André Luiz – Mavílis: o despertar de um sonho

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre uma das associações mais aclamadas da história do futebol carioca em seus primórdios: o Mavílis Futebol Clube

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Foto: Quadro do Mavílis campeão da Zona Sul da Federação Atlética Suburbana (FAS) em 1938

O desportista Luiz Fernando Silva Alves, conhecido como Caldeira, pretende reviver, através do lançamento de mais uma camisa retrô, a tradição de uma das associações mais aclamadas da história do futebol carioca em seus primórdios: o Mavílis Futebol Clube.

Fundado em 23 de setembro de 1913 e tornado de utilidade pública pela Lei Municipal número 936, de 1959, possuía campo e sede situados à Rua Carlos Seidl, 993, no Caju.

A ideia de sua criação adveio de outro clube, o antigo Mavílis Brasileiro FC, constituído por moradores de São Cristóvão, sobretudo operários das fábricas Mavílis e Bonfim.

Entre os pioneiros, merecem destaque Silva, Constantino, Isnard Pires e Evaristo Teixeira, os quais não mediram esforços para tornar realidade o sonho de viabilização dessa agremiação.

A escolha do nome se deve às iniciais de Manoel Vicente Lisboa, um dos diretores da Companhia America Fabril e incentivador do esporte entre seus funcionários. Já o uniforme rubro-anil teve inspiração na bandeira inglesa, visto que na época os britânicos comandavam a indústria têxtil.

A construção da praça de esportes, denominada Praia do Retiro Saudoso, contou com o apoio de Afonso Bebiano, o qual cedeu uma vasta área, então pantanosa e posteriormente aterrada.

Uma das primeiras medidas foi estipular uma mensalidade no valor de um tostão antigo, importância que, em 1913, seus fundadores tinham muita dificuldade em saldar.

Ainda que nunca tenha galgado a esfera profissional, o Mavílis se consagrou durante a fase amadorista do futebol carioca. Em 1931, foi campeão de segundos quadros da Segunda Divisão. Em 1933, estreou na Primeira Divisão do Campeonato Carioca organizado pela Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). Já, em 1934, quando o Botafogo levantou o último título no amadorismo, realizou excelente campanha chegando ao vice-campeonato, junto ao Andaraí, em certame igualmente organizado pela AMEA. O Mavílis, inclusive, bateu o Clube da Estrela Solitária por 2 a 0 (gols de Honório e Chavão, ambos no segundo tempo), em casa, em 22 de julho. No cômputo geral, arrecadou nove pontos em oito jogos, com quatro vitórias, um empate e três derrotas, marcando 24 gols e sofrendo 21. No mesmo ano foi vice-campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca, capitulando novamente diante do Botafogo.

Com o advento da profissionalização do futebol carioca, o Mavílis foi um dos fundadores da Federação Atlética Suburbana, existente de 1936 a 1942, e precursora do Departamento Autônomo (DA), vinculado à Federação Metropolitana de Futebol (FMF).

Entre os seus craques formados, destacam-se Pascoal, do Vasco da Gama, e Vicente, mais conhecido como ‘Pé de Ouro’, principal figura da equipe campeã carioca do São Cristóvão, em 1926.

Nas décadas seguintes, o Mavílis alternou aparições mais modestas no Departamento Autônomo, chegando contudo ao vice-campeonato, em 1969, ao perder a decisão, em uma melhor de três, para o Nacional de Guadalupe. Em 1951, 1957 e 1958 ganhou a categoria de aspirantes.

Além do futebol, a agremiação também foi pioneira nos chamados esportes de salão, como o vôlei e o atual futsal. Até mesmo na queda de braço, havia um representante campeão: o peso mosca Raimundo Teixeira.

Porém, a precária situação financeira sempre foi um entrave para as pretensões, não só do Mavílis, como da maioria dos times que disputavam os certames do Departamento Autônomo.

Em 1984, o clube sofreu um derradeiro golpe ao perder uma longa batalha judicial para a América Fabril, a qual reivindicava a reintegração de posse do terreno composto por 10 mil metros quadrados, divididos em um campo de futebol, duas quadras, bar, vestiários e um galpão para festas e prática de esportes. Na ocasião, a categoria juvenil do Fluminense treinava nessas dependências.

A extinção do Mavílis representou, não só o fim de um tradicional espaço para atividades esportivas, como para práticas sociais. Seu espaço, por exemplo, chegou a abrigar famílias inteiras da favela Buraco da Lacraia, expulsas de seus barracos devido a uma disputa de quadrilhas (naquele tempo ainda não se falava em facções).

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Chaveiro comemorativo do Mavílis pertencente à coleção de Raymundo Quadros

Na ocasião de seu desaparecimento, o Mavílis contava com 384 sócios, que desde a década anterior não pagavam as suas mensalidades. O barzinho se encontrava arrendado e o montante arrecadado não era suficiente para custear a conta de energia, tampouco o salário do zelador.

Em 20 de abril de 1984 o clube perderia definitivamente o espaço. O desinteresse do presidente Joel, ex-ponta-esquerda do Fluminense e Botafogo, foi determinante. Segundo o ex-atleta Tostão, do Mavílis, o processo não teve o devido acompanhamento dos interessados. A crescente favelização do entorno também não contribuiu para que a agremiação mantivesse a posse de sua área.

Quem desejar reservar a camisa retrô do Mavílis, favor contatar o Luiz Fernando através do ZAP 21 99645-0999.

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André Luiz Pereira Nunes é professor e jornalista. Na década de 90 já escrevia no Jornal do Futebol e colaborava com Almir Leite no Jornal dos Sports. Atuou como colunista, repórter e fotógrafo nos portais Papo Esportivo e Supergol. Foi diretor de comunicação do America.

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