Bora curtir um cineminha?
Você provavelmente já ouviu os burburinhos sobre ‘A bruxa’ (The Witch – a New England Folktale), dentre eles o de que além de ser um filme extremamente assustador fez até Stephen King (um dos pais do terror) se borrar de medo.
Dia desses, li um tweet que dizia: “vocês estão pagando tanto pau pra esse filme que só vou ficar satisfeita se sair de mão dadas com o demônio”, por isso lamento dizer que não, você não sairá de mãos dadas com o demônio querida leitora.
Não por ser um filme ruim, mas por não ser um filme que agradará a maior parte dos consumidores desse gênero nas telonas, categoria na qual me incluo. Quando me disponho a ver filme de terror espero no mínimo tomar alguns bons sustos, o que não acontece nesse caso.
Com uma fotografia linda, porém já usada em outros filmes como A Vila, e figurinos impecáveis o diretor e roteirista Robert Eggers parece querer provocar no público a reflexão sobre o fanatismo, o misticismo e paranoia religiosa para além do clichê floresta + névoa + cenário cinzento + crianças diabólicas, embora esse pareça ser, superficialmente, o cerne do filme.
A história se passa na Nova Inglaterra, nos EUA do século XVII, no auge da histeria coletiva que assolou a população em relação às bruxas (fato verídico) e começa com uma família camponesa sendo expulsa de sua comunidade perante um tribunal e indo morar no campo.
A família é composta pelo pai Willian (Ralph Ineson), pela mãe Katherine (Kate Dickie), pelos gêmeos pequenos Mercy (Ellie Grainger) e Jonas (Lucas Dawson), pelo filho do meio Caleb (Harvey Scrimshaw em uma atuação incrível) e pela filha mais velha Thomasin (Anya Taylor- Joy igualmente fabulosa).
Com o sumiço do bebê Samuel, a família começa a suspeitar que algo de errado possa ter com algum membro da família sendo as desconfianças da mãe direcionadas para a filha mais velha.
Apesar do contexto de crianças com caras de anjo, porém intimamente diabólicas, já ser um velho conhecido do público (a cena dos gêmeos correndo atrás do bode e cantando me deu um lampejo muito forte de ‘O iluminado’), aqui essa característica fica mais evidente e de fato horroriza.
Sem vulgarização dos sustos, o terror é psicológico. E maçante.
Com uma duração de apenas 90 min o filme consegue se arrastar em quase toda sua narrativa e a plateia que esperava sangue, susto, bruxas voando, aparecendo e reaparecendo demonstra uma leve decepção no rosto.
A demonização das mulheres sob a alcunha de bruxa também cabe no contexto, não a toa, o filme se passa em um período após o famigerado episódio das Bruxas de Salém, foi uma grata coincidência eu ter assistido em pleno 8 de março.
O destaque fica por conta de Anya Taylor-Joy (Thomasin) e Harvey Scrimshaw (Caleb) que emprestam aos personagens toda a alma que suas pequenas carreiras os permitem e aguardo ansiosa algum outro trabalho dos dois, podemos estar presenciando o nascimento de dois grandes astros da telona.
Aplaudido de pé pelos críticos e premiado no Festival de Sundace, ‘A Bruxa’ não é um filme para amantes do terror trash e/ou blockbuster, é um filme denso e artístico cuja última pretensão é causar susto.