O carnaval que não é carnaval desse início de 2022 me fez pensar. Os blocos de rua foram proibidos. As festas fechadas, não. Veio um galera reclamar da privatização do carnaval. Faz sentido mesmo. Pode amontoar num espaço fechado, mas não na rua, ao ar livre? Seja como for, no meu caso pessoal, meu único desejo era montar na minha cama. Trabalhei todos os dias normalmente, e na terça de carnaval, hora de escrever a crônica semanal.
Uma amiga naturista veio para o Centro do Rio de Janeiro no meio desse “carnaval” e logo me disse: “Dei mole. Vacilei. Esqueci que é carnaval e que nessa época as pessoas são liberadas para andarem nuas na rua. E aí, geral aqui só de calcinha, homens e mulheres, tapa-sexo nos mamilos… Enfim, eu poderia estar mais à vontade, né? Já que hoje a hipocrisia do povo… para sensualizar o corpo, pode ficar nu, só não pode ser naturista”.
No Rio de Janeiro, a praia mais famosa de naturismo é a de Abricó. O naturismo é um tipo de filosofia, que visa um modo de vida focado no retorno à natureza, defendendo a vida ao ar livre, alimentação natural e a prática do nudismo, entre outras coisas.
Passado bloqueiro
Viajei em suas palavras, e lembrei de algumas experiências pessoais em praias e cachoeiras pelo mundo afora. Não vou contar. Volto então ao carnaval. Já curti muitos blocos há alguns anos. Desde o Bola Preta lotado na região central da cidade até o Monobloco quando ainda era na orla de Copacabana. Era bom poder dar um mergulho e voltar para o cortejo. O bloco da Preta Gil, eu estava na primeira vez quer aconteceu, numa rua de Ipanema. Foi ótimo pois ainda não era famoso e não tinha aquela muvuca doida que viria nos anos seguintes.
Ah, o Sargento Pimenta no Aterro do Flamengo, cantando clássicos dos Beatles. Adoro Beatles! Tive bons momentos, assim como na Orquestra Voadora. Uma vez lembro de um desgraçado tentar furtar algo do meu bolso. Senti, virei procurando e quase voltei para tirar satisfação ao vê-lo com um sorrisinho, mas segui sendo levado pelo mar de gente. Não posso esquecer do Quizomba, que também vi no começo. Uma animação maravilhosa, sob os Arcos da Lapa.
Engraçado que um dos mais famosos, nunca fui, o Amigos da Onça. Nem sei porque. No Suvaco de Cristo, sempre cheguei atrasado. A Banda de Ipanema traz um gosto de nostalgia com suas marchinhas. Em algumas madrugadas, acompanhei o Cacique de Ramos. Em uma tarde, foi Chora, Me Liga com seus sertanejos. Gosto quando mandam Chitãozinho e Xororó. Mulheres de Chico tinha uma ar de tranquilidade.
Carmelitas e Céu na Terra saindo de manhã cedo nunca me ajudaram, mas consegui algumas poucas vezes. Hoje em dia, não sinto que tenha paciência para algumas coisas que antes não incomodavam (tanto). O excesso de álcool, os vômitos e os bêbados por trás deles, os abusos das drogas e mais drogas como MD, LSD, maconha, aquela multidão de gente, todo mundo colado. Mas, ao mesmo tempo, escrever esse texto, deu uma saudade. Entretanto, quando vem essa vontade vou no melhor bloco que já conheci, o Marcha Nerd, cheio de família e fantasias de heróis, cantando os temas de desenhos animados e filmes.
É, talvez seja hora de virar naturista.
Ou esperar minha introspecção passar. Talvez no próximo carnaval você veja um Chaves na rua, e seja eu.