A abstenção cresce a cada eleição no Brasil. Em 2020, no último pleito, a pandemia da Covid-19 colaborou para que quase 30% dos eleitores habilitados não comparecessem às urnas. Ainda assim, o índice em um país no qual o voto é obrigatório está acima da média. Em 2018, quando fui eleito com 103.639 votos, mais de 20% dos cidadãos aptos não compareceram às urnas. Naquele ano, quando sequer sonhávamos com uma pandemia que restringisse nossa locomoção, a abstenção foi a mais alta desde 1998. Motivos de doença ou força maior impediram uma pequena parte desses 30 milhões de brasileiros, mas sabemos que a maioria se encontra desinteressada da política.
Tal desinteresse é fruto de uma desilusão que, infelizmente, baseia-se no comportamento reprovável e até criminoso de muitos representantes políticos. No entanto, tampouco podemos desprezar que a falta de participação provém da ideia equivocada — e perigosa — de que a democracia é exercida somente a quatro anos, ao apertamos os botões da urna eletrônica. Ao ignorar seu papel cívico ao longo dos quatro anos de mandato de um parlamentar ou chefe do Executivo, os brasileiros que batem no peito, orgulhosos de não gostarem de política, acabam contribuindo para manter o Estado na atual situação.
A falta de empenho eleitoral se opõe diretamente ao papel civil de cada cidadão.
Na prática, não votar significa simplesmente delegar a outros as próprias escolhas. No momento do voto, coloca-se em primeiro lugar o interesse coletivo, de uma cidade, um estado ou um país, sobre o interesse individual. Se este último prevalecer, estamos diante dos famosos currais eleitorais. Por isso, ao escolher o candidato A ou B, o eleitor assume as próprias responsabilidades. O exercício da democracia somente faz sentido quando se apoia sobre o sentido cívico de pertencimento a uma comunidade, do qual depende a qualidade de vida dos seus membros.
A palavra “democracia” deriva diretamente do termo grego kratos , que significa “poder”, e do termo demos , que significa “povo” – literalmente o poder do povo. Votar livremente — um direito conquistado através de muitas lutas — é uma das formas de expressar o poder popular, mas não a única. Participar do debate político, cobrar dos seus representantes, manter diálogo direto com os parlamentares e fazer parte de movimentos ativos da sociedade civil constituem outras formas de participação direta e ativa do cidadão na política, muito além do pleito.
Porém, abrir mão do exercício do voto equivale a recusar o próprio protagonismo no processo de lutar para melhorar a nação. Quem se recusa a combater perde antes mesmo da luta começar, abrindo mão do direito de reclamar posteriormente de maus legisladores ou de chefes do Executivo medíocres. Quem não escolhe sucumbe à escolha alheia. Cada voto conta, e a junção de todos resulta em um projeto coletivo maior que prevalecerá em nossos destinos individuais e coletivos. Este ano, daqui a dois meses, não será diferente. Por isso, o cidadão deve ponderar todas as opções antes de apertar os botões da urna, pois estará decidindo seu próprio destino — e o de toda a sociedade — pelos próximos quatro anos.
So se transformar todos em ladroes