Os escritos nas paredes ainda denunciam a luta. Os muros não se calam. Em 2014, em meio às obras para os Jogos Olímpicos de 2016, a Vila Autódromo foi cenário de remoções promovidas pela Prefeitura do Rio para a construção do Parque Olímpico. Das mais de 500 famílias que viviam no local, restaram apenas 20, que resistiram. A comunidade foi quase toda removida, 97%, para ser exato.
As remoções começaram em março de 2014. Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro aconteceram dois anos depois, em 2016. Passados cinco anos, as famílias que resistiram ao intenso processo, que teve diversas ações truculentas por parte do Poder Público, olham para trás e comparam o passado com o presente. A Vila Autódromo existe há cinco décadas.
Durante as remoções foram muito comuns os conflitos entre a Guarda Municipal, a Polícia Militar e moradores. Um guarda chegou a se infiltrar na casa de Maria da Penha Macena e Luiz Cláudio Silva, lideranças locais, para obter informações sobre os moradores que resistiam. Um vídeo da Agência Pública mostra o ocorrido.
Maria da Penha, no dia três de junho de 2015, teve o nariz quebrado por um golpe de cassetete em uma das tentativas de reintegração de posse. Outros sete moradores foram agredidos pela Guarda Municipal nesta ocasião. Em outras situações, a abordagem da Guarda não foi diferente.
Outros relatos são alarmantes. Moradores e ex-moradores contam que as ações da Prefeitura foram destruindo as casas próximas e as residências dos que queriam resistir ficaram rachadas, com esgoto entrando pelos cômodos. As famílias removidas receberam indenização e/ou ganharam um apartamento no condomínio Parque Carioca, do Minha Casa, Minha Vida, em Jacarepaguá, próximo à Vila Autódromo, construído especialmente para isso.
A última residência da antiga Vila Autódromo foi demolida em maio de 2016. As novas casas feitas para as famílias que resistiram, na mesma região onde ficava a grande Vila, foram erguidas em dois meses. “Foi rápido, porque tinham pressa para mostrar que a comunidade estava urbanizada”, diz Maria da Penha, que foi retratada em grafite na Gamboa, na Zona Portuária do Rio.
Luiz Cláudio Silva, marido de Maria da Penha, frisa que atualmente as condições de vida de quem ficou na Vila Autódromo, em relação à infraestrutura, saneamento básico e calçamento melhorou, mas a parte “social”, da convivência, faz falta: “A gente encontra os antigos moradores nos BRTs, mercados, metrôs e sempre tem aquela relação boa, mas bem distante”.
Outro ponto, segundo destaca Luiz, que pesa para os moradores que resistiram na Vila Autódromo é a segurança. “Sobre o Poder Público auxiliar a gente, nós recebemos coletas de lixo, iluminação é reparada quando a gente solicita, tem aquela demora, que é tradicional desses serviços, mas resolvem quando a gente precisa, só que a gente aqui fica meio inseguro. Não vemos uma viatura da Polícia na área. Já tivemos vários furtos aqui nas casas, nossos muros são baixos. Principalmente quando tem evento aqui do lado, no Parque Olímpico, tem uma grande movimentação de pessoas na região, gente que vem de vários lugares diferentes, e a gente fica bem preocupado”.
No último sábado, 11/12, foi realizado no Parque Olímpico, erguido onde era a Vila Autódromo, o festival Festeja. Outros eventos, como o Rock in Rio e competições esportivas acontecem no local.
Além disso, e não menos importante, à época das remoções, foi feito um acordo com o Poder Público que garantiria a entrega das casas e a construção de uma quadra poliesportiva, uma sede para a associação de moradores, um centro cultural e um parquinho, fora a entrega da documentação, título de posse, individual das casas (atualmente, os moradores só têm o documento coletivo). Apenas a parte das casas foi cumprida, a primeira etapa. A segunda fase, prevista para ser concluída ainda em 2016, não se concretizou, derrubada por liminares na Justiça. A questão se estendeu da última gestão Eduardo Paes, passou pelo governo Marcelo Crivella e segue na nova prefeitura de Paes. As famílias esperam as melhorias.
Quanto aos moradores que saíram, os relatos são divididos. Alguns se mostram arrependidos de terem deixado a Vila Autódromo e aceitado um apartamento no empreendimento do Minha Casa, Minha Vida, outros, que resistiram mais tempo e conseguiram o apartamento e uma indenização se mostram mais satisfeitos.
“Têm uns que até brincam com a gente, perguntando se a gente não arruma um terreno por aqui”, conta Luiz.
Ao lado da Lagoa de Jacarepaguá, a Vila Autódromo já foi lar de muitos pescadores. Contudo, das 20 famílias que resistiram, nenhuma vivia da pesca. Todavia, alguns dos que viviam e tiveram que sair de suas antigas casas para morar em um apartamento acabaram falecendo.
“Recentemente, dois que moravam aqui e tiravam o sustento da pesca morreram. A gente não pode afirmar, mas imagina que por desgosto depois de toda atrocidade que foi feita aqui. Imagina, você viver da pesca, ao lado de uma lagoa e ter que passar a morar num apartamento de 55 metros quadrados? Deve ser muito depressivo. Outros que moravam aqui também morreram pouco tempo depois de toda covardia que o Poder Público fez com a gente aqui, mesmo sendo uma comunidade legalizada. Não podemos afirmar, mas é muita coincidência algumas pessoas terem morrido após tudo o que passamos aqui“, afirma Luiz.
Mais de sete anos após o início das remoções e cinco depois da realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que teve no Parque Olímpico a maioria das competições esportivas, qual sentimento ficou nas 20 famílias que resistiram às remoções?
“Falando por mim, pela minha família, a sensação de ter ficado, resistido, permanecido aqui, independente de valores oferecidos, é a sensação de vitória. Tendo em vista que travamos uma luta bem difícil contra o sistema de poder, de políticos, empresários, empreiteiras, nosso objetivo acabou sendo alcançando. Mesmo que não tenha sido como a gente queria, porque a gente queria ficar na nossa antiga casa, mas conseguimos o que queríamos. Conseguimos meio que na marra, na luta, na insistência, na resistência, ter nosso direito respeitado. Tudo o que passamos aqui foi coroado com a nossa permanência no território. Para nós é uma sensação incrível ter vencido esse sistema porque sabemos que normalmente as comunidades não vencem essas lutas. Valeu a pena ter resistido a tudo o que passamos aqui e acredito que esse é o sentimento da maioria que ficou”, concluiu Luiz.
O pior disso tudo e que o Rio perdeu um autódromo ,que o Prefeito e Governador que na época falaram que iam construir outro ,cade até hoje o Rio espera a tal promessa que nunca vai ser comprida. O ex givernador esta em cana eo prefeito nem toca no assunto prefere agradar o padrinho de brasilia.
O que não foi contado e que as famílias removidas não ganharam um “apertamento” pelo Programa Minha Casa Minha Vida, mas sim uma dívida com a Caixa Econômica Federal, além de um imóvel repleto de problemas estruturais. A Justiça Federal está abarrotada de processos sobre o tema…
esses dias na band news o dudu disse que todo mundo ali era gentre abastada lutando pra ficar em lugar nobre – negou tudo