No final do ano o meio esportivo foi bombardeado pelas notícias de que Ronaldo Nazário adquiriu o Cruzeiro por R$ 400 milhões. O presidente do clube, Sérgio Santos Rodrigues, confirmou a venda por meio de live em seu perfil do Instagram. Já o ex-craque celebrou a aquisição: “Feliz demais de ter concluído essa operação. Tenho muito a retribuir”, afirmou exultante.
Esse filme envolvendo o Fenômeno não é novo e até o momento não teve qualquer final feliz. O ex-atacante já havia adquirido a maioria das ações do Real Valladolid, em 2018. As consequências, contudo, não foram nada positivas. O clube espanhol foi rebaixado na última temporada à segunda divisão. A equipe terminara em 19º lugar, com 31 pontos, e ora disputa a segundona após três temporadas na elite.
Ronaldo, inclusive, tem sido alvo de duras críticas por parte de uma organização que reúne as torcidas da agremiação. Um comunicado publicado relata a “falta de comunicação e de explicações por parte da diretoria e da comissão técnica”. Por não morar em Valladolid e passar boa parte de seu tempo em Ibiza, o mandatário também tem sido duramente questionado. Soma-se ainda o fato de não ter estado presente ao estádio José Zorrilla nas partidas decisivas contra o rebaixamento, em 2021. O Valladolid sofreu o descenso ao capitular, em casa, diante do Atlético de Madrid.
As três últimas temporadas, em especial a última, foram verdadeiramente frustrantes para quem esperava que Ronaldo se tornasse uma espécie de Roman Abramovich do pequeno time da região autônoma de Castilla y León. Sob sua direção, o Valladolid apenas manteve a sua frustrante tradição de ser um time mediano de acessos e descensos. Nem mais, nem menos.
Ronaldo não é mesmo Abramovich, como a maior parte dos investidores de clubes da Europa também não é. É preciso refletir que 16 dos 20 clubes da Premier League são controlados por ricos empresários estrangeiros. O Arsenal, do norte-americano Stan Kroenke, e o Southampton, com 80% de controle do chinês Gao Shisheng, são apenas alguns exemplos. Já o Burnley, da Inglaterra, tem 84% de seu capital pertencente ao grupo norte-americano ALK, enquanto o Norwich, que luta com unhas e dentes para não ser rebaixado no Campeonato Inglês, pertence em 53% ao galês Michael Jones.
O certo é que Ronaldo pegará um Cruzeiro completamente endividado e relegado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Segundo informação veiculada primeiramente pelo UOL Esporte, o treinador de goleiros Leonardo Lopes, que trabalhou no clube durante 10 anos antes de ser demitido no final de 2021, entrou com um pedido de indenização de R$ 800 mil mais pensão vitalícia de R$ 5 mil em uma ação movida em função de um alegado acidente de trabalho ocorrido em dezembro de 2016, sobre o qual o clube teria sido negligente. São esses e outros inúmeros problemas que o Fenômeno terá que se deparar.
Ter um investidor não representa qualquer garantia de sucesso esportivo. Uma boa gestão não é sinônimo de títulos para o futebol. Um clube pode necessariamente dar muito lucro a seu proprietário, ter sua contabilidade toda no azul e até revelar e vender jogadores. Não significa, no entanto, que lutará por algum troféu. Portanto, a torcida cruzeirense ainda deve muito que se preocupar se olhar o exemplo do Real Valladolid.
Sabemos que esses investidores não se preocupam com os clubes e, sim com o dinheiro aplicado na compra e venda de jogadores. A intenção é uma só: Ficar cada vez mais rico.
Caro André.
Apenas um ponto que não deve ser ignorado.
Desde 2004, o Valladolid passou mais tempo na segunda divisão do que na primeira. O Ronaldo sabia que estava comprando um Pálio Weekend e ninguém, em sã consciência, poderia achar que só porque o carro trocou de dono, ele virou um Audi A6.
O Valladolid está no patamar que sempre esteve – se essa mesma frase voltar a se aplicar ao Cruzeiro, já terá sido excelente para eles.