Chico Alencar: A ponte que não caiu

A ponte virou símbolo da ditadura, que explorou sua construção como marco do “Brasil Grande”, lema do regime militar. Mas a ideia veio muito antes: era projeto acalentado desde os tempos do Império

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Barcas na Baía de Guanabara e Ponte Rio-Niterói ao fundo - Foto: Daniel Martins/Diário do Rio

Há 50 anos (4 de março de 1974) era inaugurada a Ponte Rio-Niterói pelo general e ditador Garrastazu Medici, especialista em destruir pontes de harmonia social. Foi no seu governo que se montou a máquina oficial da tortura, do terror de Estado.

Construída no regime militar por cerca de 10 mil trabalhadores, durante 6 anos, a obra consumiu 1,3 milhão de toneladas de concreto e ferro.

A ponte virou símbolo da ditadura, que explorou sua construção como marco do “Brasil Grande”, lema do regime militar. Mas a ideia veio muito antes: era projeto acalentado desde os tempos do Império.

Ganhou o nome de “Presidente Costa e Silva”, general que nove dias depois do início das obras assinou o AI-5 – a ditadura dentro da ditadura. O regime autoritário vedou transparência nos gastos do empreendimento – bem maiores que os previstos inicialmente. E, sobretudo, impediu que até hoje soubéssemos quantos operários morreram em acidentes durante a sua construção. Foram centenas, ou passaram até do milhar.

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Desde 2012, tramita na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (PL), de minha autoria (atendendo a demanda de um bonito movimento popular), que muda o nome da Rio-Niterói para “Ponte Herbert de Souza – Betinho (1935-1997)”. Este sim, um democrata construtor de pontes na sociedade – de Justiça, contra a fome e a miséria e pela vida. Com relatório favorável da deputada niteroiense Talíria Petrone (PSOL-RJ), o PL dificilmente vai avançar nessa legislatura majoritariamente conservadora.

A Ponte Rio-Niterói, por onde circulam 400 mil pessoas diariamente, encurtou distâncias e facilitou a vida de muita gente. Mas, concebida no tempo do rodoviarismo absoluto, privilegiou o transporte individual. Na China, por exemplo, a maior ponte do mundo, a Danyang-Kunshan, tem 164 quilômetros de linha férrea. Já a Hong Kong-Zhuhai tem um vão de 55 quilômetros sobre o mar (a nossa tem pouco mais de 13). As informações são de Lívia Neder e Gabrielle Lopes (O Globo, 3/3/2024).

Seja como for, a Ponte aí está, há exato meio século, imponente, propiciando a travessia sobre as águas maltratadas da linda Baía de Guanabara. Quando não engarrafa, em 13 minutos se vai do Rio para Niterói (ou vice e versa) sobre rodas de motores a combustão. Antes, nas velhas balsas, se levava quase duas horas para a travessia dos carros.

Mas as barcas não podem ser deixadas de lado: são imprescindíveis para a multidão de trabalhadores não motorizados que precisam, diariamente, atravessar a baía para trabalhar no Rio de Janeiro.

Quando exerci o mandato de deputado estadual, apresentei projeto para que se informasse permanentemente aos usuários sobre a composição do preço e a receita do pedágio. Projeto que jamais foi aprovado.

Para quem tem algum receio de que a Ponte possa vir a ceder devido ao peso dos veículos, informação tranquilizadora vem da concessionária que administra o equipamento: a Ponte, nas horas do trânsito mais pesado, receberá apenas 20% do peso que comporta, devido a obras de reforço de protensão, que deixarão o concreto 200% mais forte. Obras já em curso, mas não visíveis para os motoristas, e que serão concluídas em 2025.

Viva a Ponte Rio-Niterói, Niterói-Rio. A Ponte Betinho!

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13 COMENTÁRIOS

  1. Esquerda sempre reclama das coisas bem feitas. Se não tivéssemos a ponte, o Rio e talvez o estado estivessem com a economia insustentável para seus moradores. Foi uma obra de visão e tem que se aceitar o fato, seja quem foi o tocador do empreendimento. O artigo é somente plataforma para o revisionismo constante da esquerda com rebatizações e cancelamentos de textos, livros, artigos. Sugestão: Se nem Betinho que é um nome da esquerda que o coletivo aceita não passa, tentem o nome do Paulo Freire na ponte; Nos conceitos da turma anti-H leva o nada a lugar algum como seus paradoxos.

  2. Pois é! Qual é o critério e custos para a precificação da tarifa do pedágio da Ponte?

    Obviamente tem político parceiro de quem detém a concessão que trabalha para que isso jamais seja revelado.

    Infelizmente parlamentares que fazem trabalhos úteis para a sociedade como vc, Chico, são poucos. A maioria quer só mitar/lacrar e tem relações excusas com empresários e o mercado financeiro. O RJ perde não te-lo mais na Alerj, mas vc é muito necessário na Câmara Federal.

  3. Que boa lembrança, Chico!

    Herbert de Souza, o Bentinho. Fez um lindo trabalho para a sociedade. O Ação Cidadania impacta vida de milhares de pessoas ainda hoje.

    Chico, se a ponte Rio Niterói foi um escândalo do governo militar, imagina a Transamazônica? Só pelos militares centenas de vezes.

