No dia 30 de novembro, uma experiência inovadora que associa arte e ciência começa a circular pelas ruas do Rio: é o Busão, na verdade um caminhão de 15 metros adaptado para receber projetos de artes visuais e experimentos interativos de abordagem científica.
Quem for ao Busão vai descobrir, com uma pitada de humor, que há mais de um quatrilhão de bactérias na Terra, dos quais 100 bilhões habitam o corpo humano, e 99,99% ainda sequer foram descobertas. “É preciso inocular na cabeça das pessoas a consciência sobre essas dinâmicas e usar a arte como plataforma para entender as forças que estão em constante relação”, afirma o curador Marcello Dantas, um dos idealizadores do Busão em parceria com Luiz Alberto Oliveira, ex-curador do Museu do Amanhã.
Entre os pontos previstos de parada, estão a Praça Mauá, o Parque Madureira e a Praça Santos Dumont. O projeto é uma realização da Carioca DNA e da Das Lima Produções, e conta com obras dos artistas Vik Muniz, Jaider Esbell, Suzana Queiroga e Walmor Correa.
Artistas e obras do Busão das Artes
Cada umbigo é um domínio singular que assinala uma identidade única. Seu umbigo carrega mais características específicas de você do que sua digital! Local de altíssima concentração bacteriana, o umbigo, marca de sua origem, é a matriz do seu ser. Vik Muniz capturou a essência de personalidades brasileiras em seu lugar mais íntimo, e retratou os umbigos de Camila Pitanga, Carolina Solberg, Daisy Santos Soares, Heberth Sobral, Mariana Ximenes e Olivia Lopes Ghivelder.
O Pikaia gracilens é um animal marinho extinto que viveu há 505 milhões de anos, no período Cambriano. Media em torno de 5cm de comprimento. É um dos primeiros seres a possuir um cordão nervoso paralelo ao tubo digestivo e, assim, é considerado um ancestral de todos os atuais animais vertebrados. Seu sistema bucal, que o conectava com o mundo exterior, foi pioneiro. Pode-se imaginar poeticamente que o Pikaia inventou o beijo, esse momento em que são trocadas oito milhões de bactérias – por segundo! – entre os corpos envolvidos no encontro dos lábios e bocas. O artista Walmor Corrêa, que sempre desenhou seres imaginários, nos oferece a imagem do beijo imaginário da Pikaia, na forma de cartazes e adesivos.
As placas de Petri, usadas para cultivar bactérias em laboratórios, são a inspiração para a artista Suzana Queiroga criar uma experiência tridimensional dos nossos corpos se entrelaçando com camadas de culturas bacterianas, em escala humana. Com suas cores, formas orgânicas e volumes, a instalação põe em justaposição duas escalas diametralmente distintas – a macroescala em que vivemos e a microescala onde vivem as bactérias.
Merda de Artista, obra seminal do artista conceitual italiano Piero Manzoni (1933-1963), é uma latinha que guarda as suas fezes, como se ali dentro ele conseguisse preservar algo de sua identidade biológica, do que o torna singular. Essa obra desafiou os limites do que pode ser chamado de arte e criou uma linha tênue entre o que são a produção humana e a produção artística.
No ambiente natural, os resíduos são sempre reconvertidos em nutrientes, justamente pela ação dos micro-organismos. Manzoni um dia disse: “Eu gostaria que todos os artistas vendessem suas impressões digitais, ou então organizassem competições para ver quem consegue traçar a linha mais longa ou vender suas merdas em latas. A impressão digital é o único sinal da personalidade que pode ser aceita: se o colecionador quer algo íntimo, realmente pessoal para o artista, tem a merda do próprio artista, isso é mesmo dele”.
Micélio é o conjunto de filamentos que constitui a parte vegetativa dos fungos, se espalhando no subsolo, por vezes em grandes extensões. Ele também é a inspiração da obra de Jaider Esbell (1979-2021) que ocupa o chão das praças onde se instala o Busão. O micélio é como se fosse a internet da natureza – conecta as plantas entre elas, opera como uma interface entre as plantas e o solo, e tem o poder de expandir a consciência humana. A interação entre fungos e bactérias é uma das mais antigas colaborações – e competições – da natureza, e uma das maiores promessas da Ciência contemporânea está em desvendar o potencial transformador dos fungos.
SERVIÇO:
Busão das Artes
Início: 30 de novembro de 2021
Encerramento: 24 de fevereiro de 2022
Horário de funcionamento: das 9h às 17h
Horários das visitas agendadas: das 9h às 11h e das 15h às 17h
Entrada gratuita
Parada 1: Praça Santos Dumont
30/nov/2021 a 03/dez/2021 – terça à sexta
09 /dez/2021 a 12/dez/2021 – quinta à domingo
14/dez/2021 a 17/dez/2021 – terça à sexta
Parada 2: Parque Madureira
06/jan/2022 a 09/jan/2022 – quinta à domingo
13/jan/2022 a 16/jan/2022 – quinta à domingo
27/jan/2022 a 30/jan/2022 – quinta à domingo
03/fev/2022 a 06/fev/2022 – quinta à domingo
Parada 3: Praça Mauá
10/fev/2022 a 13/fev/2022 – quinta à domingo
16/fev/2022 a 19/fev/2022 – quarta à sábado 21/fev/2022 a 24/fev/2022 – segunda à quinta