Quando garoto, não havia certas facilidades que ora se oferecem por aí em cada esquina. Eram poucas as lojas de artigos esportivos e seus itens eram raros de serem encontrados.
Disputávamos peladas nas ruas, praças, calçadões, como o do Maracanã, em frente à Escola Municipal Arthur Friedenreich, ou em campos de terra batida, como o da Quinta da Boa Vista. Não existiam muitas quadras e sequer gramados sintéticos.
Camisas oficiais eram artigo de luxo. Não, nada disso. Nas peladas, os times, para se diferenciarem, jogavam com e sem camisa no melhor estilo casados contra solteiros.
Na falta de uma bola decente, usava-se uma qualquer cedida ou emprestada. O problema dessa prática é que a brincadeira poderia ser encerrada no momento em que o dono resolvia ir voluntariamente para casa. Ou quando a mãe irremediavelmente vinha buscá-lo, não raro, puxando-o pelas orelhas.
Tive ainda a sorte de presenciar peladas praticadas com bolas de meia. Meu pai, inclusive, me iniciou na prática de criá-las. Amassava-se uma bola de papel, fazendo com que esta ficasse o mais roliça possível e depois envolviam-se meias velhas. Até mesmo a amarração era feita com as próprias meias, esgarçando uma pequena parte para que fosse possível dar o nó.
Não havia juízes. O bom-senso “normalmente” imperava nas marcações. A alegria de praticar o futebol e, por alguns segundos, acreditar que se era o craque do momento, suplantava qualquer limitação.
Por um certo período pratiquei futebol de salão na saudosa Associação Atlética Vila Isabel. A bola era pequena e muito dura. Os laterais eram cobrados com as mãos e só valia gol fora da área. O piso era formado por tacos, que por vezes soltavam. Mas ouvir a rede estufando, após um chute certeiro, não tinha preço.
Contudo, nos fins de semana, férias e feriados imperava mesmo era a democrática prática do futebol de rua ou terra batida. Promovíamos, inclusive, desafios com a rapaziada da rua de cima, que eram marcados por intensa rivalidade.
Terminava as partidas com os joelhos completamente ralados, muito vermelho e suado, todavia, com a alma lavada.
Este relato, fez-me lembrar dos meus tempos de criança no subúrbio de Ricardo de Albuquerque. Aquelas peladas descalças em ruas esburacadas, cheias de poeira, às vezes cheias de lama, eram animadas e nos deixavam completamente felizes. Éramos Pelés, Garrinchas, Didis e muitas vezes Niltons Santos.
Hoje a alegria das crianças é falsa, é recheada de brincadeiras virtuais em que os adversários são imaginários. Pobres crianças deste século! Este é o século da depressão em crianças. Triste, muito triste, tristíssimo!