Alvaro Tallarico: ‘Palavras de Mulher’ é a irmandade das poetas mortas

O encontro de Eneida de Moraes, Carmen da Silva, Clarice Lispector e Hilda Hilst no paraíso

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Palavras de Mulher
A equipe de 'Palavras de Mulher' (foto: Alvaro Tallarico)

Um encontro no paraíso. A reunião de quatro brasileiras marcantes num outro tempo e espaço. Eneida de Moraes, Carmen da Silva, Clarice Lispector e Hilda Hilst conversam sobre a vida (antes da morte). Elas resolvem conversar sobre suas obras e ler trechos de textos de umas das outras, ou seja, esse saboroso espetáculo é um iluminador sarau celeste. Divino. É um papo de mulherer, como uma conversa de bar, mas num outro patamar. Se já existia a Sociedade dos Poetas Mortos, agora temos a Irmandade das Poetas Eternas.

O espetáculo “Palavras de Mulher” é uma ode a grandes escritoras femininas e também feministas. Faz rir e pensar, faz maravilhar. A direção de Sérgio Fonta é dinâmica. A forma como as quatro atrizes interagem entre si e se divertem é bem conduzida, tudo ao redor de um cenário simplesmente minimalista e eficiente. Há um tipo de grande bibelô com várias páginas penduradas. No meio, um móvel que serve para apoio do néctar dos deuses ou melhor, um uísque vindo das mãos de anjos. Também pode servir como topo de carro alegórico.

O intimismo que o Teatro Cândido Mendes fornece facilita a imersão naquele mundo paralelo, naquela ficção irreverente, e com várias críticas sutis (ou não) ao patriarcado. A dramaturgia é da escritora, dramaturga e poeta Rachel Gutiérrezpor e homenageia com inteligência a literatura brasileira, contudo, não somente isso. O espetáculo tem o poder de dar muita vontade de ler aqueles diversos livros citados e muito mais.

Quatro atrizes, quatro escritoras

Além disso, as atuações entregam o necessário. Stella Maria Rodrigues se destaca como Carmen da Silva, em especial no momento em que fala de uma contraditória paixão. É um dos pontos altos do espetáculo, gerando riso e emoção de maneira genuína. A Clarice Lispector de Laura Proença é reta. Ainda por cima, Izabella Bicalho diverte como Eneida de Moraes, a qual pincela temas politicamente relevantes e a magia carnavalesca. A Hilda Hilst de Helga Nemetik é um híbrido, meio masculino, meio feminino, numa mescla de elegância e potência, é um pássaro-poesia carismático ao extremo. Cria expectativas a cada vez que declama poesias.

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A obra cita outros grandes escritores como o argentino Jorge Luis Borges, o qual imaginava o paraíso como uma biblioteca; o poeta austríaco Rainer Maria Rilke, e outros. Como a peça ressalta bem, o gosto pela literatura se adquire na infância. Não há dúvidas sobre isso. A competência de leitura das crianças brasileiras é classificada como uma das mais baixas globalmente, de acordo com os resultados da pesquisa PIRLS (Estudo Internacional de Leitura, 2021). É o sexto pior – isso mesmo, pior – entre os 65 países pesquisados. É vergonhoso. As crianças seguem os exemplos que lhe são dados. E mais do que nunca as pessoas veem imagens que passam e somem, ao invés dos livros que ficam.

Gostaria que essa peça influenciasse muitos e muitos novos leitores e leitoras e a cultura fosse a cada dia mais valorizada. “Palavras de Mulher” segue no Teatro Candido Mendes (Rua Joana Angélica, 63, Ipanema) nos dias 16 e 17 de janeiro (terça-feira e quarta-feira), no horário das 20h. Em 20 de janeiro (sábado), a sessão acontece às 18h. Em seguida, no dia 21 de janeiro (domingo), também às 18h, ocorre uma sessão especial com áudio descrição ao vivo. A duração do espetáculo é de 60 minutos, e a lotação da sala é de 102 lugares.

Por fim, esse sarau especial me fez lembrar do Corujão da Poesia, projeto tradicional presencial (e online) que acontece há muito anos. Inclusive, a próxima edição acontece dia 18 de janeiro, na Casa da Utopia (Rua Alexandre de moura 61, Niterói) com entrada gratuita e microfone aberto, a partir das 19h. Enquanto não lemos poesias no céu, aproveitemos para fazer isso na terra.

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