Após 14 anos de abandono, Hotel Glória será reinaugurado como edifício residencial

Fruto de uma inédita parceria do Iphan com o setor imobiliário, o lançamento num dos pontos mais icônicos da cidade dará viabilidade econômica ao bem cultural, segundo o Superintendente Olav Schrader.

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Foto: Reprodução

No ano em que celebra o seu primeiro centenário – que coincide com o bicentenário do Brasil – o Hotel Glória ganha um presente extensível a todos os fluminenses: seu retorno aos dias de glória. E isso é mais que um trocadilho com o programa municipal de valorização do bairro que tem mais praças e parques na cidade. Após um período de abandono e deterioração, o monumento simbólico na história do país e do Rio está sendo reformado e restaurado e será reativado com novo uso. O mais fantástico é que seu restauro e ressignificação ocorrem, pela primeira vez, como fruto de uma parceria de trabalho entre os novos donos do prédio e um órgão que já foi conhecido como um grande causador de atraso: o Iphan. O DIÁRIO deu o furo da venda do Hotel ao Opportunity, alguns anos atrás – como sempre copiado no dia seguinte pelos outros – mas a expectativa permanecia.

A edificação que já hospedou nomes como Albert Einstein, Marilyn Monroe, Neil Armstrong e quase todos os presidentes da República, agora será o lar de aproximadamente 1.000 moradores distribuídos em 266 apartamentos que vão ocupar as antigas acomodações em diversas tipologias, com a fachada, frente e murada de pedra, assim como monumentos, inteiramente restaurados. O prédio fica pronto em 2026.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, aprovou o projeto de intervenções e acabou compreendendo que era preciso devolver, de alguma forma, este equipamento monumental à cidade e à contemplação de todos, mas garantindo-lhe a possibilidade de ter viabilidade econômica.

Embora não seja um bem cultural tombado federal, o antigo hotel se encontra na área de entorno de dois bens protegidos pela Autarquia: a casa na Rua do Russel, n° 734, conhecida como “Castelinho da Glória”; e o Aterro do Flamengo, o célebre parque com paisagismo de Roberto Burle Marx.

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Em entrevista, exclusiva, ao DIÁRIO DO RIO, o superintendente do Iphan-RJ, Olav Schrader, exclamou que podem haver preconceitos contra o investimento imobiliário em um patrimônio histórico.

Na minha opinião, todo vestígio de preconceito precisa ser vencido, pois é redirecionando investimentos que conseguiremos melhor atender o bem comum em áreas degradadas. Uma inclusão social sustentável se dá através do crescimento econômico e da geração de oportunidades, com destaque para as camadas menos favorecidas e menos escolarizadas da população”, completa Schrader.

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Foto: Divulgação

Como contrapartidas, o projeto de resgate histórico também contempla o restauro e ampliação das calçadas em pedra portuguesa, o restauro das balaustradas situadas em frente ao Hotel Glória e a recuperação do Castelinho da Glória. Inscrito nos Livros do Tombo Histórico e de Belas Artes do Iphan, o Castelinho é uma casa residencial erguida em 1915 no estilo art nouveau. Após o restauro, o imóvel deve sediar um café-escola e abrigar tanto o acervo histórico do Castelinho quanto o do Hotel Glória.

Outra novidade que promete valorizar a área é o restauro da praça na Esplanada Adolf Bloch, que terá resgatado o paisagismo original da década de 1930. Nos arredores da praça, saltam aos olhos a escadaria que dá acesso ao platô onde se encontra o hotel; o icônico Monumento à Abertura dos Portos, que homenageia um fato decisivo da história do país, prova da grande sabedoria do Rei Dom João VI; a balaustrada que contorna a fachada do Glória; e os lampadários, que conferem luz a essa paisagem cativante.

Otávio Grimberg, vice-presidente do Sinduscon-Rio e da Ademi-RJ, alega que a recuperação da Glória pode ser uma inspiração para outros imóveis históricos, e abandonados. “Foi o interesse do Iphan de acabar com o estado de abandono em que o monumento se encontrava que nos permitiu chegar a essa solução. A recuperação do Glória pode inspirar outras iniciativas, ao verem como de algo degradado renovou-se o bem cultural e o entorno ao seu redor”, conclui Grimberg, que também é sócio da incorporadora SIG, sócia do empreendimento.

