Arqueóloga carioca ganha prêmio internacional por descoberta do Cais do Valongo

Tania Andrade Lima comandou as escavações que revelaram o sítio arqueológico, em 2011. O espaço hoje é Patrimônio Mundial da Unesco

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A arqueóloga carioca Tania Andrade Lima (Foto: Acervo pessoal)

A carioca Tania Andrade Lima é uma das vencedoras do prêmio internacional Hypatia Award 2023, por seus serviços prestados à Arqueologia, à História e ao Patrimônio Cultural da humanidade. A arqueóloga se destacou pela descoberta do Cais do Valongo, na Zona Portuária do Rio, que ajudou a reescrever a história da escravidão nas Américas, em especial no Brasil

Tania está entre os 10 profissionais homenageados com o prêmio neste ano, em cerimônia que vai acontecer no dia 16/10, na abertura da 6a Bienal de Restauro Arquitetônico e Urbano (BRAU6), em Florença, na Itália.

Concedido pela Confederação dos Centros Internacionais para a Conservação do Patrimônio Arquitetônico (CICOP Net), o prêmio celebra o trabalho de mulheres e homens que contribuem para o progresso do conhecimento científico em suas áreas de atuação.

Em 2011, escavações conduzidas pela arqueóloga no Porto Maravilha revelaram os vestígios do Cais do Valongo, antigo cais de pedra onde se estima haverem aportado mais de um milhão de africanos escravizados. Pela importância da descoberta, em 2017, o Sítio Arqueológico Cais do Valongo foi declarado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

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Cais do Valongo (Foto: Cleomir Tavares/ Diário do Rio

Com carreira dedicada à Arqueologia, Tania é pesquisadora sênior do CNPq e professora aposentada do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ, de cujo Programa de Pós-Graduação em Arqueologia ela foi fundadora, coordenadora e para o qual ainda hoje colabora, orientando teses e dissertações e ministrando disciplinas.

Tendo sido presidente e vice-presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Tania integra o conselho editorial de revistas científicas no Brasil, América do Sul e Europa, além de já ter recebido diversas láureas, como a Comenda da Ordem do Mérito Cultural concedida pelo Presidente Luiz Inacio Lula da Silva, em 2006, e o Prêmio Globo “Faz Diferença”, na categoria “Rio”, em 2016.

Brasil no Hypatia Award

O mais recente reconhecimento ao trabalho de Tania é um prêmio concedido a poucos brasileiros, sobretudo em sua área de atuação – ela é a segunda arqueóloga do País a receber o Hypatia, que também foi dado a Niède Guidon, em 2020, por sua atuação na criação e conservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, igualmente tido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Mas Tania não será a única representante do Brasil na cerimônia de entrega do Hypatia Award 2023. Além dela, entre os dez profissionais homenageados com o Hypatia neste ano, estará também o padre Júlio Lancellotti, por sua luta contra a arquitetura hostil que impede moradores de rua se abrigar em espaços públicos e sua defesa de projetos urbanísticos inclusivos. Serão, portanto, dois brasileiros ilustres por trabalhos dedicados a reparar injustiças: um atuando nos dias de hoje, a outra ajudando a jogar luzes em um passado que não pode jamais ser esquecido – o que não deixa de ter efeitos concretos no presente.

“Mais que um prêmio à minha pessoa, a grande premiada foi a Arqueologia, que nem sempre é valorizada pela capacidade que tem de trazer à tona verdades indesejáveis, dolorosas, que muitos desejam esquecer ou ignorar”, observa Tania. “O Cais do Valongo denuncia a que ponto as pessoas são capazes de chegar no ódio e no desprezo por aqueles que são diferentes delas, ultrapassando todos os limites da intolerância e da perversidade humana.”

Para a arqueóloga, a aclamação a obras como a do Cais do Valongo “constitui uma demonstração vigorosa de que uma parte muito expressiva da humanidade rejeita essa ideologia” e ajuda a “deter o violento preconceito racial que vem se alastrando nos últimos anos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. O racismo que a gente via antes disfarçado, escondido dentro do armário, perdeu a vergonha e se soltou despudoradamente. Então, todo esforço de convencimento precisa ser feito na direção contrária, e o prêmio Hypatia é um passo importantíssimo nessa direção. É uma voz muito alta que se levanta em defesa dos que são humilhados pelo preconceito racial – daí minha mais que infinita gratidão por esse prêmio.”

Iphan coordena gestão compartilhada do Cais do Valongo

Desde 21 de março deste ano, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), coordena o Comitê Gestor do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, entidade responsável por estabelecer diretrizes e monitorar a efetividade das ações de preservação e salvaguarda do bem. O comitê é composto por 15 instituições representativas da sociedade civil e 16 governamentais nas esferas federal, estadual e municipal.

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