Alessandro Valentim – Carnaval: uma invenção coletiva das ruas ao sambódromo

A folia sob a visão de quem valoriza os detalhes da arte

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Milhares de foliões de todo o mundo lotam a Marquês de Sapucaí para festejar o Carnaval com uma das maiores manifestações culturais já vistas, as escolas de samba. Já a essência da época pode ser vista também entre as avenidas e vielas de toda a cidade com os blocos e festejos de rua. Entre beijos, pulos e coros coletivos é estampada a verdadeira magia do Carnaval: viver a vida como se ela fosse acabar na próxima quarta-feira de cinzas.

Para que os bairros estremeçam com os cordões, artistas preparam as fantasias que vestirão os sonhos dos foliões. Cada peça é pensada para dar brilho à festa. Não é apenas um detalhe! São as fotos que estamparão os jornais, a imagem cultural para o mundo, a lembrança do folião morador e do turista desbravador. É a nossa cidade aos olhos globais. Não é só trabalho, é magia, é Carnaval.

Cleiton Almeida é formado em Artes Visuais e Cênicas. Apaixonado desde muito menino por Carnaval, dedica seu trabalho mais prazeroso à criação carnavalesca, desde as artes de rua até a grandiosidade das escolas de samba.

‘’O carnaval no Rio de Janeiro é uma invenção coletiva, uma circulação de saberes que se dão na prática. Entendo meu trabalho como uma pulsão nesse movimento. Quando se adereça uma peça, por exemplo, não se trata de um movimento mecânico de colar um material no outro. Somos corpos sensíveis, o gesto de adereçar desperta sensos estéticos, tentativas de causar ‘maravilhamento’ no outro. Com a maquiagem acontece algo similar. Maquiar é mediar, através das formas e das cores, a conexão entre o corpo do componente e o outro que ele apresentará no cortejo. É a tentativa de tornar visível um encantamento que já está no corpo’’, afirmou Cleiton.

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Tamanha ousadia e criatividade, escreveu a sinopse para o próximo carnaval do Arranco, que homenageará a Doutora Nise da Silveira.

‘’Quando falamos sobre a escrita, isso se torna ainda mais latente. Ao escrever um enredo pretendo que a narrativa transforme de algum modo as pessoas, que elas se sintam mexidas, provocadas. Tem que ter afetação. Tento contribuir com o carnaval desse modo, provocando alguma coisa nas pessoas por meio dos múltiplos meios da arte’’, completou o artista.

Questionado sobre a importância do investimento em trabalhos como os seus, Cleiton Almeida destacou uma realidade. Valorizar o Carnaval fomenta a economia.

‘’Quando uma escola valoriza a maquiagem como elemento importante para a visualidade do desfile, abre espaço para que diversos maquiadores possam trabalhar. Quando um bloco produz fantasias e adereços, coloca dezenas de aderecistas em atividade’’, disse Cleiton.

Tudo é Carnaval, desde os blocos às escolas, mas nada é igual. Há quem desfrute apenas dos sambas-enredo na Sapucaí, mas que não se propõe a pular nos blocos. Desse modo, também há quem prefira os festejos nas ruas e não se interesse pela beleza dos carros alegóricos. E tá tudo bem, não é mesmo? O importante é festejar.

‘’São carnavais bem diferentes, porque são propósitos bem diferentes. O carnaval de rua tem uma energia libertária e caótica que não cabe na Sapucaí. Talvez algo que os conecta, quando falamos do fazer artístico manual, da visualidade plástica, seja o desejo de conquistar o outro. É um flerte que se dá pela materialidade. Seja nas ruas, seja na Sapucaí, o objetivo das fantasias e das alegorias é fazer com que as pessoas se apaixonem, que fiquem com os olhos brilhando diante delas’’, explicou o sambista.

Cleiton Almeida fala por milhares de trabalhadores que dão vida aos sonhos de foliões e vestem a cultura carioca. São pessoas como ele que escrevem a história do Carnaval ano após ano e que fortalecem o Rio de Janeiro como uma potência econômica e turística de forma global. O maior espetáculo da Terra rende lucros para os fluminenses sim e é preciso investir e valorizar os profissionais que fazem mais do que a festa, o resultado acontecer.

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