A arte e as expressões artísticas sempre estiveram presentes na vida humana. Podemos perceber isso desde a época das cavernas, onde as primeiras expressões documentadas são os desenhos. De lá para cá a arte se desenvolveu e alcançou diversas áreas da nossa vida, dentre elas a saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as artes são necessárias para ajudar a compreender e comunicar nossas emoções, estimulando assim nossos sentidos e nossa capacidade de empatia, tornando-se assim uma importante aliada quando o assunto é saúde mental e questões neuroatípicas.
E aqui no Rio de Janeiro, esse movimento de unir arte e bem-estar mental, vem acontecendo em alguns eventos como foi o caso da inauguração que aconteceu na última sexta-feira (21/06) da nova unidade do Centro de Atenção Psicossocial (Capsi) Miguel Couto, que contará com uma estrutura com capacidade 500 atendimentos por mês.
Inaugurado pela Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, a solenidade de abertura da nova unidade contou com a presença da Companhia Teatral Estilhaça, que levou até as crianças e pacientes atendidos na unidade, personagens do Fantástico Mundo de Alice, espetáculo apresentado pela Cia no ano de 2020 e que dialogam com a saúde mental, com a dinâmica da diferença e da diversidade.
Não é a primeira vez que a Cia participa de ações como essa, segundo o diretor da Companhia Matheus Raineri, ele e seus atores já haviam participado de ações que somavam saúde mental e artes levando algumas ações com palhaços em outras clínicas.
Matheus que também é professor de teatro, vê a arte como uma importante aliada quando o assunto é saúde mental e as questões neuroatípicas tão presentes na nossa sociedade. “O teatro é uma arte que nos lança na busca de nós mesmos! É o autoconhecimento, a autoescavação, a auto busca! Com isso, quando falamos de crianças neuroatípicas, estamos necessariamente falando não de uma doença, mas de uma condição. Quem eu sou? Deve ser a pergunta! E o teatro responde. Responde à medida que o ator/atriz faz essa investigação árdua, às vezes dolorosa, mas sempre gratificante. Tenho dezenas de alunos que – a partir de uma aula de teatro – foram descobrindo suas condições, reconhecendo transtornos, até mesmo patologias clínicas! Coisa que eles não descobriram com exames. A autoanálise, o autoconhecimento são muito frutíferos e nos ajudam a compreender como lidar seja com a condição em que se encontram, seja no tratamento de alguma patologia”, comenta o diretor.
Para Lucas Raineri enfermeiro, especialista em psiquiatria e mestrando em saúde mental na UNIRIO, a junção da arte no tratamento de questões neuroatípicas e de saúde mental é uma grande aliada pois “A arte é a mais efêmera forma de expressão. Ela nos conecta com o nosso eu, mais profundo, e nos colore de dentro para fora. Trás vida, trás fôlego e renova o hálito. Nem sempre encontramos de maneira verbal, a melhor forma de comunicar o que sentimos, mas é através da arte que encontramos instrumentos de expressão mais singulares que nos ajudam a transmitir aquilo que nos assola. E não é preciso ser um artista nato, basta sentir e se deixar ser afetado por essa arte. Não há uma pessoa que não sorria com uma música, que não bata palma após uma apresentação de dança ou que não se emocione após um espetáculo teatral. A mesma cura proporcionada pela arte a pessoas neurotípicas é a cura alcançada por pessoas neuroatípicas” complementa o especialista.
Como destaca a Organização Mundial da Saúde (OMS), estar em contato com a arte e a participação em atividades artísticas pode aumentar a auto-estima, a autoaceitação e a autoconfiança, ajudando nos níveis de bem-estar, socialização e resiliência, além de entender emoções difíceis em momentos de emergência e eventos desafiadores, trazendo uma melhora da capacidade de resolução de conflitos através do desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais.