O dia 13 de maio é uma data historicamente importante no calendário cultural da cidade. Instalado no Centro do Rio de Janeiro, um local vivo em cultura e história do país, o imponente solar neoclássico onde funciona a Casa França-Brasil, completa 200 anos de realizações.
O palacete, com paredes sólidas, colunas exuberantes em madeira marmorizada e claraboias, é impactante ao visitante. Contudo, para além de sua importância histórica e patrimonial, a Casa França-Brasil é um espaço cultural, voltado para diversas manifestações artísticas, como exposições de artes plásticas e visuais, cinema, vídeo, música, quadrinhos, multimídia e muitas outras.
Histórico
Encomendado em 1819 por D. João VI ao arquiteto Grandjean de Montigny, integrante da Missão Artística Francesa, a obra em si é um documento histórico importante. Trata-se do primeiro registro do estilo neoclássico no Rio de Janeiro, tendência que viria então a popularizar-se, dando à cidade – marcada por suas casas coloniais – um tom mais cosmopolita, à moda europeia.
O edifício já foi palco de eventos importantes em nossa história. Inaugurado no dia 13 de maio de 1820, o edifício funcionou como a primeira Praça do Comércio do Rio de Janeiro, cidade sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Apenas quatro anos mais tarde, já no contexto do Brasil independente de Portugal, foi transformado por D. Pedro I em Alfândega, função que exerceria até 1944. Esta obra de Montigny passou em seguida por diferentes usos, tendo servido até 1952 de depósito para os arquivos do Banco Ítalo-Germânico e ainda, de 1956 a 1978, como sede do II Tribunal do Júri. Apesar de seu tombamento em 1938 pelo Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — atual IPHAN — o prédio continuou a sofrer com o abandono e a modernização da cidade que crescia ao redor.
Restauração
Somente em 1984, a atual vocação da Casa França-Brasil começou a ser traçada. O antropólogo Darcy Ribeiro, então Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, combinou recursos brasileiros e franceses para restaurar a construção e resgatar as linhas arquitetônicas originais projetadas por Montigny. As etapas para a criação do centro cultural e o trabalho de restauração atravessaram a década de 1980. A finalização ocorreu apenas na década seguinte, com a inauguração em 29 de março de 1990.
A CFB tem uma localização geográfica estratégica na rota do turismo. Está situada de frente para a histórica Catedral da Candelária, tendo ainda como vizinhos mais próximos os concorridos Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Cultural Correios e Espaço Cultural da Marinha. Ao fundo, o imponente prédio da Casa França-Brasil é aberto para a Orla Conde, o corredor cultural que une o Museu Histórico Nacional e o Paço Imperial, na Praça XV. Seguindo em frente, a uma distância bem curta, estão localizados o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio e o AquaRio.
Enquanto parte integrante de um importante pólo carioca de cultura, atraente para o grande fluxo de turistas que constantemente visita a parte histórica da cidade, a Casa França-Brasil tem fácil acesso. O movimento de frequentadores no interior do prédio histórico é permanente, mesmo nos intervalos entre os agendamentos dos eventos culturais. Portanto, trata-se de uma vitrine histórica de grande visibilidade, seja qual for a atração cultural que esteja hospedando em seu grande salão e demais dependências.
Ao longo de sua história, a Casa França-Brasil já hospedou eventos artísticos de grande relevância. Para a comemoração de seus duzentos anos de trajetória, os responsáveis pela administração do centro cultural planejavam um importante calendário de realizações, com destaque para a participação no 27º Congresso Mundial e Arquitetos, que aconteceria na cidade durante o mês de junho. Mas nenhuma das produções poderá ser realizada, em razão do isolamento social que estamos obrigados a enfrentar.
Vale registrar que, entre o segundo semestre de 2019 e os meses de janeiro e fevereiro deste ano, a Casa França-Brasil acolheu um evento gratuito, com grande sucesso de público. É o projeto cinematográfico Cineclube Rio de Telas, desenvolvido pela Secretaria de Cultura do Estado, com exibição de filmes na Sala Rio 40 Graus, espaço especial para a apresentação de filmes e vídeos.
O espaço dentro da Casa França-Brasil foi criado em homenagem a uma fase estrutural da produção cinematográfica brasileira, o chamado Cinema Novo, e batizado com o título homônimo do filme do cineasta Nelson Pereira dos Santos, também como uma forma de celebração ao grande mestre das telas.
Através da parceria firmada com diretores e produtores do audiovisual e com escolas e cursos de cinema, incluindo a Darcy Ribeiro, há exibição de filmes com debates após as projeções. O evento promove uma contrapartida pela difusão da cultura do audiovisual e incentiva a formação de público e a experiência estética do cinema.