Anel em ‘planeta-anão’ descoberto por pesquisadores da UFRJ pode mudar os rumos da astronomia

Localizado em uma região do espaço depois de Netuno, Quaoar vinha sendo observado por especialistas do Observatório do Valongo

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Foto: UFRJ

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e publicado na revista Nature, identificou um curioso e incomum anel ao redor do astro Quaoar, candidato a planeta-anão, localizado depois da órbita de Netuno. A descoberta está abalando o mundo da astronomia e pode resignificar alguns dos conceitos mais importantes da referida ciência, como o Limite de Roche – que é a distância mínima que um satélite pode orbitar sem se quebrar devido às forças de maré. A teoria foi elaborada no século XIX.

A astronomia define que anéis são estruturas não sólidas que reúnem asteroides, poeira e outras partículas em torno de um astro maior. Até 2013, os pesquisadores só conheciam anéis ligados a planetas gigantes, como Saturno e Júpiter, mas a descoberta de anéis no planeta-anão Haumea e no centauro Chariklo abriu precedentes para novos estudos sobre o tema.

Bruno Morgado, professor do Observatório do Valongo, responsável pelo artigo, e primeiro autor da pesquisa, explica que que o Limite de Roche define a distância de 1.750 km para que um disco de partículas se mantenha no formato de um anel. Para além dessa linha, acreditava-se que o disco começaria a se aglutinar e acabaria por formar um satélite natural, uma lua. Essa teoria também é aplicada em exoplanetas e em diferentes pesquisas. No caso de Quaoar, que tem apenas 555 km de extensão, o anel está localizado a 4.100 km de seu corpo central.

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Pela primeira vez, estamos vendo um anel além do Limite de Roche. A primeira pergunta que a gente se faz é se não estamos vendo esse anel literalmente se transformando em um satélite natural. Mas isso é improvável, já que esse processo demoraria algumas dezenas de anos e, considerando toda a história do Sistema Solar, é improvável que estejamos na hora certa e no lugar certo”, explica o professor.

Os pesquisadores acreditam que exista algum efeito dinâmico, a exemplo de uma alteração gravitacional, que permita que esse anel continue existindo em seu formato original. Porém, para chegar a uma resposta definitiva, mais estudos precisam ser realizados.

Até dez anos atrás, a gente nunca tinha visto anel em pequeno corpo; hoje, a gente já conhece três. Quantos mais existem por aí e que simplesmente não vimos ainda? Essas pesquisas por si sós já podem dizer muito sobre como o Sistema Solar se formou. Com o Quaoar especificamente, acreditamos que exista um efeito dinâmico. Como a Física é uma só, se acontece neste caso, é provável que possa acontecer em outros corpos no Universo”, reforça Morgado.

As partículas presentes no anel de Quaoar e nos anéis de outros astros são tão pequenas que uma observação direta não é possível, nem mesmo por meio da tecnologia mais avançada na área atualmente, o satélite artificial James Webb. Por isso, a descoberta de Morgado e seus colegas precisou ser feita de maneira indireta, por meio de uma metodologia que envolveu pesquisadores de diversas instituições de pesquisa e astrônomos amadores ao redor do planeta.

A ocultação estelar é uma técnica que se assemelha muito ao eclipse, quando a luz de uma estrela incide sobre certos corpos e permite a observação de sua sombra aqui na Terra. A sombra é então medida e os parâmetros obtidos nessa medição possibilitam a identificação de corpos celestes e fenômenos no seu entorno.

O interessante é que fizemos isso com o Quaoar, e não foi só ele que passou na frente da sombra – mas algo a mais. Pudemos ver nessas observações, feitas entre 2018 e 2021, que existem várias pequenas regiões a sua volta. Ao reunir todas essas informações, vimos que era um anel”, explica o professor, ressaltando que essa mesma técnica foi utilizada na descoberta dos anéis de outros astros, como Urano e Chariklo.

Para o método ser efetivo, pesquisadores de observatórios no Brasil, França e Espanha, além de entusiastas da Astronomia de outros pontos do mundo, reuniram dados de seus equipamentos e os compartilharam entre si, permitindo a realização de cálculos mais apurados. Para Morgado, essa é verdadeira colaboração global, que permite não só que descobertas como esta sejam feitas, mas também que a própria Ciência evolua.

Tudo isso só é possível graças à colaboração. Eu não seria capaz de fazer isso sozinho. Aquela ideia do cientista solitário trancado em uma sala não é mais verdade: não é possível fazer Ciência sem interação”, conclui o pesquisador.

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