Alberto Gallo – A empresa pode ser um caminho para construção do bem comum?

O Rio de Janeiro possui uma forte base empresarial. E nestes tempos em que as ideologias colocam a figura do empresário como malfeitor que só pensa no lucro é possível construir um caminho da solidariedade através das empresas e melhorar a empregabilidade no RJ?

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A visão contemporânea dos empresários, os coloca na posição de vilões, aqueles detentores do capital e que exploram o trabalhador com apropriação do valor de seu trabalho, visando acumulação de riqueza. Esta visão vem da ideologia marxista que apesar de quase bicentenária ainda seduz de uma forma quase pueril e simplista aos jovens do século 21. E de fato a contribuição de Marx é importante como uma corrente do entendimento da economia e que tem evoluído com propostas mais modernas e contemporâneas em uma visão que une capital, trabalho e solidariedade; e não necessariamente os coloca como antagonistas.

Yuval Harari, em seu livro “Sapiens, uma breve história da humanidade”, destaca que um dos fatores que permitiram o avanço de nossa espécie, foi a capacidade de abstrações coletivas. O autor dá o exemplo da formação de uma empresa sociedade anônima, que é a crença comum de que um conjunto de pessoas pode se cotizar para juntos empreenderem economias, esforços e criatividade para um empreendimento comum, seja montar um carro, construir moradias ou oferecer uma solução no ambiente virtual. Harari descreve como os seres humanos passaram de sociedades baseadas em pequenas comunidades de caçadores-coletores para estruturas sociais mais complexas, incluindo o desenvolvimento de sistemas econômicos. Ele explora como os seres humanos são capazes de criar instituições abstratas, como dinheiro, leis e empresas, que desempenham um papel crucial na organização e coordenação das atividades sociais.

Empresas desempenham um importante papel nas sociedades modernas, na medida em que transcendem os indivíduos que a compõe, sejam seus acionistas, funcionários ou consumidores. As empresas modernas interagem com toda a sociedade, seja pelos impostos devidos, impactos sociais e ambientais, além de atividade econômica. Mas estas relações precisam ser reguladas pelo ambiente jurídico e institucional. Portanto uma nação só se desenvolve quando há harmonia entre os setores público e privado.

E o ponto que pode surpreender a muitos é que embora a união de capital e trabalho devam ocorrer num ambiente de diálogo e construção do entendimento, a visão da Doutrina Social da Igreja manifesta que a pessoa humana prevalece sobre os instrumentos, portanto o primeiro dever do empresário deve ser a dignidade e do reconhecimento de seus trabalhadores. As decisões do empresário devem ser sempre orientadas para o ser humano. E a surpresa está justamente porque os mais liberais e metacapitalistas constroem a visão de que o trabalhador é só mais uma peça da engrenagem produtiva. Ledo engano.

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Numa perspectiva moral e ética, a figura humana é colocada como princípio e fim de toda a sociedade. Portanto a existência das empresas deve existir para servir aos seres humanos. É justa a remuneração dos riscos e do capital do empresário, mas essa justiça não deve se sobrepor à injustiça de pessoas exploradas. A primeira entidade a colocar a questão da participação nos lucros, foi justamente a Igreja, juntamente com outros pontos como o respeito aos direitos e a dignidade dos trabalhadores, garantindo condições justas, salários adequados, segurança no emprego, oportunidades de desenvolvimento.

A Doutrina Social da Igreja é um caminho alternativo às ideologias que instrumentalizam à pessoa. Um caminho da economia de solidariedade, das pequenas comunidades e do cuidado ao meio ambiente. Um caminho que pode surpreender aos que creem que a solução do desenvolvimento se dará por governos centrais poderosos, por empresa globais e da sociedade de consumo ou de ideologias que transformam o ser humano em uma peça sem liberdade.

O estado do Rio de Janeiro possui uma forte base empresarial. Segundo a Firjan, nosso estado é um dos líderes nacionais da construção civil, da indústria de transformação, naval, petróleo e farmacêutica. O potencial de nossa região é fantástico para desenvolvimento de uma base de exportação em função dos portos e da logística instalada. Neste relatório do 1º semestre, a Firjan informa da criação de quase 90 mil vagas e sabemos que com mais confiança e alinhamento de lideranças, muitos milhares de vagas poderão ser incorporados a economia, além da criação de um ambiente favorável para novos negócios, especialmente na base da pirâmide.

Para concluir, temos muito que aprender na dinâmica do encontro e diálogo. Uma sociedade progride com encontro de vozes, com a construção da confiança e solidariedade. A história não avançou em nenhuma nação do mundo pela luta de classes, ódio e revoluções onde os lideres “progressistas” tomam as cadeiras dos antigos oligarcas. Essa situação tão bem desenhada no livro “Revolução do Bichos” de Orwell, mostra da ilusão das revoluções proletárias e das enganações dos lideres messiânicos que após alçarem o poder se mantem pelos discursos carismáticos e vazios que os convertidos aplaudem. Líderes partidários que se tornam reis babilônicos com luxos e mordomias. Os novos faraós.

E o que se busca é uma sociedade com dinâmica de desenvolvimento, empresários e trabalhadores em um pacto de progresso, estabilidade, empregos, renda e ambiente favorável a inovação. Um governo que conduza e articule as melhores políticas públicas e proteja aqueles que estão fora do sistema. Um governo que se coloque à serviço e não busque a dominação de um partido e de seus juristas autoritários.

O Estado do Rio de Janeiro possui todas as condições para construir duas décadas de muito progresso. Mas é preciso um diálogo inclusivo.

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