Antes do advento do gelo, as bebidas eram tomadas na temperatura ambiente, desde o suco natural de frutas até os chás e infusões. Água fresca era um tesouro, retirada das fontes naturais do Alto da Boa Vista ou dos rios da época, como o Maracanã e o Carioca, que acreditem ou não, ainda eram limpos naquela época. E claro, a água vendida nas ruas era uma alternativa, mas nem sempre proporcionava a sensação de frescor desejada.
Garrafas que os refrescos eram comercializados na época (Imagens da Internet)
Foi então que a criatividade entrou em cena, misturada à experiência europeia. Bebidas eram refrigeradas naturalmente, guardadas em locais úmidos como caves ou em recipientes que mantinham a temperatura baixa. Além disso, bebidas fermentadas como cerveja e vinho eram consumidas em temperatura ambiente ou ligeiramente refrigeradas em porões.
Surge então uma alternativa barata aos sucos e que até hoje faz um sucesso danado em toda pastelaria e padaria pela cidade: os refrescos.
Os refrescos eram bebidas muito açucaradas com leve toque frutado. Nessa época fizeram sucesso com sabores, alguns peculiares, como orxata, vinagre de framboesa, laranjada, capilé e limonada. Na época, eram verdadeiros alívios para o calor, proporcionando uma sensação de frescor quase imediata. Curiosamente, o refresco era a bebida da moda, como atesta uma notícia do Diário do Rio de 1821:
“Na rua do Ouvidor N° 154, que era antes N° 9, ha para vender os refrescos seguintes: orxata, tamarindos, vinagre de framboaze, capilé, laranjada; limonada, tudo em calda ou xaropes engarrafados feitos com a maior perfeição, também ha caixinhas de soda Water: e agoa imperial com botijas pequenas o liquido a 40 réis e sendo o casco a 100 réis.” (Jornal Diário do Rio de Janeiro , 13/11/1821).
E, mais uma vez, a rua do Ouvidor, a rua mais elegante do Rio, segundo Machado de Assis (e eu concordo até hoje), não era apenas a rua da moda, mas também o paraíso dos refrescos!
Mas, o verdadeiro alivio dos cariocas foi só em 1834, data que o gelo finalmente aportou no Rio, junto com o sorvete, trazido dos Estados Unidos. O primeiro carregamento chegou nos porões dos navios, cuidadosamente envolto em serragem e enterrado em covas profundas na Rua de Santa Luzia.
Os cariocas, no início, estranharam o gelo, reclamando que queimava a boca, mas o sorvete, ah, esse foi um sucesso imediato!
Os hábitos de consumo mudaram drasticamente com o advento do gelo, mas uma coisa que não mudou foi o calor escaldante que passamos nessa cidade.
E você, qual bebida tem sua preferência para enfrentar esse calorão de verão?