A cidade toda está passando pelo mesmo processo. Parece a fase da negação de notícia ruim. Muito parecido com o que acontece com alguns pacientes quando recebem a notícia de uma doença grave. O primeiro comportamento é a negação.
Depois de ter feito, quase no susto da notícia, o isolamento mais restritivo que chegou a 85% de redução do fluxo nas ruas, agora a população prefere negar a epidemia e já afrouxou as medidas de confinamento. O aumento do número de pessoas nas ruas indica o tamanho da tragédia que está por vir.
Não vou discutir aqui o tipo de isolamento. Todo o planeta entendeu que o isolamento é necessário. Cada país faz o tipo que pode e que considera melhor para a sua realidade.
Mas é bom lembrar que tudo o que for feito hoje terá consequências até quatro semanas depois. Se voltarmos à rotina muitos mais vão morrer. Se ficarmos em casa menos pessoas serão contaminadas.
Muitos governos começaram com uma estratégia e a mudaram e continuam mudando. Até mesmo Singapura que, no primeiro momento, foi exemplo de sucesso no combate à epidemia, esta semana começou a ter mais casos por dia e vai ter que fazer ajustes em sua estratégia e suspender as aulas.
Ou seja, provavelmente essa será a realidade em todos os países, mesmo após o controle inicial da doença e até que a vacina seja descoberta: viver um dia após o outro, fazendo os ajustes e encontrando as melhores soluções.
“O melhor remédio é aquele que existe”. De preferência o mais específico e que cause menos efeitos colaterais. Não precisa ser médico para saber disso. Mas não adianta querermos um remédio que não temos.
No Brasil, por conta de seu tamanho, desigualdade, falta de um prontuário único e deficiência crônica no sistema público de saúde, entre outros problemas, infelizmente o isolamento mais restritivo possível ainda é o único remédio disponível até que medicamentos e vacinas estejam liberados para uso.
Volto um pouco no tempo. A partir de 2011 tive uma atuação muito forte na denúncia e na cobrança de soluções para o problema da tuberculose no Rio. Presidi a Frente Parlamentar de Combate à Tuberculose, fiz audiências públicas, convoquei autoridades, escrevi artigos, fiz dezenas de publicações e vídeos. Nossa cidade é uma das campeãs em número de casos e de mortes por tuberculose. O adensamento, a falta de luz solar e de circulação do ar nas casas e a desordem das favelas limitam os resultados das iniciativas em saúde publica no combate ao bacilo. Sua associação com o HIV é desastrosa. A Rocinha é a favela que tem a maior concentração desses pacientes identificados pelo sistema público de saúde.
Parece que a epidemia chegou lá e pegou a população em plena fase da negação. Depois de um isolamento mais restritivo inicial passou a negar a importância da doença, a questionar a necessidade de isolamento e saiu de casa. Pois bem, os primeiros óbitos da covid-19 começaram a ser contabilizados. A expectativa é que a sequência não será nada boa. Pacientes com tuberculose+aids+covid-19 são grupo de alto risco e terão menos chances.
O caso da Rocinha provavelmente se repetirá em todas as demais favelas da cidade. Aqui há favelas em todos os bairros, inclusive naqueles bairros com maior concentração de idosos que também são mais vulneráveis e fazem parte do grupo de maior risco. A gente sabe que no Rio a cidade formal se confunde com áreas favelizadas. O vírus entrou devagarinho pelo asfalto mas vai subir o morro correndo e voltará em maior número para contaminar quem ainda resistir no resto da cidade.
Pessoas que argumentavam contra o isolamento já começam a ser vítimas do vírus. É o caso do pastor americano London Spradlin que morreu há poucas semanas vítima da covid-19 e que, em seus sermões, pregava fortemente contra as medidas restritivas, dizendo que tudo era histeria.
Por isso é importante que mantenhamos um isolamento o mais restritivo possível e periodicamente reavaliemos a necessidade de estendê-lo ou abrandá-lo. É também fundamental que o Governo faça chegar à ponta as medidas necessárias para que as pessoas sem renda e sem reservas, muitas delas moradoras de favelas, possam realmente ficar em casa.
Mesmo aqueles que tenham dúvidas sobre a necessidade desse isolamento mais restritivo precisam entender que, na dúvida, é melhor não arriscar. São vidas que correm risco. Como eu disse, o afrouxamento do isolamento restritivo inicial, que levou parcela importante da população de volta às ruas, vai ter consequências graves duas a três semanas depois bem no pico da epidemia.
Portanto não dá para relaxar nesse momento. Fiquem em casa! O remédio doi e é amargo mas funciona e é o único que temos até agora.
Difícil saber quanto voltaremos ao normal. Mas estamos ansiosamente precisando de dias melhores. Pós quarentena só consigo pensar em fazer a minha parte, ir nas urnas e votar em alguém que de fato represente a população carioca, estamos vivendo tempos difíceis e por isso precisamos mudar. Uma cara nova na política que aja de maneira certa e justa. Glória Heloíza, nela podemos confiar! https://www.youtube.com/watch?v=O7b2jR4WVTw&feature=youtu.be
Independentemente dos efeitos danosos provocados pela Covid19, está mais do que na hora de serem revistos os rituais das cerimônias funerais e a forma como enterramos nossos entes queridos.
Na verdade, conforme a pirâmide etária de um país vira de cabeça para baixo, temos que eliminar tanto as multi milenares pirâmides, como os suntuosos mausoléus.
Com o crescimento populacional do século XX (éramos 1 bilhão em 1900 e somos 8 bilhões em 2020) a terra deixou de ser o consumidor de poucos cadáveres, para se tornar um ambiente poluído, espremido pelo crescimento das cidades, seus esgotos e cemitérios cada vez maiores.
A suntuosidade vaidosa dos cemitérios, embora pitoresca e até histórica está deixando de ter sentido e se tornando um estorvo, principalmente para as populações circunvizinhas.
Assim, penso que cidades com mais de 100 mil habitantes deveriam ter crematório municipal e que estes dessem fim aos corpos sem vida dos nossos entes e familiares.
#crematóriojá