Aos 24 anos, a cantora, compositora e instrumentista Elize Fleury, nascida no Rio de Janeiro, venceu o reality japonês Monomane The World, uma competição em que estrangeiros imitam vocalmente cantores japoneses. Elize superou 159 candidatos de 37 países e conquistou o público japonês com sua performance.
A trajetória começou após a produção do programa descobrir dois covers de músicas japonesas dos anos 80 publicados em seu canal no YouTube, que soma mais de 75 mil inscritos. Os vídeos viralizaram fora do Brasil, principalmente no Japão.
“As músicas que eu gravei, o city pop japonês, é muito mais famoso fora do Japão do que dentro. Lá é meio ‘nichado’, ainda mais do que no Brasil, aqui é uma coisa meio nostálgica. Mas começou a ganhar muita proporção, um dos vídeos hoje está com quase dois milhões de acessos”, comemora.
Desconfiada no início, Elize achou que o convite fosse um golpe, por ter recebido uma mensagem em português. Depois, soube que a produção contava com uma nipo-brasileira e decidiu participar da pré-seleção, que ocorreu entre outubro de 2024 e janeiro de 2025.
A dinâmica do programa consiste em encontrar um cantor japonês cujo timbre vocal seja semelhante ao do participante. Para Elize, a escolhida foi Izumi Sakai, vocalista da banda Zard, que fez sucesso nos anos 1990 e 2000 e morreu tragicamente em 2007, aos 40 anos, após cair de uma altura de três metros em um hospital onde tratava um câncer.
Selecionada entre os 12 finalistas, Elize se apresentou na semifinal com a canção My Friend. Na final, interpretou Makenaide, maior sucesso de Izumi Sakai, e venceu a competição em 1º de março.
“Porque é tão inusitado, é tão diferente, é tão incrível. Juntei o meu interesse pela cultura japonesa com o meu ofício, que é o canto, e também com essa parte das imitações, porque eu faço várias vozes, estou fazendo curso de dublagem e pretendo trabalhar com isso”, afirma Elize, ainda assimilando a vitória.
Ela descreve a experiência como a realização de um sonho: “Eu chorei em alguns lugares que visitei no Japão e até hoje fico emocionada vendo as fotos, os vídeos da minha performance no programa. Eu olho e penso: ‘Caraca, como é que isso tudo aconteceu?’”
O fascínio pelo Japão começou na infância, motivado por elementos populares como ninjas, samurais e sushi. Na adolescência, se aprofundou nos animes e mangás. “Fui ‘fagocitada’ por isso tudo, porque é um universo muito intenso”, relembra.
Durante três anos, estudou japonês, mas enfrentou resistência no ambiente escolar por seus gostos, o que a levou a esconder esse interesse por um tempo. “Era 2011, 2012, e os animes e mangás eram muito menos populares do que hoje em dia. Isso acabou me fazendo engavetar todo o meu interesse pela cultura japonesa por vários anos”, lamenta.
Anos depois, retomou essa paixão. “Vi que seria algo bem interessante também, e olha no que deu, né? Quem diria que eu seria convidada para ir para o outro lado do mundo para cantar”, reflete.
A música sempre esteve presente em sua vida. Com apoio dos pais, estudou piano clássico, canto, violão, guitarra, teoria musical e harmonia. Desde cedo começou a compor suas próprias canções.
“Já compus muito em inglês também, hoje é bastante misturado com português, porque eu tenho muito essa conexão com línguas”, explica.
Seu canal no YouTube, criado em 2018, também traz versões em francês e espanhol. Embora ainda não tenha divulgado músicas autorais, Elize promete lançá-las até o fim do ano. “Mais de 120 mil faixas são publicadas nas plataformas de streaming todo dia, então tem que ser feito com cautela”, pondera.
