No período colonial foram criadas diversos arraiais e vilas para ocupação do novo território após a chegada cabralina, em 1500. No entanto, a primeira cidade implantada com tal fórum foi Salvador, na Bahia, em 1549, para sediar a capital do Governo Geral e, dois anos depois, o primeiro bispado do Brasil.
Mesmo fundada como cidade em 1565, o Rio de Janeiro continuou sob jurisdição eclesiástica da Bahia. Em 1575, o Papa Gregório XIII criou a Prelazia de São Sebastião do Rio de Janeiro, ainda sob administração do Bispado de Salvador.
Apenas em 1892 o Papa Leão XIII elevou a diocese do Rio à categoria de Arquidiocese e Sé Metropolitana, definindo a hierarquia eclesiástica brasileira com duas sedes: Bahia e Rio de Janeiro.
Segundo o site da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 2024 existem na cidade cerca de 300 paróquias, 800 capelas, 07 basílicas e 10 santuários.
Segundo o Código de Direito Canônico da Igreja Católica, paróquia (do grego paroikein, que pode significar “viver junto”, “habitar próximo” ou simplesmente “peregrino”), é uma determinada comunidade de fiéis, constituída de forma estável, sob responsabilidade de um pároco, submetido à autoridade do bispo diocesano.
Portanto, uma paróquia compreende mais do que a Igreja Matriz local, como também as comunidades da região abrangida por ela, que pode receber capelas para auxiliar o culto.
Para melhor compreensão, uma paróquia equivale a uma “região administrativa” eclesiástica, no caso do Rio de Janeiro, enquanto as capelas podem ser associadas a bairros, do ponto de vista da abrangência, todos submetidos ao pároco.
Capela, portanto, é uma edificação consagrada também usada para celebração de ritos católicos, como missas, casamentos, batizados, festividades. Alguns exemplares podem estar em fazendas, colégios, hospitais, quartéis, por vezes recebendo o atendimento de um capelão, como é comum em instituições militares.
Além deles, temos ainda as basílicas e santuários.
O título de Basílica está diretamente associado a uma decisão papal, tornando-se uma referência litúrgica, em comunhão com as orientações diretas do Vaticano. O termo, originariamente relacionado a grandes edifícios públicos com funções diversas, passou a ser utilizado para igrejas que receberam ritos especiais, algumas abrigadas em antigas construções basilicais romanas.
Existem apenas quatro Basílicas Maiores, todas em Roma: São Pedro, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros. Todas as demais, distribuídas pelo mundo católico, recebem o título de “Basílica Menor”.
A cidade do Rio de Janeiro conta com sete Basílicas Menores, distribuídas por seus bairros mais tradicionais, desde o início do século XX.
A igreja dedicada a Santa Teresinha do Menino Jesus, situada à Rua Mariz e Barros, 354, na Tijuca, é a primeira Basílica Menor da cidade, recebendo reconhecimento pontifício do Papa Pio XI, no dia 20 de julho de 1927, dois anos após a canonização de sua padroeira.
A fachada principal, confinada entre edifícios altos, guarda semelhança com a capela do Carmelo de Lisieux, na França, onde Santa Teresinha viveu até sua morte, em 1897.
A segunda Basílica Menor do Rio, a igreja de Nossa Senhora de Lourdes, localizada no Boulevard 28 de setembro, 200, em Vila Isabel, recebeu esse título em 23 de maio de 1959, concedido pelo Papa João XXIII.
A construção foi iniciada em 1914, com projeto do arquiteto italiano Antonio Virizi, professor da Escola de Belas Artes e autor de notáveis edificações no Rio de Janeiro, demolidas pelo descaso modernista e a especulação imobiliária. O conjunto apresenta uma fachada com influência da arquitetura românica medieval, com predomínio dos cheios sobre vazios. A torre sineira, concluída em 1943, é um elemento arquitetônico singular pelo seu posicionamento em diagonal e arremate escalonado. Internamente, o altar mor faz alusão à gruta de Lourdes, representando a devoção do templo.
A igreja da Imaculada Conceição, na Praia de Botafogo, 266, foi construída para abrigar a capela de um colégio religioso. Idealizada pelo Padre Julio Clavelin, teve sua pedra fundamental lançada em 1886 e foi concluída seis anos depois. Após tornar-se paróquia, no início da década de 1960, foi elevada a Basílica Menor pelo Papa Paulo VI.
O edifício originalmente destacava-se na paisagem da praia, principalmente pelo verticalismo de sua torre central, inspirada nas capelas góticas medievais. Internamente mantém as referências ao repertório exterior com seus arcos ogivais e abóbadas de aresta, além da iluminação envolvente através dos vitrais coloridos como antigas catedrais. A construção de um viaduto diante do templo comprometeu sua visibilidade e relação original com a paisagem, incluindo o Cristo Redentor no Corcovado, como cenário.
Conforme coluna deste jornal, no dia 25 de agosto de 2024, a Igreja Imaculado Coração de Maria, na Rua Coração de Maria, 66, Méier, comemorou 60 anos de sua elevação à condição de Basílica Menor também pelo Papa Paulo VI em 1964.
