As Bibliotecas Parque irão funcionar como em polos de reforço escolar. Tanto na Rocinha quanto em Manguinhos, já existem professores empenhados em auxiliar alunos de todas as idades a superar dificuldades nos estudos. Depois de meses afastados das salas de aula por conta da pandemia, os participantes estão encontrando nos cursos a oportunidade de recuperar o tempo perdido e buscar superação.
Na Rocinha, as aulas têm ocupado o horário noturno, sempre às segundas, terças e quintas-feiras, para alunos do quarto ano do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Há também aulas de inglês e espanhol, às quintas-feiras, para todas as idades, a partir das 17h. O trabalho é desenvolvido por voluntários da Associação de Reforço Escolar Fundamental – RefRocinha, professores tanto da rede pública quanto privada que se dispõem a ensinar gratuitamente fora de seus expedientes de trabalho.
A metodologia do grupo segue o princípio de identificar as dificuldades de cada aluno e procura adequar o nível deles à série em que estudam. Para o ensinamento não se tornar cansativo, até por conta do horário, as informações são passadas de forma lúdica, muitas vezes com contação de histórias, e o resultado tem sido bom. O coordenador do projeto, Gabriel Henrique Gonçalves Silva, de 24 anos, é ex-morador da comunidade e encara o desafio como uma missão.
“Percebemos que alguns alunos tiveram uma evolução muito rápida. Teve um caso de um aluno de 13 anos que nem sabia ler e conseguiu aprender. É muito recompensador – conta o coordenador, que lidera grupo de oito professores, atendendo 190 alunos, incluindo espaço numa igreja local”.
O aluno Pietro Souza da Silva, de 13 anos, está no sétimo ano do Ensino Fundamental e precisa do reforço para avançar em Língua Portuguesa e História. Ele conta que durante a pandemia teve dificuldade em assistir às aulas on-line por causa da qualidade da internet em casa.
“Minha mãe pagava aula de reforço, mas ficou caro para ela. Aqui é gratuito, e eu acesso a internet no celular pelo wifi”, diz o menino.
Michel Guimarães Soares, 12 anos, está no sétimo ano e sofre com a matemática.
“Minha mãe ficou preocupada e me colocou no reforço da Biblioteca Parque”, conta ele.
O projeto da Rocinha conta com doações de material escolar e recebe apoio do Departamento de Educação da PUC-Rio, que avalia alunos e professores. A estrutura da Biblioteca Parque, com sua lan house, seu acervo de livros e videoteca é outro fator que ajuda na turbinada necessária aos alunos do reforço escolar.
Estrutura parecida é encontrada em Manguinhos, onde começam a surgir projetos de voluntários dedicados à educação. Natália Oliveira, de 29 anos, é missionária da Comunidade Católica Shalom e dá aula de redação todas as terças-feiras, à tarde, no lugar.
“A maior dificuldade dos alunos é desenvolver um texto mais longo. Talvez por conta da internet, às vezes não conseguem escrever mais do que cinco linhas. Além de procurar aprimorar a escrita, meu objetivo é estimular a leitura e aqui é o lugar ideal para isso”, afirma a professora, que procura estimular a consulta ao acervo da própria biblioteca por parte dos alunos.
A maioria dos participantes pensa em se preparar para a universidade ou fazer um concurso público. Por isso, o reforço em redação é fundamental. Yasmin da Silva Souza, de 13 anos, conta que em sua escola as aulas de escrita foram abandonadas a partir do sétimo ano, e esse aprimoramento faz falta.
“Pretendo fazer o Enen e realizar concurso para a Marinha ou Exército. Por isso estou começando a me preparar”, diz a estudante.
Marcos Alexandre Carvalho Silva, 18 anos, já concluiu o Ensino Médio e também pretende ingressar nas Forças Armadas, mas procura superar as dificuldades com o texto.
“Meu maior problema é com a pontuação. Por isso, procurei esse curso”, afirma Silva.
A administração da Biblioteca de Manguinhos já procura outras parcerias para oferecer aulas de inglês e espanhol e outras disciplinas. Ainda há vagas em todas as turmas de reforço das duas bibliotecas. Para se inscrever, o responsável pelo estudante precisa procurar a recepção da unidade.