Áreas tomadas por grupos milicianos na região metropolitana do Rio triplicam de tamanho nos últimos 16 anos

Os dados são do Instituto Fogo Cruzado em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF)

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Foto: Ricardo Moraes

O crime organizado aumenta seu poder de influência na geografia do estado do Rio de Janeiro. De acordo com o último levantamento do Instituto Fogo Cruzado, entre 2008 e 2023, as milícias triplicaram seu domínio territorial na região metropolitana – crescimento de 204,6%.

Os dados constatam o amplo domínio das milícias na disputa por território na cidade do Rio. Essas forças paramilitares concentram 66,2% de área urbana que se encontra controlada por grupos armados. Outras organizações criminosas com presença expressiva no município incluem o Comando Vermelho, com 20,7% deste território, Terceiro Comando Puro (9,3%) e Amigos dos Amigos (2,4%). Ao todo, Estes contabilizam 20.155,33 km² de área territorial da capital fluminense.

O controle espacial das milícias encontra-se presente sobretudo na zona oeste do Rio, ocupando aproximadamente 90,80 km². Para fins comparativos, esse montante representa 83,1% do território da zona oeste que é controlado por grupos armados.

Na zona norte, as milícias aparentam representar uma terceira força, ocupando 12,8% do território sob domínio de organizações criminosas – representatividade significativamente abaixo daquela do comando vermelho (60,5%), e da influência do Terceiro Comando Puro (21,7%). No centro e zona sul, os dados de 2023 indicam que há menor controle de grupos armados, que contabilizaram 1,54km² e 2,64km² nas respectivas regiões da capital. Nestes espaços, apenas Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro apresentaram influência territorial.

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A presença de grupos armados apresentou crescimento em toda a região do Grande Rio, cujos limites geográficos incluem a cidade do Rio, os municípios da baixada fluminense, e o leste metropolitano. No ano passado, grupos paramilitares ocuparam 18,2% de área urbana habitada na região. Até 2008, o domínio destes grupos representava somente 8,8% do território.

Apesar do crescimento das milícias, O Mapa dos Grupos Armados mostra que o Comando Vermelho passou a ocupar 51,9% deste território. Desde 2021, a série histórica do Mapa aponta para uma disputa por poder entre estes grupos, com as milícias e o Comando Vermelho alternando o posto daquele com maior área ocupada no estado do Rio de Janeiro.

O Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro é uma parceria entre o Instituto Fogo Cruzado e o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF). A coleta dos dados ocorreu a partir da análise de denúncias feitas ao programa do Disque Denúncia que citavam milícia ou tráfico de drogas, entre os anos de 2005 e 2023. Esses registros de queixas permitiram com que se pudesse traçar o movimento histórico de domínio de facções e milícias sobre mais de 11 mil sub-bairros, favelas e conjuntos habitacionais da região metropolitana do Rio. O levantamento considerou 704.387 denúncias.

“Testemunhamos nos últimos anos muitos episódios emblemáticos do conflito entre os grupos armados pelo controle territorial e, agora, vemos como isso tudo faz parte da dinâmica geral do controle de territórios e populações. A expansão do controle territorial se faz de forma muito mais frequente em áreas não controladas anteriormente, mas não é possível ignorar o conflito aberto no Rio de Janeiro. Sabia-se que o CV estava avançando em áreas das milícias e que isto levaria a intensificação do conflito. Neste ponto, a atuação das autoridades políticas e policiais deixou muito a desejar, seja porque não ofereceu a devida proteção aos moradores dessas áreas, em parte, inclusive, intensificando os conflitos através das operações policiais, mas também porque não atua sob as bases políticas e econômicas desses grupos e nem na lógica do controle territorial armado, que como o caso Marielle mostrou, é o (que) estrutura o poderio desses grupos” aponta Daniel Hirata, coordenador do GENI-UFF.

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