Centro do Rio: Igreja histórica administrada pela ‘família Rachid’ e fechada há anos é tomada por cupins

A igreja, tombada pelo Iphan, acaba de receber um laudo que aponta um "elevado nível de cupins e deterioração" nas suas estruturas

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Popularmente chamada de “Nossa Senhora dos Rachid”, a igreja é administrada pela família Rachid — Foto: Reprodução

Após uma série de desabamentos que têm assolado o patrimônio histórico carioca, mais uma obra no Centro do Rio parece estar sob o mesmo risco. Com obras iniciadas em 1735 e com intervenções do Mestre Valentim em suas estruturas, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, fechada há pelo menos 8 anos, corre sérios riscos em sua estrutura. Hoje, a comunidade de apaixonados pelas igrejas históricas do Rio amanheceu preocupada com uma notícia veiculada bem cedo pelo jornal O GLOBO, através de um furo do jornalista Ancelmo Gois. Localizada na Rua do Rosário, quase esquina com a Avenida Rio Branco, a igreja, tombada pelo Iphan, acaba de receber um laudo que aponta um “elevado nível de cupins e deterioração” nas suas estruturas, que são de madeira.

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O GLOBO publicou também uma fotografia do coro da histórica igreja da Boa Morte – que fica na rua do Rosário, na esquina com a Miguel Couto – com tábuas no chão retiradas, onde é possível identificar uma grande infestação de cupins. Segundo fontes ligadas ao patrimônio, este coro da Igreja (espécie de mezanino, onde ficam os músicos e os instrumentos, numa cerimônia) teria cedido cerca de 14 centímetros devido à voraz ação dos cupins. Neste Coro, um histórico e pesadíssimo órgão do Século XVIII jaz, com seus tubos internos desaparecidos.

Popularmente apelidada de “Nossa Senhora dos Rachid”, a igreja é administrada pela família Rachid, que é investigada pelo Ministério Público por suspeitas de desvios, segundo reportagem do GLOBO e uma investigação em curso. Em 2020 o jornal publicou uma reportagem sobre os problemas de gestão desta e outras Irmandades. E a imprensa tem denunciado os maus-tratos ao templo religioso e uma administração imobiliária controversa. No final de 2024, a construção chegou até mesmo a ser pintada, às pressas, durante a calada da noite, para tentar esconder os defeitos visíveis que são apontados por passantes diariamente: a lateral da igreja está toda perfurada para instalação de tendas de camelôs que ficam no local. Recentemente, uma foto divulgada mostrou o estado deplorável do piso de um dos mezaninos, completamente deteriorado. Segundo informações, a provedora, Brígida Rachid, estaria substituindo a pintura das partes originais em ouro da Igreja por tinta Acrilex.

Autonomia Administrativa

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte é administrada pela Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, uma associação pública de fiéis católicos fundada em 1721 e com personalidade jurídica própria. Isso significa que a ordem tem autonomia administrativa, não pertencendo diretamente à Arquidiocese do Rio, mas vinculada a ela. Essa tal autonomia tem se mostrado um dos maiores problemas de algumas destas ordens terceiras, pois muitas delas, ao longo dos anos, transformaram-se em administradoras de bens imóveis e patrimônios valiosos, sem compromisso com suas finalidades originais. Geridas como negócios de família. No caso de outra irmandade, a São Braz, até mesmo valiosos apartamentos na rua Carlos Góes, no Leblon, teriam passado ao patrimônio de seus gestores.

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Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte

Essas ordens, que originalmente eram voltadas para a caridade e a fé católica, passaram a ser comandadas por pequenas famílias ou grupos, que se beneficiaram da administração dos bens e do patrimônio artístico e imobiliário que lhes foi legado ao longo dos séculos. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte é um exemplo clássico disso, com a família Rachid no comando há cerca de 30 anos e um vasto patrimônio que inclui imóveis pelo Centro do Rio e na Zona Sul — a lateral da igreja, por exemplo, voltada para a Rio Branco, possui uma fachada linda que é um edifício comercial (no momento desocupado).

Especialistas consultados pelo DIÁRIO DO RIO afirmam que a crise enfrentada por algumas dessas irmandades vai além de uma simples má gestão. Ela reflete um processo mais profundo de esvaziamento das igrejas na região Central do Rio e a diminuição do número de membros por bloqueio de novos ingressos pelos gestores, o que contribuiu para que algumas delas se tornassem caixas pretas, onde os responsáveis pela administração parecem gerir os os recursos e o patrimônio por vezes em benefício próprio.

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