Centro Dom Vital: um centenário espaço de fé e cultura no Centro do Rio de Janeiro

Ao longo desse mais de um século de história, o Centro Dom Vital congregou grandes nomes do cenário literário brasileiro

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Quem passa pela Cinelândia, no Centro do Rio, e vê os belos prédios históricos que compõem a paisagem, talvez não saiba que ali perto, atrás da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes, na rua Araújo Porto Alegre, esquina com a rua México, está localizada a sede de um dos mais antigos centros culturais do Brasil. Trata-se do Centro Dom Vital, fundado em 1922 pelo jornalista, advogado e escritor Jackson de Figueiredo (1891-1928).

A fundação do Centro Dom Vital está ligada a um intenso movimento de intelectuais católicos que deixou uma marca na história brasileira. O fundador, Jackson de Figueiredo, convertido ao catolicismo em 1918, se deixou guiar pelas orientações do então arcebispo coadjutor do Rio de Janeiro, D. Sebastião Leme (1882-1942), que conclamou os católicos, então maioria quase total da população, a se colocar como presença na sociedade. Foi com essa intenção que Jackson, em 1921, reunido com amigos que tinham o mesmo ideal, fundou, numa mesa do Café Gaúcho, tradicional boteco carioca localizado na rua São José, a revista A Ordem, um periódico que tinha a intenção de trazer a presença do pensamento católico para o meio da sociedade. E no ano seguinte, ano do centenário da Independência, era fundado o Centro que receberia o nome de Dom Vital, o bispo que foi preso no período imperial por se opor ao governo e obedecer às disposições do Papa em condenar a maçonaria.

Ao longo desse mais de um século de história, o Centro Dom Vital congregou grandes nomes do cenário literário brasileiro. Com a morte de Jackson de Figueiredo em 1928, assumiu a presidência o crítico literário e também convertido ao catolicismo, Alceu Amoroso Lima (1893-1983), já famoso nos jornais por sua coluna semanal assinada com o seu célebre pseudônimo Tristão de Athayde. Imortal da Academia Brasileira de Letras, escritor aclamado no Brasil e no exterior, Dr. Alceu, como também ficou conhecido, presidiu o Centro até o final da década de 1960, sendo figura marcante nos debates culturais, políticos e sociais. Foi uma importante voz em favor da liberdade de expressão e dos direitos humanos durante a ditadura militar brasileira.

Outros nomes que marcaram presença com atuação no Centro Dom Vital são a de escritores e pensadores como Gustavo Corção (1896-1978), autor de obras como Lições de Abismo e A descoberta do Outro; o jurista Heráclito Sobral Pinto (1893-1991), figura de destaque na defesa dos direitos humanos, que presidiu o Centro entre 1971 e 1991; o primeiro assistente eclesiástico do Centro e primeiro reitor da PUC-Rio, Pe. Leonel Franca (1893-1948); a escritora e crítica literária Lúcia Miguel Pereira (1901-1959); a escritora Carolina Nabuco (1890-1981), filha do diplomata e abolicionista Joaquim Nabuco; enfim, uma grande lista de importantes intelectuais católicos. Mas também nomes não necessariamente ligados ao movimento católico, mas que viam no Centro um espaço de diálogo e de formação cultural, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, que inclusive publicou um poema em homenagem a Jackson de Figueiredo; Vinícius de Moraes, que publicou o seu primeiro poema na revista A Ordem; e escritores como Mário de Andrade e Cecília Meireles. Mais recentemente, o Centro foi presidido por nomes como Tarcísio Padilha (1928-2021), filósofo e imortal da Academia Brasileira de Letras, e o jornalista Luiz Paulo Horta (1943-2013), também membro da Academia.

Mas não só de história vive o Centro Dom Vital. Sua atuação no presente se mantém como resistência diante do cenário que muitas vezes parece desfavorável para a divulgação cultural e o debate saudável de temas e ideias. Atualmente presidido pelo prof. Renato Beneduzi, advogado e professor da PUC-Rio, a instituição promove mensalmente a sua reunião aberta, onde são discutidos temas variados, que se relacionam com o catolicismo e com temas da atualidade. Já foram trazidos temas como diplomacia, crise da institucionalidade, além de temas bíblicos e filosóficos, como a temática do senso religioso, discutido na reunião do mês de novembro. Outra atividade constante são as reuniões do Grupo de Estudos Tomistas, onde é feita a leitura e comentário dos artigos da Suma Teológica, obra do filósofo e teólogo medieval Santo Tomás de Aquino. O Centro conta também com um cineclube, além de promover cursos, seminários a conferências.

A essas atividades se soma também a publicação anual da revista A Ordem, um dos mais antigos periódicos ainda em circulação no Brasil. Tendo atualmente como editor o prof. Leandro Garcia Rodrigues, professor de literatura na faculdade de letras da UFMG, em setembro desse ano foi lançado o número 103 da revista, com artigos de professores universitários e intelectuais das diversas áreas das ciências humanas.

“O Centro Dom Vital faz parte da história da Igreja no Brasil e tem sido uma grande oportunidade de reflexão dos leigos católicos diante de uma sociedade em mudança.” Com essas palavras, o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Orani Tempesta, define o Centro Dom Vital. Possuidor de um importante passado histórico, o Centro é no presente um importante espaço de produção e divulgação do conhecimento, que busca congregar os interessados em promover a cultura e o diálogo entre a fé e as diversas áreas do saber.

O Centro Dom Vital fica localizado na rua Araújo Porto Alegre, 70, sala 110, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Tel.: (21) 2516-2046
centrodomvital.com.br
Instagram: @centrodomvital
Youtube: youtube.com/@CentroDomVital

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