Bernardo Egas: A Revolução das Bitucas

Bernardo Egas fala sobre o início de seu trabalho de retirada de bitucas das praias, que vem sendo chamado de “Revolução das Bitucas”

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A Cidade Maravilhosa possui algumas das praias urbanas mais lindas do mundo. Suas paisagens incríveis com muita beleza natural e ambiente descontraído, são os destinos preferidos de muitos turistas e moradores. No entanto, esse cenário contrasta com um problema persistente que tem comprometido a qualidade do paraíso costeiro: o lixo. São inúmeros tipos de resíduos que comprometem a qualidade da areia e da água, colocando em risco a saúde humana, animal (pets) e a vida marinha.

Entre os resíduos encontrados, as bitucas de cigarro são, inegavelmente, os mais comuns em praias de todo o mundo e o símbolo mais extremo desse grave problema. São produzidos aproximadamente 6 trilhões de cigarros por ano no mundo, consumindo 32 milhões de toneladas de folhas de tabaco, gerando 80 milhões de toneladas de dióxido de carbono, CO2.

Anualmente, milhões de toneladas desses resíduos tóxicos são despejados nas praias, poluindo nossos ecossistemas marinhos e costeiros. Um estudo inédito, realizado em 2020 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), revelou que os banhistas que frequentam as praias no país dividem espaço, em média, a cada trecho de 8 quilômetros, com mais de 200 mil bitucas de cigarro, 15 mil lacres, tampas e anéis de lata, 150 mil fragmentos de plásticos diversos, 7 mil palitos de sorvete e churrasco e 19 mil hastes plásticas de pirulitos e cotonetes.

O impacto ambiental é alarmante. As bitucas de cigarro contêm materiais tóxicos, como acetato de celulose, alcatrão e produtos químicos do tabaco. Quando tais substâncias entram em contato com a água do mar, ocorre a liberação de poluentes que afetam a vida marinha. Peixes e aves frequentemente ingerem fragmentos de bitucas, resultando em consequências negativas para a saúde da fauna marinha e, eventualmente, para a nossa própria saúde, uma vez que estamos no topo da cadeia alimentar. Além disso, as crianças e animais que brincam na areia podem entrar em contato com resíduos tóxicos de bitucas, expondo-se a riscos indesejados.

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As causas primárias do problema das bitucas na praia são o comportamento de parte da sociedade, carente de consciência ambiental, e a omissão da indústria do cigarro, que desrespeita o conceito de logística reversa, previsto em lei. A falta de infraestrutura apropriada para o descarte correto e incentivos para a reciclagem também são pontos importantes. A ausência de lixeiras e cinzeiros específicos para bitucas nas praias contribui para a disseminação desse resíduo. A produção e distribuição em massa, a publicidade e o marketing agressivos da indústria do tabaco também têm sua parcela de responsabilidade.

Ao mesmo tempo, a conscientização sobre este problema está crescendo e é hora de reverter esta ameaça.

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Em praias de todo o mundo, diversas soluções têm demonstrado resultados significativos no combate às bitucas de cigarro. Locais que implementaram infraestrutura apropriada e reforçaram as leis de descarte testemunharam avanços significativo nesse desafio.

Um exemplo inspirador ocorreu em San Diego, Califórnia, onde a Surfrider Foundation conduziu a campanha de conscientização “Hold On to Your Butts” (Segure Suas Bitucas), educando os frequentadores da praia sobre os impactos ambientais das bitucas. A cidade também instalou mais de 400 cinzeiros de praia e lixeiras específicas, atingindo excelentes resultados.

Bondi Beach, uma das praias mais conhecidas da Austrália, também se tornou exemplo nessa luta. As autoridades locais implementaram rigorosas medidas de fiscalização, incluindo multas substanciais para as pessoas flagradas jogando bitucas na areia. Além disso, incentivaram os frequentadores da praia a utilizar os cinzeiros disponíveis.

No Reino Unido, a organização não governamental “Surfers Against Sewage” (Surfistas contra o Esgoto) lançou a campanha “Return to Offender” (Devolva ao Ofensor). Eles coletaram bitucas de cigarro nas praias e as enviaram de volta às empresas de tabaco responsáveis. Criando grande repercussão sobre o problema, conseguiram pressionar a indústria a considerar alternativas mais ecológicas para seus produtos.

O Havaí, famoso por suas praias deslumbrantes, obteve sucesso tomando medidas ainda mais enérgicas para enfrentar o problema das bitucas. Além de campanhas de conscientização, eles introduziram legislação que proíbe o consumo de cigarros em praias, parques e áreas costeiras.

Na Espanha, onde 22% da população fuma, a legislação também vem sendo bastante aprimorada. Já são 500 praias onde fumar é proibido. Em Barcelona, por exemplo, todas as praias estão livres do cigarro. Além disso, como parte de um plano da União Europeia contra o lixo, a Espanha obrigará as empresas de tabaco a custearem parte das ações de limpeza das cidades.

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No Rio de Janeiro, iniciei um desafio de retirada de bitucas das praias que, aos poucos, vem ganhando o apoio de vários amigos e voluntários. Em um mês, atuando sempre apenas uma hora por dia, todos os dias, conseguimos coletar manualmente cerca de 20 mil bitucas na Praia de Copacabana. Amigos passaram a chamar o movimento, carinhosamente, de “Revolução das Bitucas” e quem participa tem sido apelidado de “bituqueiro”. Estamos apenas no início, mas não vamos parar até que a Revolução das Bitucas também possa incluir a cidade do Rio de Janeiro no rol de “cases” de sucesso em conscientização ambiental, responsabilização da indústria, proposições legislativas e, principalmente, a valorização do maior ativo da nossa cidade: a natureza!

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