Alexandre Knoploch: A Copa do Mundo e seus legados

A população fluminense aguarda, até hoje, um retorno do Poder Público pelos bilionários investimentos de 2014 e 2016

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Pessoas andam pelo centro do Rio de Janeiro | Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

Eis que estamos envolvidos, mais uma vez, pela emoção de uma Copa do Mundo, como espectadores. Desta vez, o país sede, o Catar, não economizou um centavo, e organizou um Mundial que já é considerado o mais caro da história, com investimentos da ordem de 200 bilhões de dólares. Estamos falando do sexto maior PIB do mundo e de um território menor do que o estado brasileiro de Sergipe que detém a terceira maior reserva de petróleo do planeta.

Obviamente a nossa realidade é bem diferente. Quando organizamos a Copa de 2014 e as Olímpiadas de 2016, nossa esperança era reduzir os problemas domésticos de infraestrutura e de transporte — ou, pelo menos, progredir nesse quesito. O setor do turismo também aguardava por um estímulo significativo, impulsionado pelas prometidas melhorias estruturais.

Infelizmente, o que vemos hoje, oito anos após a Copa e seis depois das Olimpíadas do Rio, é o abandono e a piora da mobilidade urbana. Não conseguirmos seguir os exemplos bem-sucedidos dos Jogos de Barcelona, em 1992 — case global de como um grande evento esportivo pode reconfigurar toda uma cidade para melhorar a vida de seus moradores e atrair turistas. Reformada, a capital catalã ganhou uma orla repleta de atrativos e parques olímpicos que viraram cartões-postais, transformando-se em um dos destinos mais procurados da Europa.

Quanto a nós, o que aconteceu com o nosso turismo após 2016? Sabemos que o sonhado incremento não aconteceu. Pelo contrário, vivenciamos a escalada do desordenamento urbano e o desleixo para com as novas obras, sem falar nas denúncias de superfaturamento. A Copa do Brasil, por exemplo, custou 10 bilhões de reais a mais do que o anunciado incialmente. Será que valeu a pena?

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Ao listarmos as obras prometidas como legado para o Rio de Janeiro, constatamos que muitas aguardam melhorias fundamentais, enquanto outras estão simplesmente abandonadas. Talvez o teleférico do Alemão seja o maior símbolo do legado negativo. Vergonhosamente paralisado apenas dois meses após o encerramento das Olímpiadas, havia sido entregue com grande pompa, durante cerimônia, como um presente para os moradores da comunidade.

Entre os pontos positivos, podemos citar o Maracanã reformado e, em parte, o VLT, que, apesar de operativo, cobra altas tarifas. O BRT, por sua vez, ainda aguarda por soluções que acabem com a superlotação, o vandalismo, a má conservação dos veículos e das estações, as falhas mecânicas e os acidentes. A prometida revitalização da zona portuária aconteceu em parte: o propalado projeto Porto Maravilha ainda não decolou.

Entre os nossos acertos, sabemos que os eventos esportivos de 2014 e 2016 transcorreram de maneira tranquila e pacífica, sem incidentes. Sob esse ponto de vista, batemos um bolão. De fato, mostramos para o mundo que temos capacidade de organizar e realizar com alegria eventos gigantescos e receber atletas e torcedores de todo o planeta.

Porém, isso tudo não basta quando pensamos que a maior parte dos recursos veio dos bolsos do povo trabalhador. Afinal, menos de 20% dos bilhões de reais usados para construir ou reformar 12 estádios vieram do setor privado. E a população aguarda, até hoje, um retorno do Poder Público na mesma proporção.

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