Andréa Nakane: Ponte Aérea – A história do samba em São Paulo e reflexões teatrais no Rio

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o intercâmbio que só faz bem a ambas as cidades

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RJ- SP

Foi inaugurado, recentemente, no IMS Paulista a exposição Pequenas Áfricas: o samba que o Rio inventou e na abertura do evento o bloco Cacique de Ramos, cuja história está contemplada nesse trabalho, protagonizou uma autêntica roda de samba.

A exposição reconstitui a cena cultural carioca, a partir do começo do século 20, na qual as comunidades afrodescendentes criaram o samba urbano. A mostra aborda as complexas redes de trabalho, solidariedade e espiritualidade construídas nesse período histórico, além de suas reverberações no presente, das escolas de samba aos terreiros e quintais.

 A curadoria da exposição é dos historiadores e professores Angélica Ferrarez, Luiz Antonio Simas, Vinícius Natal e Ynaê Lopes dos Santos. A expografia é assinada pela arquiteta Gabriela de Matos.

Dividida em dois andares, a exposição reúne aproximadamente 380 itens, entre documentos, gravações musicais, fotografias, matérias de jornais, filmes e obras de arte, provenientes do acervo do IMS e de outras instituições. A mostra faz alusão ao termo “Pequena África”, cunhado pelo artista Heitor dos Prazeres para se referir à região da Zona Portuária do Rio, que, no começo do século 20, concentrava uma numerosa população afrodescendente. Na exposição, no entanto, o termo é pensado enquanto construção política e expandido para outras regiões da cidade.

A curadoria comenta o recorte: “A partir da Pequena África histórica, propomos um percurso pelas Pequenas Áfricas que a ela se sucederam, menos um lugar do que um conjunto de práticas consagradas àquele modo de vida. Uma ideia pulsante em núcleos de resistência e ação sustentados por referências e valores de um Rio de Janeiro negro, para além dos clichês que se confundem com a imagem oficial da cidade.”

O primeiro andar da mostra adota um viés histórico, apresentando a região onde o samba urbano se originou e suas mudanças ao longo do tempo. O percurso se inicia no Cais do Valongo. Tido como o maior porto escravista da história, o complexo do cais recebeu cerca de 1 milhão de africanos escravizados, vindos forçados para o Rio de Janeiro. Inteiramente aterrado nas reformas urbanísticas do início do século 20, foi redescoberto durante escavações em 2011 e reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade em 2017.

Na entrada da exposição, o público ouvirá uma gravação em áudio na qual o ator Hilton Cobra lê anúncios de venda e compra de pessoas escravizadas, retirados do Diário do Rio de Janeiro, entre 1821 e 1831. A leitura dá a dimensão da violência que imperava na sociedade colonial e neste território em especial, onde, posteriormente, as populações escravizadas reinventaram suas vidas e culturas. Neste primeiro núcleo, os visitantes também encontram um painel de monotipias do artista Carlos Vergara, feito a partir de fragmentos da escavação do Valongo. Utilizando terra e outros materiais encontrados no local, Vergara imprimiu nas telas os contornos das pedras pisadas pelos sujeitos escravizados e por seus algozes.

Outra obra presente neste núcleo é Proteção aos ancestrais (2023), de Mãe Celina de Xango, figura essencial nos processos de escavação do Valongo. Comissionada para a mostra, a instalação é composta por uma série de plantas naturais utilizadas nos rituais de candomblé, como espada-de-iansã e lança-de-ogum. A obra remete à ideia de purificação, funcionando como um ritual de passagem da dor para a celebração da vida. Ainda neste núcleo, estão fotos do sítio arqueológico do Valongo feitas em 2023 pelo fotógrafo Walter Firmo.

O núcleo seguinte, por sua vez, tem como pano de fundo o contexto da República e seus esforços de embranquecimento, quando o governo estimula a imigração europeia, expulsando as populações afrodescentes do centro e criando leis de criminalização de manifestações da cultura popular, como a prática da capoeira. Ainda assim, pelas frestas, emergem práticas e culturas comunitárias que se contrapõem ao projeto de dominação e se inserem no cotidiano e na paisagem da cidade.

Neste segmento, a exposição reúne imagens e documentos da Praça Onze, principal local da Pequena África histórica, habitado, no começo do século 20, por uma expressiva população afrodescendente e também por imigrantes judeus, italianos e ciganos. Foi bem perto dali que se fundou a primeira escola de samba e, em torno dela, realizou-se o primeiro desfile das agremiações. Em 1944, foi derrubada para a construção da avenida Presidente Vargas. Na mostra, são exibidas imagens que documentam a arquitetura da praça, feitas por fotógrafos como Augusto Malta e Guilherme Santos, e também, registros dos carnavais realizados no local. Há ainda ilustrações que retratam o carnaval na praça, mapas da região, entre outros registros.

Tudo isso está disponível no Instituto Moreira Salles, localizado na Avenida Paulista, 2424, com entrada gratuita até abril de 2024, de terça a domingo e feriados (exceto segundas-feiras), das 10h às 20h.

 SP – RJ

Nascida no Rio de Janeiro, a atriz, autora, cantora e diretora Beth Zalcman volta aos palcos cariocas, com a peça “Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio”, que fica em cartaz no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, até dia 9 de dezembro.

 A apresentação do Rio de Janeiro ocorre após uma curta temporada em São Paulo, de muito sucesso e, que contou o apoio da Xtay Oscar Freire, que foi residência oficial da atriz na capital paulista durante sua permanência na cidade.

O espetáculo é o primeiro texto teatral da filósofa e poética Lucia Helena Galvão e tem Luiz Antônio Rocha na direção. A montagem, baseada no livro de Helena Blavatsky mexe com os espectadores ao instigar uma profunda reflexão sobre a busca do homem pelo conhecimento filosófico, espiritual e esotérico.

Importante pensadora do final do séc.XIX, a russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) buscou ampliar o diálogo entre religião e ciência, influenciando personalidades de diversas áreas do conhecimento.

“Helena Blavatsky, a voz do silêncio”, é um mergulho no universo que existe dentro de nós. A direção de arte, cenário e figurinos foram baseados em algumas pinturas do artista impressionista Édouard Manet. Após cada sessão acontece um bate-papo com a equipe de criação.

Todo esse enredo e atmosfera já seduziu milhares de pessoas, que prestigiaram a temporada paulistana em dois momentos, um no primeiro semestre de 2023 e outro agora.

Há inclusive convites para levar a peça para o exterior. Por isso, os cariocas não podem perder mais essa oportunidade de se emocionarem.

Mais informações sobre a peça estão disponíveis nas redes sociais, em @helenablavtskyavozdosilencio.

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lapa dos mercadores 2024 Andréa Nakane: Ponte Aérea - A história do samba em São Paulo e reflexões teatrais no Rio
Andréa Nakane é carioca, apaixonada pela Cidade Maravilhosa, relações públicas, professora universitária, Doutora em Comunicação Social e Mestre em Hospitalidade.Embaixadora do RJ. Vive há 20 anos em Sampa e adora interagir com pessoas singulares que possam gerar memórias afetivas construtivas.

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