O bacalhau é um dos pratos mais tradicionais da culinária brasileira, podendo ser servido de diferentes formas. Difícil encontrar alguém que não tenha provado ao menos um bolinho de bacalhau ao longo da vida, o que explica o fato do Brasil ser o maior consumidor do mundo do produto – em números absolutos, claro, pois o consumo por pessoa é ainda maior em Portugal.
É, aliás, a conexão com a terrinha que explica essa relação do nosso país com um peixe tão distante, que vem lá da Noruega, do Mar do Norte. O bacalhau caiu no gosto dos portugueses séculos atrás, tendo o prato se espalhado por todas as suas colônias ao redor do mundo, como Angola, Moçambique e Timor Leste. A tradição se mantém forte até hoje, em toda a comunidade lusófona. Ou seja: para muito além da culinária, o bacalhau se tornou um relevante elemento da nossa identidade nacional, pela cultura e pela religião (basta ver o quanto o consumo aumenta em datas cristãs, como a Páscoa e o Natal).
Ora pois, e qual a relevância disso tudo? Pois bem, há hoje um enorme risco do preço do peixe ficar ainda mais salgado: na reforma tributária, o bacalhau ficou de fora das alíquotas diferenciadas que foram criadas para as carnes, as aves e os peixes, ficando no grupo dos itens “de luxo, importados” (com uma carga tributária superior a de hoje, o que certamente resultará em um preço bem maior para o consumidor final).
Difrerentemente de certos produtos, que podem ser substituídos por opções nacionais, o bacalhau é feito de peixes encontrados apenas em algumas regiões específicas do mundo, nenhuma delas na costa brasileira. Para manter esse produto sendo fornecido aos brasileiros, dependemos da importação dele (aliás, mesmo Portugal também depende). Apesar de vir de fora, não devemos tratá-lo como um produto de luxo, exatamente pela sua tradição e forte presença na culinária brasileira, sobretudo em cidades com relevante influência da comunidade portuguesa (como o nosso Rio).
Um dado relevante sobre isso foi apontado pela Casas Pedro, em artigo publicado no jornal “O Globo”[1]: as lojas de Madureira, Alcântara e Nova Iguaçu vendem, sozinhas, mais bacalhau que as quatro lojas de Copacabana… juntas. Prova inegável do quão importante o peixe é para a nossa população. Além disso, basta uma ida ao CADEG, oficialmente o mercado municipal do Rio de janeiro, e andar pela avenida central para ver quilos e mais quilos de bacalhau à venda, de ambos os lados. No coração da Zona Norte do Rio, o grande destaque é o peixe (inclusive, acontece agora em Novembro um festival em homenagem a ele, fica a dica![2]).
Fica aqui então o apelo aos nossos Congressistas, deputados e senadores, para que revejam esse ponto e dêem igual tratamento ao bacalhau, em comparação às demais carnes consumidas pela nossa população. Como diria a torcida vascaína, que tem a iguaria também como seu mascote: “Vamo, bacalhau!”.
[1] https://oglobo.globo.com/blogs/capital/post/2024/11/o-alerta-da-casas-pedro-reforma-tributaria-vai-salgar-o-bacalhau.ghtml
[2] https://www.festivalbacalhaudanoruega.sindrio.com.br/