Para o corretor de imóveis Cláudio André de Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis e responsável pelo planejamento de venda de diversos icônicos imóveis do Rio, como o Teatro Riachuelo, o Hotel Santa Teresa e o Largo do Boticário, ”a cidade se volta cada vez mais para seu passado glorioso, em busca da ressignificação de diversas áreas que vinham, até alguns anos atrás, sendo preteridas em prol de lugares longínquos e seus palacetes de vidro verde, alucobond e alumínio tubular. Moderno é aproveitar a infraestrutura que já existe, ecológico é parar de desmatar e começar a reciclar; cômodo é morar perto do trabalho e de todos os modais de transporte”, diz. E completa: ”empreendimentos como este e o Moinho Fluminense vão vender ou alugar como água.”

Clássico Hotel Glória

Inaugurado em 1922, o Hotel ostenta uma trajetória de requinte e centralidade nos acontecimentos do país. É fruto do projeto do célebre arquiteto francês Joseph Gire, responsável por edificações cariocas icônicas como o Edifício A Noite e o Copacabana Palace.

“O Hotel Gloria é um case clássico de investimento privado virtuoso, que já vem como resultado de um diálogo do Iphan com as entidades. E que tem uma série de contrapartidas de resgate de todo um belíssimo entorno histórico que a administração pública seria incapaz de fazer sozinha a contento, vide o esvaziamento de décadas da área. Se conseguirmos juntos superar entraves, redirecionar racionalmente investimentos que sejam respeitosos com a nossa história, eu acredito que poderemos criar um esteio de regeneração da nossa cidade”, avalia Olav Schrader.

Desde que abriu as portas até a interrupção do funcionamento, em 2008, o hotel foi palco de reuniões de negócio, decisões políticas e espetáculos memoráveis, como apresentações de Carmen Miranda e Pixinguinha. O Glória ficou pronto a tempo de abrigar os hóspedes da Exposição do Centenário da Independência, que atraiu expositores de 14 países para apresentar o que de mais moderno havia nos campos da indústria, artes, ciências e comércio.

Às margens da Baía de Guanabara, quem se hospedava no primeiro hotel de luxo carioca admirava a cidade de um ponto de vista panorâmico, no qual o Pão de Açúcar se ergue soberano. Embalado pelos sons do bonde que passava em frente ao estabelecimento, o hotel assistiu a cidade ao redor crescer e se reordenar no ritmo de grandes transformações, que permanecem até hoje como características marcantes do Rio de Janeiro. Novas avenidas abertas, grandes trechos aterrados e transformações urbanas recriaram a cidade, consolidando-a como uma metrópole mundial.

Uma nova página na história do Hotel Glória

Em agosto de 2021, o Iphan esteve presente na sede do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio) e da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) para dialogar com o setor produtivo. Na ocasião, abordou-se a necessidade do Patrimônio Cultural Brasileiro receber investimentos também da iniciativa privada.

“A Glória sofre de abandono desde que o hotel parou de funcionar. Pelo próprio movimento da obra já se vê uma revitalização da área, que será fortalecida após a conclusão, atraindo pessoas para a região. Um bairro vivo é um bairro com gente andando na rua, movimento”, comenta Otávio Grimberg, vice-presidente do Sinduscon-Rio e da Ademi-RJ. “Além da produção de renda e geração de emprego, esse empreendimento pode colaborar para revitalizar a infraestrutura e a ocupação do bairro”, conclui Grimberg, que é um dos idealizadores do projeto.

“O Glória nasce em 1922 e renasce em 2022. Nas pesquisas históricas encontramos propagandas do Hotel Glória em outros países. Por que não resgatar esse olhar sobre o Rio de Janeiro? Com a parceria do Iphan conseguimos dar nova direção e cuidado para um patrimônio que estava esquecido. Queremos contar a história desse hotel”, resume Cristina Gravina, líder da área de Marketing e Produto do Grupo Oportunity Imobiliário.

Ao DIÁRIO DO RIO, Gravina comemora e comenta as esperanças. “Nossa expectativa é muito grande para devolver esse bem cultural para a cidade, junto com o seu entorno, que também está sendo recuperado”, completou.

Prevista para se estender pelos próximos três anos, as obras vão gerar cerca de 4.500 empregos diretos. O Grupo Opportunity investe aproximadamente R$ 250 milhões no empreendimento.

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13 COMENTÁRIOS

  1. Fico feliz que o Hotel Gloria onde já me hospedei 2X vai ter um final feliz. Eike Batista arruinou tudo onde ele se meteu. Não é local pra Habitação Popular, com salões gigantescas e esculturas e piscinas O custo da manutenção é alta demais e requer respeito no uso.

  2. Me chamo ROSSI, sou consultor imobiliário da Lopes, encarregado de atendê-los nas suas consultas sobre nosso próximo lançamento no antigo Hotel Glória.

    O projeto que lhe será apresentado oferecerá 266 unidades residenciais e 4 lojas. Teremos apartamentos com 2, 3 e 4 quartos, todos com vaga de garagem. Sendo:

    88 unidades de 130 m² a 314 m² na torre do hotel;

    66 unidades de 81 m² a 169 m², na torre em anexo, atrás do hotel, conforme imagem abaixo.

    110 unidades de 78 m² a 125 m² no prédio contemporâneo, ao lado do hotel.

    Todos constituindo um único projeto com total infraestrutura de lazer.

    Estamos na fase de pré-lançamento em que aproximamos os clientes do projeto, o cadastrando e em muitos casos, os próprios interessados decidem por fazer uma pré-reserva, que lhe dará a prerrogativa de escolha e decisão de compra (ou não), anterior a abertura de vendas para os demais.
    (21) 98923-0000

  3. Será um residencial com lazer completo. Unidades de 2, 3 e 4 quartos. Lançamento em Agosto.
    Desejando maiores informações favor entrar em contato Whatsapp 21 964756252 – Felipe Quintino Condenador de Vendas Brasil Brokers.

  4. Que legal!!! Ficaria melhor realmente se tudo fosse feito como espaço cultural, pra que todos possam usufruir. Mas aquele bairro vai ficar muito lindo.

  5. Sim, seus racistas! Habitação popular, sim. Ou aqueles conjuntinhos que desde sempre mas em especial com mais força na ditadura, empurrando para o subúrbio acha que seja medida democrática e justa??? Emprego está na região central e seu em torno deve receber projetos de conversão de prédios e construção para populares.

  6. Sera realmente um condomínio de habitação popular ou chamam morador de alta renda de condômíno popular ,francamente quem ganha até cinco salários minímo
    vão ter condição de bancar os gastos da moradia até quando?

  7. Hotel Glória transformado em habitação popular é de uma tristeza sem fim! Um lugar que guarda tanta história virará mais um “balança mas não cai”. Quem, da classe popular, poderá arcar com o custo da manutenção de tamanho prédio antigo e ainda por cima, tombado pelo Patrimônio Histórico. Ora, ora!! Sejamos realistas! Para morar num condomínio como o Hotel Gloria há de se dispor uma quantia razoável mensal para manutenção de elevadores, piscina, funcionarios etc!

  8. Habitação popular é necessário, mas não ali. Há locais menos valorizados embora sejam bem localizados e com infraestrutura, até no centro, como a região entre a Central e o Estácio. O Hotel Glória fica entre o Santos Dumont e Copacabana, no caminho do turismo, deve ser utilizado como tal, valorizar o entorno, ser habitado por quem tenha condições de conservar a fachada. Brizola acabou com a favela do gás, em Niterói, construiu ruas, infraestrutura e casas populares, sobrados melhores que muitas casas de classe média, ficou bonito. 10 anos depois já tinha puxadinho pra cima, pra frente, até na calçada. Infelizmente as pessoas passam por necessidades e não tem como manter a boa aparência do local. Não é preconceito, é a realidade, tem muito pobre caprichoso, mas a maioria não tá nem aí pra conservação dos imóveis

  9. Graças a Deus!!!! Muito feliz por uma destinação que preservará a integridade do prédio. Falam de moradia popular, deveriam analisar o que se faz com os conjuntos da COHAB e outras. Muito obrigada por devolverem a beleza da Glória.

  10. Ao comunosociopata Danico, transforme sua casa em bem público. O Iphan metido nisto é desanimador. Tomara que os empresários consigam superar as barreiras destes maníacos. E bem vindo hotel Glória!! Antes vivo como casa que morto como hotel.

  11. Habitação popular? Poxa meu amigo!. O pobre não consegue se organizar pra morar em prédio não. Vai lá em Triagem,na ,cidade Alta , na vila Kennedy pra vê como é HABITAÇÃO POPULAR. Infelizmente.

  12. Uma pena que um grupo como o Opportunity tenha adquirido tantos bens e deles extraído vultosos lucros enquanto explora e contribui na especulação imobiliária.
    O Estado precisa dificultar que grandes grupos e especialmente estrangeiros façam o que querem.
    Esse antigo Hotel Glória deveria se tornar patrimônio público, convertido para espaço cultural, museu etc. ou destinado à habitação popular.
    Por uma Política Habitacional mais democrática.

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