Recentemente, ao ler o artigo “Santos-Dumont em Paris: um encontro emocionante na Champs-Élysées – https://diariodorio.com/santos-dumont-em-paris-um-encontro-emocionante-na-champs-elysees/#google_vignette, uma competente colega compartilhou comigo uma informação pessoal que chamou minha atenção informando que seu pai, Edgar James McLaren, foi um dos pilotos fundadores de uma companhia chamada Aero Geral Ltda. Como não conhecia essa empresa e, sendo um curioso contumaz, decidi pesquisar mais sobre ela. O que descobri foi fascinante, e compartilho aqui o resultado dessa pesquisa.
A Aero Geral Ltda foi fundada em 1941, no auge da Segunda Guerra Mundial, inicialmente com o objetivo de operar na região amazônica. No entanto, a empresa só começou a voar efetivamente em fevereiro de 1942 com um Monocoupe 90A, um monomotor que não possuía condições ideais para as rotas que a empresa pretendia cobrir. Por isso, a Aero Geral enfrentou dificuldades e interrompeu suas operações em 1944.
O recomeço da empresa só ocorreu em janeiro de 1947, quando Edgar James McLaren, pai de minha colega e ex-piloto da Panair do Brasil, decidiu retomar o projeto com novos parceiros. McLaren foi um dos grandes responsáveis pela reestruturação da Aero Geral, juntamente com Custódio Netto Júnior, também ex-piloto da Panair, e Joaquim Fontes, ex-gerente de estação da Cruzeiro do Sul. Eles planejaram usar aeronaves anfíbias para criar novas rotas na região amazônica, mas, com o tempo, expandiram suas operações ao longo do litoral brasileiro.
Em março de 1947, a Aero Geral começou a operar voos regulares entre Natal e Santos, utilizando quatro Catalinas anfíbios, adquiridos como excedentes de guerra da Base Aérea de Natal. A rota costeira foi um sucesso, levando os empresários a expandir a frota com aeronaves maiores e mais adequadas, como um Curtiss C-46 Commando e dois Douglas DC-3, que possibilitaram uma maior cobertura de cidades ao longo da costa brasileira.
Os voos da Aero Geral não apenas conectavam o Rio de Janeiro a Natal, mas também faziam escalas em cidades como Vitória, Salvador, Aracaju, Recife e João Pessoa, entre outras. Essa malha aérea foi fundamental para a integração de regiões do país, especialmente em uma época em que as estradas eram limitadas e o transporte aéreo oferecia uma solução rápida e eficiente.
Apesar de sua importância e das conquistas iniciais, a Aero Geral enfrentou dificuldades operacionais, culminando no acidente de um dos Catalinas em 2 de junho de 1951, na costa da Bahia. Esse episódio levou à paralisação das atividades das outras três aeronaves restantes.
No ano seguinte, em maio de 1952, a empresa foi vendida para a Varig. Com a aquisição, a Varig absorveu as rotas e os ativos da Aero Geral, incluindo as aeronaves Curtiss C-46 e Douglas DC-3. Essa fusão permitiu à Varig expandir suas operações no Brasil e fortalecer sua posição no mercado, especialmente diante da concorrência de companhias como a Panair do Brasil e a Cruzeiro do Sul. A absorção das operações da Aero Geral contribuiu para que a Varig ampliasse sua presença em rotas regionais e se consolidasse como uma das maiores empresas de aviação do país.
A história da Varig, por sua vez, foi marcada por um crescimento significativo nas décadas seguintes, até enfrentar dificuldades financeiras graves a partir dos anos 1990. Em 2006, após uma longa crise, a Varig acabou sendo dividida e parte de suas operações foi adquirida pela Gol Linhas Aéreas. Assim, embora a Varig tenha desaparecido como marca independente, a absorção da Aero Geral em 1952 marcou um momento de expansão crucial em sua trajetória, que também faz parte da rica história da aviação brasileira.
Embora tenha encerrado suas atividades em 1952, a Aero Geral Ltda deixou um legado significativo na aviação brasileira. A empresa foi uma das pioneiras ao operar rotas regulares ao longo da costa brasileira, conectando cidades e ajudando a integrar o território nacional. Edgar James McLaren, conhecido como ‘tio Mc’ entre os pilotos por sua longa experiência como instrutor de voo, e seus parceiros desempenharam um papel fundamental nesse processo, usando aeronaves anfíbias e outras tecnologias inovadoras para superar os desafios da época.
Descobrir que o pai de uma colega, Edgar James McLaren, foi um dos fundadores da Aero Geral Ltda me levou a explorar um capítulo fascinante da história da aviação brasileira. A Aero Geral, apesar de ter existido por pouco mais de uma década, contribuiu enormemente para o desenvolvimento da aviação comercial no país, conectando regiões e pessoas em um momento crucial de nossa história. Esse legado merece ser lembrado e celebrado, não apenas como um feito empresarial, mas também como um marco na integração nacional por meio dos céus.