Chico Alencar: É preciso democratizar o acesso das torcidas ao colégio eleitoral dos clubes

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Foto: Paula Reis / Flamengo

O Flamengo acabou de escolher seu presidente para o próximo triênio (2025/2027). Apesar do gigantismo da torcida – aproximadamente 43.000.000 pessoas, ou cerca de 20% da população brasileira – o colégio eleitoral apto a escolher o mandatário era de 6.137 sócios, sendo que, desse total, apenas 53,1% compareceram à votação. Convenhamos, um percentual muito baixo para o tamanho da apaixonada legião de torcedores rubro-negros.

É preciso ampliar o universo de eleitores do clube. Aliás, o exíguo colégio eleitoral não é prerrogativa exclusiva do Flamengo. Em todos os grandes clubes brasileiros é assim: só uma minoria de sócios vota – exceção feita ao Internacional de Porto Alegre, cujo número de eleitores é de mais de 60.000 associados, graças a um programa de sócio-torcedor que dá direito a voto para quem participa.

Esse perfil elitista na eleição dos clubes talvez prevaleça por serem entidades ainda submetidas a regras vigentes desde a fundação, a maioria há mais de 100 anos. Mesmo que os estatutos associativos passem por periódicas reformas e adaptações, a questão do número de votantes aptos a escolher o presidente ainda fica aquém do que representam suas torcidas. Isso porque ampliar o número de eleitores significa a possibilidade de perder espaço de poder na direção das agremiações.

Se no que tange aos números da economia e finanças os clubes cada vez mais se modernizam, movimentando milhões e até bilhão de reais, no aspecto político e decisório eles ainda estão muito atrasados.

A própria Lei Geral do Esporte não assegura o voto à distância aos associados de clubes e entidades. Hoje, com os recursos tecnológicos disponíveis, é perfeitamente possível aferir o voto de associados que não habitem na mesma cidade da sede da agremiação esportiva.

O Flamengo, por exemplo, admite a categoria sócio off-Rio, mas só reconhece seu voto na eleição se ele for presencial, na sede do clube. O ex-presidente Bandeira de Mello, hoje deputado federal, apresentou um Projeto de Lei alterando a redação da Lei do Esporte, que passaria a assegurar o direito ao voto à distância. Uma boa medida.

Vejam a diferença: 63 mil torcedores do Flamengo foram ao Maracanã domingo (9/12). Torcida linda, flamante e apaixonada. No dia seguinte, 3.272 sócios elegeram o presidente. Muito pouco. É preciso democratizar o acesso das torcidas ao colégio eleitoral. Torcedor não pode ser visto apenas como mero consumidor dos produtos do time para o qual torce. Ele deveria ter o direito de também escolher dirigentes. A democracia agradece.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Chico Alencar: É preciso democratizar o acesso das torcidas ao colégio eleitoral dos clubes

2 COMENTÁRIOS

  1. Chico, se é para alterar a Lei Geral de Esportes – fundamental que se faça -, então por que não propor temas mais importantes para revolucionar o segmento no pais? Exemplo:

    – Alterar o vínculo empregatício entre atletas e clubes de futebol, extinguindo a figura do “empresário de jogador”, fazendo com que o contrato de prestação de serviço (caso o vínculo não se dê pela CLT) seja diretamente entre clube e jogador, nos mesmos moldes do que já acontece no vôlei, no basquete, entre outros.

    – Aumento do percentual recolhido das loterias federais destinados ao esporte de base, criando um mecanismo para que clubes e associações atléticas espalhadas por todo o país tenham acesso a recursos para fomentação do esporte, ao invés da elitização que ocorre hoje, onde só poucos grandes clubes de projeção (quase sempre em algumas capitais) têm estrutura e recursos para manter esporte de base.

    – Criação de um fundo nacional a partir de um percentual do faturamento dessas horrendas casas de apostas online, para que seja mais uma fonte de financiamento do esporte de base no país, sendo depois destinada aos clubes através dos mesmos mecanismos mencionados no item anterior.

    – (Par mim a maior de todas as propostas:) Estatização de TODAS as federações esportivas no Brasil, transformando-as em autarquias sob controle do Ministério dos Esporte, para que política esportiva no Brasil seja um projeto de Estado, e não de uma pequena corriola de abutres privados que usam o esporte para corrupção e enriquecimento individual.

    Esporte (inclusive de alto rendimento) deveria ser coisa muito mais sériia do que é.

  2. Estranho o argumento social onde são apresentados conceitos misturados ao gosto do autor, distorcendo o que é ter paixão e ser fã por conta de prática de esportes e a livre associação realizada por sócios de uma entidade para formar um espaço para convivência e bem-estar. Sem imposição legal ou canetada. Outro tipo de paixão, mas esta pelo desejo comum onde pessoas contribuem, gerando patrimônio e estrutura, muitas vezes sem retorno financeiro mas sim social. Os sócios do Flamengo, exemplo do artigo, sejam elitistas ou não, é que tem o poder para escolher ou destituir administradores, pois são partes iguais do clube. Não são a mesma coisa que partidos políticos, passeatas, milícias ou quadrilhas. Se o clube se apresenta em estádios e as pessoas pagam, não faz delas donas do destino do clube. O limite é a paixão ao esporte em vitórias e derrotas. O torcedor não responde sobre os problemas do clube, diferente do sócio. Quanto ao elitismo destacado, se pertencer ao clube gerou status, foi fruto de trabalho e investimento próprio desses sócios durante 129 anos de história. Os torcedores querem fazer parte? Contribuam, ajudem, participem dos resultados positivos e dos problemas também. A falta disso fez muitos clubes se tornarem deficitários e hoje extintos. Mas alegar falta de representatividade porque esses milhões não podem votar em prejuízo do sócio constituidor e investidor é um desrespeito a quem manteve até hoje o clube e a marca. Mas, nos tempos atuais, o poder seja aonde for, pode ser tomado, apenas mexendo pratos da balança.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui