O incêndio que destruiu parte da histórica Capela São Pedro de Alcântara, localizada no Palácio Universitário, completou 14 anos em março deste ano. Mas a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) não tem o que comemorar, pelo contrário.
Antes símbolo de riqueza cultural da cidade, a capela, depois de 28 de março de 2011, quando aconteceu o incêndio, felizmente sem vítimas, se tornou um símbolo da escassez de atenção e recursos públicos. Na capela foram realizados inúmeros casamentos, batizados, gravações de novelas e de filmes. O brilho de outrora cedeu lugar a poeira, fuligem, vigas de madeiras apodrecidas e fezes de morcegos.
A decadência do patrimônio histórico foi constatada durante vistoria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ao Palácio Universitário, no dia 18 de março, quando foram identificados inúmeros problemas.
O assoalho, por exemplo, apresenta diversos pontos de comprometimento pela ação do tempo e dos cupins. A estrutura corre o risco de desabar. Do local, que virou ponto de descarte de lixo, foram retirados sacos de folhas secas. Quem fez a “limpeza” foi reitor Roberto Medronho, que se disse envergonhado com o estado da capela.
No primeiro pavimento, os fiscais do Iphan encontraram quadros de luz antigos com fios remendados e sinalizações inadequadas; apresentando um risco a mais para a edificação. Madeiras de massaranduba doadas pela Casa da Moeda em 2013, continuam à espera da restauração da capela. A madeira, que é do mesmo tipo da construção original, está mal acondicionada nos corredores laterais do prédio.
A universidade deve tomar uma série de medidas recomendadas pelo Iphan nos próximos 30, 60 e 90 dias, após os quais o Palácio receberá uma nova visita do órgão. Entre as medidas a serem providenciadas estão a limpeza da capela e dos seus acessos, revisão de janelas e dos quadros de luz do edifício, além da transferência dos locais de depósitos de materiais.
A técnica do Iphan também indicou a interdição do corredor paralelo à Avenida Pasteur, onde o forro do teto pode desabar.
“É importante que as madeiras sejam retiradas para que os engenheiros possam avaliar a integridade das estruturas”, disse a superintendente do Iphan, Patrícia Correa Wanzeller, segundo a AdUFRJ.
Na ocasião, o então diretor do Escritório Técnico da UFRJ, o professor Roberto Machado Corrêa, anunciou a interdição do corredor, até que as madeiras que recobrem o teto fossem totalmente retiradas. O professor, no entanto, foi demitido dois dias depois da visita do Iphan. O reitor ainda não indicou o nome do substituto.
Segundo Roberto Medronho, a pessoa indicada fará uma gestão centralizada do Palácio, dialogando com as unidades que ocupam o prédio (Economia, FACC, Educação, Decania do CCJE, Comunicação e Fórum).
Também acompanhou a fiscalização, a professora Christine Ruta, que também é diretora do Fórum de Ciência e Cultura (FCC); entidade responsável pelas inciativas culturais, preservação de patrimônio e divulgação científica da universidade, além de responder administrativamente pela capela e todos os museus da UFRJ.
De acordo Christine Ruta, as medidas emergenciais solicitadas pelo Iphan já foram todas cumpridas. Ruta, no entanto, reclamou da falta de recursos e de espaço, o que obrigou o FCC se instalar parcialmente na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, para ceder salas à Faculdade de Educação (FE), prejudicada pelas obras na ala Oeste do Palácio.
“A relação com a FE é muito boa, mas a realidade é que não temos salas de guarda de patrimônio, nem para depósitos. Precisamos da parceria do Iphan e do governo federal para mudar em definitivo esse quadro de degradação”, afirmou Christine Ruta.
Ao acompanhar a vistoria do IPHAN à Capela São Pedro de Alcântara, Roberto Medronho fez um longo desabafo sobre as condições do espaço histórico e sobre as dificuldades orçamentárias enfrentadas pela UFRJ.
“Nunca senti tanta vergonha aqui na UFRJ. Nunca, nunca, nunca. Aqui é a minha casa, é a nossa casa. Eu tenho que cuidar dela. Por isso tirei os sacos com o lixo e as folhas que encontrei. A situação é dramática e decorre da falta de recursos e da insuficiência orçamentária. Não é incompetência da nossa nem de outras gestões. Nenhum gestor quer chegar a esse ponto. Para reformar a capela, que é um bem tombado pelo Iphan, é preciso de muitos recursos e não temos. Faço um apelo aos governos e à sociedade. O setor produtivo também pode nos ajudar nessa recuperação. O Palácio Universitário, prédio onde está a Capela, é um bem nacional de altíssimo valor cultural e histórico”, disse o reitor, de acordo com AdUFRJ.