O templo católico foi construído entre 1909 e 1929, projetado pelo arquiteto e professor da Escola Nacional de Belas Artes, Adolpho Morales de los Rios, autor também do novo edifício da escola, na recém-aberta Avenida Central. A edificação apresenta um singular partido estético para arquitetura religiosa no Brasil, pois adota elementos da arte mudéjar, desenvolvida na Península Ibérica sob influência da ocupação muçulmana, mesmo para edificações cristãs. Genericamente, estes poucos exemplares são denominados neomouriscos, destacados pela utilização dos tijolos aparentes, torreões à feição de minaretes e interiores ricamente ornamentados, como o sede do Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos.
A Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, na Rua Haddock Lobo, 266, Tijuca, historicamente é um dos mais importantes templos católicos da cidade, pois está relacionada à sua fundação e ao padroeiro. Originalmente implantada em uma modestíssima capela à beira-mar, junto ao Pão de Açúcar, recebeu um novo edifício no alto do Morro do Castelo, para onde a cidade foi transferida em 1567. Ali permaneceu até o arrasamento do Morro pela prefeitura, em 1922, estabelecendo-se provisoriamente na Rua Conde de Bonfim até a conclusão de seu novo tempo, em 1931. Na década seguinte, entre 1941 e 1942, recebeu novas obras projetadas pelo arquiteto Ricardo Buffa, que definiu o partido de sua fachada e interiores, como o altar-mor, com influência bizantina e requintada ornamentação.
Considerando a importância das relíquias que abriga, como a imagem original do padroeiro São Sebastião, os restos mortais do fundador da cidade, Estácio de Sá e o marco simbólico da fundação, o tempo foi elevado à categoria de Santuário em 20 de janeiro de 2014 e, no dia de Todos os Santos do mesmo ano, o Papa Francisco elevou o santuário à Basílica Menor.
O Santuário de Nossa Senhora da Penha de França, com acesso pelo Largo da Penha, 19, junto ao tradicional Parque Shangai, recebeu o título dignatário de Basílica Menor no dia 16 de junho de 2016, outorgado pelo Papa Francisco, transformando o templo na Basílica Santuário Arquidiocesano Mariano de Nossa Senhora da Penha de França. A igreja já fora elevada à categoria de Santuário Perpétuo em 1966 e, em 1981, acrescentou a categoria de Santuário Arquidiocesano Mariano.
A capela primitiva foi construída em 1635, no alto do penhasco, tornando-se local de peregrinação. Inúmeros fiéis sobem a escadaria lavrada na rocha, com seus quase 400 degraus, muitos deles de joelhos, carregando seus ex-votos, como agradecimento pelas graças alcançadas.
No final do século XIX, o arquiteto português Luiz Moraes Jr., autor do projeto para a sede da Fundação Oswaldo Cruz, promoveu uma grande reforma no antigo templo, conferindo a feição goticizante, comum para arquitetura religiosa no período do ecletismo em diversos edifícios da cidade e do país.
A Igreja da Penha está implantada em uma posição privilegiada, podendo ser observada de diversos pontos da cidade, com sua fachada principal balizada por duas torres pontiagudas, simétricas, voltada para a luz dourada do nascente que incide sobre o altar mor.
Um dos mais tradicionais templos da cidade, a igreja de São João Batista da Lagoa, na Rua Voluntários da Pátria, 287, Botafogo, cuja pedra fundamental foi lançada em 1831, concluída em 1841, é a mais recente Basílica Menor do Rio de Janeiro. O título foi concedido pelo Papa Francisco, em 22 de fevereiro de 2024, considerando a importância da igreja e sua contribuição para a fé católica por quase dois séculos.
Com o crescimento da população local, muito rapidamente o antigo templo, projetado não atendia às funções religiosas e, a partir de 1873, houve a ampliação, quase uma reconstrução total, que conferiu à igreja uma fachada com influência clássica, composta de um corpo central arrematado por frontão triangular e duas torres simétricas, concluídas em 1900. O projeto é atribuído ao arquiteto Bethencourt da Silva, autor de muitas obras na cidade como o próprio Cemitério São João Batista.
Diferente das basílicas menores, o Santuário é um local de peregrinação, geralmente associado à demonstração de fé da população em relação a algum fato referencial, como a atribuição de algum milagre ou guarda de relíquias.
A capital fluminense conta com dez santuários, alguns deles aqui citados, pois também agregam a categoria de basílica menor. São eles, em ordem alfabética: Cristo Redentor do Corcovado; Divina Misericórdia, em Vila Valqueire; Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, em Vargem Pequena; Nossa Senhora da Penha (também Basílica Menor, aqui citada), na Penha; Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa, Tijuca; Nossa Senhora de Fátima, no Recreio dos Bandeirantes; Nossa Senhora do Loreto, na Freguesia / Jacarepaguá; Santa Edwiges, em São Cristóvão; São Judas Tadeu, no Cosme Velho e o Santuário Basílica de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, na Tijuca.
Para não enfastiar o leitor, deixemos para uma nova oportunidade alguns comentários sobre esses templos, que receberam o título dignatário em ocasiões distintas.