os projetos do empreendimento. Dia 25 será o lançamento comercial, voltado para as vendas das unidades.
Para Andre Kiffer, o desafio de transformar esse ícone é também uma grande oportunidade. “Imagino que será um sucesso. Já há uma pressão muito grande de pessoas interessadas, principalmente por causa da questão do prédio. Ele é icônico, a localização é sensacional. Não há outro edifício que tenha a mesma simbologia que este, o que ele representa para o Centro do Rio.” afirma Kiffer em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO.
O projeto de recuperação inclui, além dos apartamentos, uma série de áreas de lazer que prometem ser um diferencial: no topo, o rooftop terá uma vista deslumbrante do Aterro do Flamengo e contará com uma piscina, um bar e uma área de estar tanto para o dia quanto para a noite. “O rooftop vai ser um diferencial. Não só para os moradores, mas com a possibilidade de ser aberto ao público futuramente. Ele estará pronto caso seja necessário ou desejem explorar externamente. Ele terá essa vocação”, explica Kiffer, demonstrando grande confiança no potencial do espaço.

Além disso, o prédio contará com espaços como salão de jogos, coworking, lavanderia e bicicletário. Na frente, à disposição, o maior estacionamento subterrâneo do Rio. Apesar de não possuir garagem, a empresa garante que não há necessidade. “O público aqui não quer ser refém do carro. Aqui temos metrô, uma vida a pé. Esse é o diferencial. Em poucos minutos, você está em qualquer ponto da Zona Sul.” afirma.
O relógio e o patrimônio
Uma das grandes apostas da Inti, e um dos maiores desafios, será a reativação do relógio histórico, uma das marcas registradas do edifício. Com 100 metros de altura, a torre é um ícone não apenas visual, mas também afetivo. “Manter o relógio funcionando é uma obrigação nossa. Temos um compromisso com o patrimônio”, ressalta Kiffer, destacando que a preservação da fachada também será uma prioridade.

O prédio foi projetado pelo arquiteto francês Henri Paul Pierre Sajous (o mesmo dos Edifícios Biarritz e Tabor & Loreto no Flamengo). A ideia de construir partiu dos próprios donos da Mesbla. Os relógios se tornaram um ícone nos edifícios construídos no período, servindo como uma estratégia inteligente para atrair olhares e gerar visibilidade. Além da imponência arquitetônica, muitos desses prédios abrigavam grandes empresas. Com o relógio no topo, era impossível não olhar para o edifício e associá-lo imediatamente à marca, criando uma conexão duradoura. Acerto mais que garantido.
Impacto para o Centro do Rio
O projeto do Edifício Mesbla não se resume a um simples lançamento imobiliário. Kiffer vê a transformação do prédio como parte de um movimento mais amplo de revitalização do Centro do Rio, um bairro que, após anos de declínio, começa a ganhar novos ares, com mais empresas, novos projetos e até investimentos de fora do estado. “O Centro tem um potencial de valorização único. Não tem comparação com a Zona Sul, onde o mercado já está saturado”, afirma Kiffer, com otimismo. “Temos muitas possibilidades de crescimento, com projetos em áreas como a Uruguaiana e a Pedra do Sal, além de toda a revitalização ao redor da Praça Mauá. Há um movimento de transformação que vai fazer com que o Centro se torne, em breve, o lugar com maior valorização no Rio.”

Para quem adquirir um dos apartamentos, há ainda benefícios fiscais significativos, como a isenção de IPTU e a não cobrança do ITBI devido à incentivos do Reviver Centro. “Esses benefícios são um grande atrativo para quem está buscando um imóvel no Centro. Além disso, sabemos que o perfil dos interessados inclui tanto pessoas que querem morar quanto investidores de fora do Rio. A cidade está atraindo cada vez mais gente de outros estados, e o Centro, especialmente com empreendimentos como o nosso, tem sido visto como um excelente lugar para investir”, afirma Kiffer.
“Aqui não há vista ruim. Se você está na frente, tem a Baía de Guanabara, o MAM, o Aterro. Se está no fundo, tem o Cristo, os Arcos da Lapa, os palacetes de Santa Teresa”. Com entusiasmo, ele compara o fenômeno do ‘Gate Santos Dumont’, que vendeu seus 500 estúdios em apenas dois dias, e acredita que o mesmo pode acontecer com o Mesbla.
Aposta da Inti no Centro
A grande aposta no Centro do Rio é a nova identidade que o CEO deseja imprimir na construtora, que, desde 2016, se concentrou no mercado de lançamentos exclusivos da Zona Sul. De olho no sucesso, Kiffer já garantiu futuras empreitadas no Centro. A empresa já desenvolveu outros projetos na região, um na Praça Mauá, já fechado, e outro mais próximo à Cinelândia. No entanto, ele ressalta que esses não são edifícios icônicos como o Mesbla. “O Centro da cidade é onde o Rio tem, de fato, o maior potencial de crescimento. Se as coisas acontecerem como estão programadas, é o lugar com um potencial de valorização muito diferente do da Zona Sul. Lá, o espaço para crescimento é mais limitado. O Centro tem muitas possibilidades. Com certeza, muitas empresas estão começando a olhar o Centro com mais atenção, negociando terrenos, aprovando projetos, para lançar ainda este ano ou no próximo.”

“É inegável o renascimento do Centro do Rio de Janeiro, com comércio, gastronomia, cultura e também com a chegada desses novos projetos residenciais. Com a vista que este edifício terá e a proximidade com o Passeio Público, o sucesso é absolutamente garantido. Sem contar com a beleza da construção. Não temos dúvida de que os apartamentos serão vendidos quase que imediatamente”, garante Cláudio Castro, presidente do Conselho de Renovação do Centro do Rio da ACRJ.