“Uma carioca que se apaixonou por São Paulo.” Assim era a descrição de uma funcionária no site de uma empresa paulista. A frase, aparentemente inocente, é um reflexo da realidade que o Rio de Janeiro enfrenta: a perda de jovens talentos para outras cidades, principalmente para a efervescente São Paulo, que brilha como um polo magnético de oportunidades.
O Rio, nos anos pré Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, viveu anos de esplendor e vitalidade. Nas empresas circulavam jovens de todas as regiões do país encantados com a vida na cidade e serviços e negócios se multiplicavam pelos mais variados bairros. Hoje, quase dez anos depois, em vez de um legado frutífero, prevalece a percepção dominante de que nos tornamos aquele velho balneário onde as perspectivas são limitadas.
A Educação, contudo, é o epicentro da mudança, onde a transformação pode florescer. A ciência comprova que as altas expectativas dos professores impactam positivamente na aprendizagem dos alunos, e é aqui que podemos encontrar um ponto de convergência com São Paulo. Não somos iguais, mas também não somos diferentes demais para almejar um futuro brilhante para nossa cidade.
O potencial criativo do carioca, a premissa da economia circular, a riqueza intrínseca de nossas comunidades – esses são os pilares que podem sustentar uma nova era. O Rio não deve ser apenas um destino turístico, mas sim um farol de qualidade de vida, produtividade e riqueza cultural, abraçando ideias inovadoras que possam rivalizar com os melhores centros de negócios do país.
Entretanto, para que essa visão se concretize, é imperativo enfrentar a crise educacional. Desde a educação infantil ao ensino superior há muito sendo feito, mas uma oportunidade aparece no horizonte e não deve ser desprezada.
A rede estadual de educação do Rio de Janeiro já ocupou a 4a posição no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2014. Hoje, despencou e amarga a última posição dentre os estados do sudeste. Falta de continuidade de políticas, corrupção, ausência de ações concretas voltadas à melhoria da carreira docente são alguns dos fatores que podem ser citados. Porém, a reforma do ensino médio, atualmente em reavaliação pelo governo federal e que deve ser apresentada nas próximas semanas, apresentava uma potencial oportunidade para reter nossos jovens, reduzindo a evasão escolar que tanto nos aflige através de um currículo mais interessante, prático e alinhado com o futuro do trabalho.
Através dos itinerários formativos – que são disciplinas eletivas, projeto de vida e aprofundamentos para Educação Profissional e Tecnológica – ponto central dessa reforma, os alunos teriam formações complementares ao conteúdo tradicional, possibilitando uma aprendizagem mais concreta que contribuiria para inserção no mercado de trabalho imediato e diferentes alternativas para aqueles que não desejam a formação universitária. Aqui entraria o empresariado como peça vital do quebra-cabeça.
Abraçando a causa da educação, em colaboração com o estado, eles poderiam apoiar a construção de tais itinerários, seja disponibilizando conhecimento técnico para a elaboração de tais percursos de aprendizagem quanto oferecendo oportunidades de trabalho, estágios e interações mais frequentes com nossos jovens estudantes. Isso os prepararia para as oportunidades locais e, ao mesmo tempo, criaria um cenário econômico mais vibrante e integrado.
O envolvimento ativo das empresas na construção desses itinerários seria um investimento no futuro das cidades e uma excelente maneira de se engajar na elaboração de melhores políticas educacionais. Se perdíamos mentes brilhantes para São Paulo, agora teríamos a chance de reverter essa tendência, oferecendo um ambiente onde o talento não só permanece, mas floresce.
Neste momento, nos encontramos diante de semanas cruciais, em que o horizonte desta transformação educacional assume contornos incertos. O Ministério da Educação (MEC) lança sombras de dúvida sobre a continuidade da implementação da reforma do ensino médio, principalmente no que diz respeito à diversidade de possibilidades de itinerários formativos. Justamente o que poderia trazer um valor imenso aos nossos estudantes e ao futuro do Rio de Janeiro. Diante dessa encruzilhada, é essencial que o empresariado se posicione em torno dessa causa tão promissora.
A Educação do Rio de Janeiro precisa ajudar a reconquistar os corações e mentes de seus filhos talentosos, e retomar seu lugar como um polo de excelência. Contribuir para qualificação da mão de obra local passa por investir na educação por meio da continuidade das políticas que vinham sendo implementadas. Ao contar com o apoio ativo do empresariado, o Conselho Empresarial de Educação da ACRJ está pavimentando o caminho para um futuro mais brilhante, onde o título de “Cidade Maravilhosa” não se restringe apenas à beleza natural, mas também à força e ao potencial de sua população que unida caminhará para um Rio de Janeiro que é excelente para se viver, trabalhar, empreender, investir e visitar.
Beatriz Alquéres
Vice presidente do Conselho de Educação da Associação Comercial do Rio de Janeiro
Sendo a educação em um lugar então se escreve Educação no Rio de Janeiro, e não do Rio de Janeiro, certo?