Bittar: Pequena homenagem à Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

William Bittar conta a história da fundação do Rio de Janeiro e como os problemas daquela época continuam até hoje na cidade

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Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

Primeiro de março. 457 anos da fundação de São Sebastião do Rio de Janeiro, implantada sem passar pelas etapas de arraial e vila, surgindo como cidade, a segunda do Brasil, após Salvador. Sempre oportuno registrar que 20 de janeiro, data que por vezes confunde o próprio habitante como data da fundação, é dedicado ao padroeiro e assinala a expulsão dos franceses das margens da baía de Guanabara, cuja denominação a tradição associa ao tupi guaná-pará, que indica um romântico topônimo: seio do mar.

A região onde se implantou a cidade foi identificada antes mesmo da fundação oficial portuguesa, em 1565. Nos primeiros anos de colonização, as expedições exploradoras da costa brasileira haviam localizado uma grande baía, que as primeiras impressões registravam como um estuário, situação corroborada em mapas holandeses no início do século XVII, registrando aquela enseada como flúmen (rio, em latim), portanto fluminenses os habitantes de suas margens.

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Perseguições religiosas trouxeram os franceses de Villegagnon, que aqui se estabeleceram em 1555, ocupando algumas das ilhas que pontilham a baía para criação da França Antártica. Tornou-se inadiável a expulsão dos “protestantes calvinistas” e a ocupação da terra em nome da Igreja Católica e do Rei D. João III, perpetuando a força da Cruz que chegara com Cabral.

Onde implantar o núcleo da nova cidade? Contrariamente à tradição medieval, não houve a opção pelo sítio elevado, mas por uma pequena praia, entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, estrategicamente disposta junto à entrada da baía, onde permaneceu por curto período.

Ao deslocar-se para o Morro de São Januário, futuro do Castelo, após a retirada francesa em 1657, novamente prevaleceu a opção estratégica defensiva mais do que reais condições de habitabilidade, como água potável ou fácil acesso: uma pequena elevação junto à várzea, onde seria possível instalar um atracadouro seguro. Em torno, regiões alagadas e uma excelente visibilidade da entrada da barra.

Este novo local recorria ao ideário medieval de cidade, assentado num ponto elevado e protegido. Suas encostas íngremes facilitavam a defesa do novo vilarejo. No entanto, muito rapidamente os moradores perceberam que o sítio, ainda que perfeito nos aspectos defensivos, carecia de atender às necessidades primárias para o funcionamento de uma cidade. A água era escassa no morro, obrigando a população a contar com auxílio dos indígenas para transportá-la das nascentes do Rio Carioca, num esforço desumano para subir e descer ladeiras, carregando barris do precioso líquido.

Além disso, a distância do porto dificultava seu controle e administração direta, provocando a descida para a várzea, na direção do mar, encontrando a rua Direita, futura 1° de março, em homenagem à efeméride.

Esgueirando-se entre os morros vizinhos, a cidade crescia, lânguida, transpirando a sensualidade no calor dos trópicos, aguardando dias melhores. Entreposto comercial, pequenos navios, poucas casas, ordens religiosas chegando (Jesuítas, Franciscanos, Beneditinos, Carmelitas) com seus conjuntos monásticos ou conventuais, capelas, igrejas para a fundação das ordens terceiras, irmandades e confrarias.

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Surgia o ouro no sertão das Gerais e aquela modesta cidade com aspecto de vila à beira mar tornar-se-ia a Capital da Colônia, sem perder seu ar provinciano. Afinal, era o porto do Rio dos Vice-Reis que acumulava e exportava as arrobas de ouro, que sobrevivia aos cruzamentos das vias do sertão. Também era o porto que recebia as novidades da Metrópole lusa para abastecer os empórios e trapiches, enriquecendo a incipiente burguesia local.

Aumentavam os problemas de abastecimento, implantaram-se aquedutos e chafarizes, insuficientes, no entanto, para aplacar a sede da população que então ocupava novas áreas vizinhas, além da rua da Vala (depois, Uruguaian

Esgoto? Permanecia a prática nada salutar do “água vai” transformando as ruas em becos fétidos e escorregadios como os dejetos atirados pelas janelas dos sobrados.

Esta era a cidade que, muito em breve, receberia a Família Real, tornando-se a capital do Reino Unido em 1815.

Esta é a cidade que insiste em continuar bela, mesmo sem autossuficiência em abastecimento de água, uma rede de esgotos deficitária, sérios problemas de transporte coletivo, quase nenhuma reserva ou produção direta de bens perecíveis como frutas e verduras, áreas abandonadas, que depende da produção vizinha para quase tudo, estranhas iniciativas administrativas….

Talvez o segredo deste povo que insiste (ainda que um pouco menos) em se apresentar como simpático e hospitaleiro, apesar de tudo, seja o grande patrimônio que ainda temos para oferecer.

Parabéns, Rio de Janeiro!

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.

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