Não há nada mais carioca do que uma – saudável – discussão bairrista sobre as regiões da cidade. Enquanto na Zona Norte os cariocas “raiz” brigam para decidir se o Méier é melhor que a Tijuca (e os tijucanos se esforçam para convencer todo mundo de que a Tijuca não é subúrbio), do outro lado da cidade, a elite também entra na disputa sobre qual região é a mais valiosa: Zona Sul ou Barra da Tijuca. E adivinhe? A Barra, com sua fama de polêmica, sempre está no centro das atenções.
Urbanizada nos anos 70, a Barra foi um bairro planejado por Lúcio Costa, mas só ganhou “gostinho de moradia” nos anos 90, quando as construtoras começaram a enxergar ali uma mina de ouro para o mercado de luxo. Enquanto na Zona Sul cada pedaço de rua é adaptado com uma sofisticação quase estratégica, na Barra não falta espaço – e foi lá, mais distantes da realidade do restante do município, que muitos cariocas fincaram raízes. O bairro se transformou em um verdadeiro “império” de shoppings, e o estilo de vida local passou a ser bem parecido com o modelo americano. O famoso Barra Way of Life é quase um anexo do Rio de Janeiro, e na cabeça de muitos “barrenses”, é ali que a coisa realmente funciona.
E, olha só que interessante, recentemente o caderno da Barra do O Globo lançou uma enquete para saber: “Qual é o principal transtorno que você enfrenta na sua rotina na Barra da Tijuca e arredores?” A pesquisa ainda está rolando, mas o jornal já soltou um spoiler dos resultados parciais. E adivinhem o que está no topo da lista? A desordem no entorno da estação Jardim Oceânico do metrô (quem diria?) e, pasmem, o barulho do tráfego de helicópteros e pequenas aeronaves passando a poucos metros dos prédios residenciais. A ideia de aumentar o fluxo no Aeroporto de Jacarepaguá, que deveria facilitar a vida dos moradores — que precisavam cruzar a cidade para embarcar — tem se tornado um pesadelo. Parece que a paz de quem mora na região não está decolando tão bem, não.
Bairro planejado desde 1970 com anuência do poder público está uma desordem por terra e ar. Agora imagine o restante do Rio e do país com bairros e comunidades sem planejamento e total ausência de fiscalização do parcelamento do solo. Vemos e vimos diversos loteamentos irregularidades e clandestinos sendo negociados as escancaras do poder público por esse Brasil a fora.