Casamento de conselheiro administrativo interdita Bondinho Pão de Açúcar no último sábado

Com a notícia de que estava fechado para turistas, o acesso era restrito apenas aos convidados do casamento exclusivo, organizado pelo presidente do conselho da empresa. Interdição levanta críticas sobre o acesso ao patrimônio natural da cidade

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Parque Bondinho Pão de Açúcar | Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

No último sábado (21/09) durante o Rock in Rio, que celebrava 40 anos e atraiu milhares de visitantes à cidade, o Bondinho Pão de Açúcar interrompeu suas atividades, mesmo com um tempo agradável e praias lotadas. Em nota ao DIÁRIO DO RIO, o primeiro veículo a noticiar o fechamento, a administração do bondinho justificou que a atração, uma das mais visitadas do Rio, estava fechada para manutenção programada e um evento corporativo privado. No entanto, a situação se revelou diferente.

De acordo com o jornal O Globo, o parque estava na verdade fechado para um casamento exclusivo, com acesso restrito apenas a convidados. O evento era organizado pelo presidente do conselho da empresa que administra o Bondinho Pão de Açúcar.

A informação sobre o fechamento foi amplamente divulgada nas redes sociais e no site oficial da atração, gerando frustração entre os turistas que planejaram visitar o local. Aqueles que tentaram entrar pelo acesso da trilha foram informados por um segurança de que “o embarque está fechado para manutenção”, e, ao questionarem qual seria o trecho, recebiam a resposta: “não sei informar”.

Turistas que chegaram em ônibus de excursão ou com motoristas de aplicativos também foram surpreendidos ao encontrar o local fechado e foram obrigados a retornar sem realizar a visita planejada. Ao tentar obter mais informações, a resposta que recebiam era “estamos tendo um evento corporativo na linha 1 e na linha 2 está em manutenção”, enquanto os convidados da celebração, vestidos de maneira formal, conseguiam passar.

Vídeos da festa circularam nas redes sociais, revelando a comemoração. Um dos convidados comentou “a celebração mais bonita da minha vida, um lugar de cerimônia”. Ao fundo, outro convidado respondia “muito legal, né?” e acrescentava “nunca vi um lugar tão bonito”.

Assim, o evento corporativo era, na verdade, uma festa de casamento, com vista privilegiada em um dos principais pontos turísticos da cidade, que movimenta a economia e atrai visitantes diariamente, exceto neste caso. O turismo é fundamental para a economia do Rio e, segundo Sálvio Teixeira, ambientalista e diretor do Grupo de Ações Ecológicas, ao jornal O Globo, “nenhum equipamento turístico pode fechar suas portas ao bel-prazer e impedir que as pessoas acessem o que temos de mais valioso, ou seja, nosso patrimônio natural”.

Um grupo de montanhistas protestou estendendo uma faixa no cume do Pão de Açúcar, mas foram surpreendidos por um funcionário que começou a remover o objeto. Um dos manifestantes afirmou “se você soltar, você vai matar alguém”, e o funcionário respondeu “então se prende, você é otário que está achando que dinheiro não compra nada”. O diálogo seguiu tenso, com os protestantes alegando que a remoção da faixa poderia colocar vidas em risco.

O noivo, Pedro Leite de Castro Casares Silva, ocupa o cargo de conselheiro de administração no grupo Inter, responsável pela administração do Bondinho Pão de Açúcar. Procurada pelo jornal O Globo, a empresa justificou a interdição no último sábado, afirmando que a decisão de conciliar as agendas do evento e da manutenção foi a melhor alternativa, evitando dois fechamentos em datas distintas. “A gente tinha dois eventos importantes acontecendo: um evento privado e uma manutenção que era necessária e, portanto, tinha que interditar o parque também”, declarou o diretor de Relações Institucionais do Grupo Inter, Paulo Gontijo.

A empresa reconheceu que a interdição teria um impacto, mas afirmou ter se preocupado em comunicar com antecedência em todos os meios disponíveis, além de ter uma equipe pronta para atender os visitantes que chegassem e não conseguissem entrar. “Não comentamos eventos privados que ocorrem aqui dentro”, acrescentou.

Sobre o protesto, a empresa afirmou que foi um ato ilícito dentro de uma unidade de conservação, realizado sem respeito à empresa, colocando em risco a fauna, flora e a integridade dos manifestantes e demais escaladores presentes. De acordo com o diretor, “a função da pessoa que foi ali foi a remoção da faixa, e assim ele fez. As autoridades policiais foram acionadas, estiveram no parque, removeram a faixa, levaram para a delegacia e relataram o ocorrido; todos os trâmites legais foram cumpridos estritamente”.

O Bondinho Pão de Açúcar, em operação desde 1912, é uma empresa privada que funciona em área de domínio da União, sendo um monumento tombado e protegido.

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10 COMENTÁRIOS

  1. É OBRIGAÇÃO DO SR. PREFEITO DO RIO, TOME AS DEVIDAS PROVIDÊNCIAS. Assim como multas covardemente visitantes com seus carros, quando vem de outras regiões e não tem onde estacionar seus carros.

  2. É muito abuso de autoridade, como bem disse aí um funcionário, ao rapaz que colocou uma faixa…
    Você é otário que está achando que dinheiro não compra nada”…
    Rio de Janeiro parece terra de ninguém!
    Manda quem tem prá pagar. Uma vergonha.

    • Isso não tem nada a ver com privatização. Tem a ver com abuso de autoridade puro e simples, cria desse maldito patrimonialismo que transforma o (mesmo administrado) público em privado, e não no bom sentido, coisa que vem desde 1500.
      Sabe qual é a visão “liberalóide” a respeito? Que foi total burrice. Você fechou uma atração turística dessa relevância com um evento de magnitude na cidade apenas para seu bel prazer, e ao impedir o acesso do público, abriu mão de faturamento. Não tem a ver com privatização;tem a ver com estupidez.

  3. Desrespeito com o Pão de Acucar continua. Cada vez mais agressivo contra os cariocas e contra o monumento natural que nos foi presenteado pela natureza. Quem pode tirar esta empresa fajuta que o administra?

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