É alarmante os casos de alagamentos em logradouros públicos da Ilha do Governador em decorrência das chuvas dos últimos meses. Esse fato entrou na rotina dos insulanos a cada gota – praticamente – que cai do céu. Além dos exemplos históricos, como a Estrada da Bica e trechos da Estrada do Galeão, novas ruas entraram no quadro de atenção, ligando o sinal de alerta para o poder público municipal. Ao que se sabe, através de denúncias de moradores e registros fotográficos a cada temporal, é que os elementos promotores desses estragos poderiam, muitas vezes, ser minimizados, prevenindo os transtornos causados junto a população.
Por outro lado, no que tange aos problemas mais complexos, cabe às autoridades (emergencialmente!) planejarem projetos que visem intervir na rede de infraestrutura local, modernizando-a e adequando-a a conjuntura social atual da nossa região. Sugiro que esta deverá ser uma das metas principais a ser buscada pelas instâncias políticas, tanto no que diz respeito aos nossos vereadores – representantes legítimos da nossa localidade – assim como os próximos prefeitos que governarão nossa cidade.
Temporal de dezembro na Ilha derrubou mais de 70 árvores
O forte temporal que atingiu a Ilha em dezembro do ano passado, resultando numa catástrofe ambiental com a queda de mais de 70 árvores e consequências devastadoras, colocou em evidência os pontos críticos de drenagem da região. Na ocasião, além das ruas já citadas, outros endereços não tiveram condições de absorver a grande quantidade de água que caiu, aumentando o caos para moradores, motorista, comerciantes etc.
Evidentemente, este temporal foi completamente atípico, reforçando a tese de que pouco poderia ter sido evitado na ocasião. Contudo, os efeitos das mudanças climáticas tornaram-se cada vez mais frequentes em nosso dia a dia e tais chuvas torrenciais despontam como tendências para o futuro. Ou seja, é preciso as cidades se adequarem a esta nova conjuntura climática e se precaver.
Programas da Prefeitura já apresentam problemas
No caso insulano, é justo destacar algumas obras recentes que vieram ao encontro desses ajustes. O Programa Sena Limpa, do Governo do Estado, e a reurbanização ambiental (com implantação de galeria de cintura) da Praia da Guanabara, executado pela Prefeitura, são exemplos disso. Porém, ambos já apresentaram problemas em meio às chuvas, fato que não deveria ocorrer, tendo em vista que seu principal propósito é de drenagem das águas pluviais, através de imensas galerias de cintura.
O caso da Praia da Guanabara, na Freguesia, é mais emblemático. A obra não tem um ano de inaugurada e basta cair um “chuvisco” que a via alaga, dificultando o trânsito de veículos e o acesso dos moradores às suas residências. Algo inconcebível!
Há quem atribua as causas a quantidade e ao tamanho das galerias distribuídas ao longo da orla. Por outro lado, existe também quem ataque a ausência de limpeza das mesmas. Tanto um erro quanto o outro não são aceitáveis diante de um quadro de instabilidade climática e crescente incidência de chuvas.
Ao mesmo tempo, a solução desses problemas também não deverá diminuir o ímpeto das autoridades políticas em solucionar essa difícil condição em que nos encontramos, mantendo o foco em empreendimentos maiores que possibilitem uma modernização de nossa infraestrutura.
PEU da Ilha representa um perigo para a região
O chamado PEU da Ilha do Governador (Plano de Estruturação Urbana), apesar de representar um perigo para a região no que diz respeito ao adensamento populacional, traz uma boa proposta para esse problema (embora pouco explorada). Em seu Capítulo II, Seção VI, Subseção II, onde trata “Das Áreas Frágeis de Baixada”, o projeto de lei menciona, no parágrafo único, o Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais (PDMAP), alegando ser elaborado para os bairros integrantes do PEU, em que estabelecerá o conjunto de intervenções a serem efetuadas nas bacias de drenagem da região e que poderá contemplar restrições adicionais aos parâmetros estabelecidos no PLC 107/2015, principalmente quanto à cota de soleira das edificações, permeabilidade do solo etc.
Fato é que, com PEU ou sem PEU, o PDMAP tornou-se uma necessidade, pois identificará os pontos críticos de drenagem e atuará em cima deles. São políticas e projetos de melhorias emergenciais para a Ilha do Governador que devem entrar na lista de prioridades dos nossos legisladores e secretários de Estado. Se a lógica continuar sendo a de privilegiar ações fáceis, como asfaltar ruas e implantar quebra-molas (pois são mais convenientes eleitoralmente), em detrimento de grandes projetos modernizadores, continuaremos penalizados pelo avanço das mudanças climáticas.
Espero que este alerta que faço aqui seja assimilado e refletido por quem de direito. O desafio é maior para os nossos governantes? Sim! Porém, temos nossa parcela de responsabilidade enquanto sociedade civil, evitando jogar lixo nas ruas, acionando os órgãos públicos para a manutenção dos serviços, optando por modais menos poluentes para se deslocar etc. O momento é de unir esforços, mas principalmente de alertar. O desenvolvimento físico urbanístico dos bairros da Ilha do Governador depende dessa mudança dos rumos.