Zé Carioca, 80 anos a ser celebrado em 2022, nasceu no Rio de Janeiro, mas sua paternidade tem origem das mãos de um dos mais emblemáticos e reconhecidos artistas do século XX, de origem norte-americana, responsável por inserir em patamares elevados a animação como um dos mais importantes nichos dos negócios de entretenimento: Walt Disney.
A inspiração do artista na criação do personagem tupiniquim teve na figura de José do Patrocínio Oliveira, um músico brasileiro, seu despertar. O que é curioso é que essa base que muniu Walt Disney de características para sua criação, não era carioca. Ele era paulista, da cidade de Jundiaí. De novo a demonstração que RIO e SP tem muita sinergia.
Durante sua estada no Brasil, em 1941, com uma comitiva de 18 membros, Walt Disney, hospedado em pleno Copacabana Palace, realizou uma verdadeira imersão cultural, possibilitando o reconhecimento de inúmeras características identitárias que foram incluídas na concepção do Zé Carioca.
Batizado como Joe Carioca, o papagaio verde e amarelo, representante da fauna brasileira, ganhou uma imagem, não meramente fantasiosa, mas que retratava muito da época, em uma observação mais popular. Ele ganhou chapéu de malandro, gravata borboleta, um guarda-chuva para usar como bengala e uma oratória carregada de ginga e muita malandragem.
No Brasil, a estréia do Zé Carioca aconteceu em 1942, com a produção Alô, Amigos — intitulado originalmente de Saludos Amigos, em inglês, que foi bastante disruptiva, pois trabalhou com a fusão de filme e desenho animado. Nele, Zé Carioca acolhe com toda hospitalidade nata o Pato Donald em solos brasileiros.
Ao som de Aquarela do Brasil e Tico-tico no fubá, eles interagiram, beberam cachaça e sambaram juntos, e o filme popularizou as duas músicas no exterior. Três anos depois, Zé Carioca apareceu novamente em outra animação batizada de Você já foi à Bahia?
Lógico que toda essa iniciativa estava atrelada à Política da Boa Vizinhança, impulsionada, a partir da década de 30 pelo presidente americano Franklin Roosevelt com o objetivo de manter toda a América alinhada com os Estados Unidos — e, assim, afastada da influência de comunistas e fascistas.
Os estúdios Disney foram parceiros nessa ação, gerando personagens locais na Argentina e no México, além do Brasil.
Em um momento no qual as discussões ganham cada vez mais força, do que seja politicamente correto, o Zé Carioca, seria alvo de cancelamentos, sobretudo porque muitos o consideram uma caricatura do povo brasileiro, no caso, especificamente dos cariocas, com ênfase dada ao malandro que faz corpo mole para o trabalho, que só quer viver na farra, recusa qualquer compromisso e se interessa apenas por samba e futebol. Além de ficar baforando um charuto a toda a hora, se possível acompanhado de uma bebida mais forte.
Porém, é importante ressaltar que ter na galeria de personagens do mundo Disney, o Zé Carioca é uma verdadeira deferência e homenagem, que não pode ser esquecida e sua compreensão não deve ser rasteira a ponto de não relacionar sua criação aos cenários da época de seu nascimento.
Zé Carioca merece sim apagar com todo vigor suas 80 velinhas e manter a esperança de que seu time de futebol – a Vila Xurupita Futebol Clube – consiga ter em sua sala de troféus, algo mais interessante, do que apenas as teias de aranha, demonstrando seu sofrimento na paixão por seu time que sempre tem uma performance abaixo das expectativas.
Semelhança com algum time carioca??? Rsrs
Vida longa sim ao Zé Carioca e todo o seu contexto histórico e artístico, que integra o legado de um dos mais geniais artistas visionários de todos os tempos.