    É revoltante não termos justiça como a Argentina em 85, o Chile em 2000, Uruguai nos anos 90. Até a Bolívia e o Paraguai puniram seus algozes verde oliva e nós só ficamos na nota de repúdio. Esse desacerto com a história é pago pela população até hoje.

  4. A pessoa do Chico Alencar é atacado e criticado enquanto a sua fala é deixada de lado. Impressionante.

    Sou de direita e reconheço o grande parlamentar que é o Chico Alencar. Sempre teve mandatos coerentes. Foi até expulso do PT por conta disso.

    Quanto a ponte Rio Niterói, de fato: uma obra simbólica de um governo terrível, que infelizmente deixou como legado pessoas com os pensamentos dos comentários abaixo, deslocados da realidade.

  5. Iniciada por grande presidente, Costa e Silva, terminada por outro notável que foi Presidente Médici , e mesmo uma referência dos tempos de ordem, progresso e mãos limpas . Esta política de ódios não leva a lugar nenhum .

  6. Nossa! E e a Petrobras? BB, etc., etc, para os Companheiros.
    Brasileiros uni-vos para chupar o dedo…
    Inveja do Império que deixou legados e legados para o Rio de Janeiro e, o Brasil.
    Diferente de hoje, que só querem dependurar no funcionalismo público, trabalhar duro pra quê?
    Não fazem Reforma Administrativa por quê? Não se mexe com voto certo.
    Tem gente que vota nos caras para que eles fiquem mudando nome de ponte.
    Tem pra tudo.

  7. Isso mesmo, Chico. A ponte Rio Niterói é uma obra feita por muitos trabalhadores que se quer puderam vê-la pronta pois morreram na construção.

    Uma obra bilionária, feita em um período tenebroso do país: a Ditatura Empresarial-Militar.

  8. Pois é, a ideia da ponte veio bem antes, quase cem anos antes, no tempo do imperador Dom Pedro II, e só mesmo o governo da “ditadura” pôde viabilizar a obra, com grande esforço na época, daí a homenagem ao Costa e Silva. Mudar o nome não tem nenhum sentido. Qual a ligação do Betinho com a ponte. Nenhuma.

    O período em que o Brasil mais se desenvolveu foi justamente nesse período, com obras fundamentais para o país, como várias hidrelétricas que, não existindo, inviabilizaria o Brasil como um país com a produção de energia elétrica mais limpa do mundo.

    Engraçado um político ligado ao governo PT falar de sobre preço em obra pública. Quanto custaria a obra da ponte se feita no governo de Lula/Dilma. O Complexo Petroquímico de Itaboraí, por exemplo, custou muito mais do que deveria e está lá abandonada, isso para não citar vários exemplos de obras superfaturadas.

    • Fica o reforço da pergunta: Qual foi o legado que os governos de esquerda deixaram para o população que as gerações futuras poderão lembrar: Petroquímicas enferrujando? Canais de irrigação que, construidos sem funcionar, são postos pra operar pela oposição e são desligados depois, quando voltam a ter a caneta do poder em mãos? Já a (mal)ditadura tem algo a contar no quesito entrega ao País.

  9. Mais um político profissional que nada fez de bom para a cidade ou estado, vive da ideologia pestista, apontem uma coisa boa que tenha feito? PESTISTAS, bozzonaristas, são uma desgraça para o país!

  10. Este deputado Chico Alencar é um sujeito integrante de partidos ditatoriais, da extrema esquerda, extremamente e compravadamente corruptos, que não aceitam o contraditório, que habitualmente recorrem ao stf quando perdem uma votação plenária e que ignora o oportunista que fora o sr. Herbert de Souza, tal como são todos os petistas, psolistas e similares. A ponte foi feita nos anos 70, um enorme feito para a época.
    Para os esquerdistas a lei é:
    Ou eu ganho ou você perde
    Ou é meu ou não é seu e se for seu tem que ser repartido com todos mas o que é meu é só meu
    Dinheiro bom é dinheiro fácil e é tirado de quem se esforçou
    Não admitimos corrupção feito por quem não nos inclui nas vantagens.
    Anistia boa é a que me favorece mas para quem pensa diferente do que eu penso, nenhuma anistia deverá ser dada.

    • Ele sempre defendeu governos comunistas no tempo em que eram os piores exemplos de ditaduras. Perto deles, até que a nossa foi bem tranquila. Aliás, considero como uma intervenção militar, para evitar um
      mal maior que ameaçava o país. Comparada com a bagunça que o Brasil vive hoje em todos os sentidos, me desculpem, mas dá até saudade daquele tempo.

  11. É Chico…Vida dura, dura vida.

    Ao custo de milhões (bilhões?) e muitas vidas perdidas, o carioca consegue ver essa obra faraônica da arquitetura. É possível ver a ponte de quase qualquer lugar da Baía de Guanabara.

    Chegando ao RJ, lá de cima, pousando no Galeão…É possível vê-la.

    O que ninguém vê: o quanto as forças armadas nos odeia e nos vê como inimigos e o quanto ela é corrupta. Tá aí um monumento gigantesco para nos lembrar disso.

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