Foi em 1º de março, há 459 anos. A flotilha lusa do capitão Estácio de Sá, com três naus, chegou nas águas da Baía de Guanabara para expulsar os franceses, que ocupavam partes do território.
A região já se chamava Rio de Janeiro, nome dado no início do ano de 1504 por navegadores portugueses chefiados por Gonçalo Coelho. A futura cidade nascia, em 1565, como pequeno acampamento militar, instalado estrategicamente entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar.
Os tamoios, povos originários e primeiros donos do pedaço – quando não existia o tal “marco temporal” criado pelos vitoriosos na conquista – apelidaram as fortificações erguidas para a guerra colonialista de “cari-oca”: casa de branco. Daí teria nascido o nosso gentílico.
Em favor do capitão Estácio de Sá deve ser dito que ele foi à luta – não ficou só dando ordens aos comandados. Acabou morrendo em 1567, atingido no olho por uma flecha envenenada.
Foi uma guerra duríssima. “Não temos como escapar, cercados à esquerda por índios bravios e à direita pelos piratas franceses, entre o mar agitado e a selva desconhecida” – escreveu Estácio de Sá.
Mas os lusitanos triunfaram. Reza a lenda que com a ajuda milagrosa de São Sebastião, o padroeiro da cidade.
Como se vê, já começamos em guerra. Os povos nativos, os verdadeiros habitantes dessas terras, cooptados pelos “mair” (franceses) ou pelos “peró” (portugueses), foram bucha de canhão, tanto para um lado como para o outro.
E chegamos até aqui, aos trancos e barrancos, dizimando os povos originários e escravizando os africanos trazidos para cá. É desse encontro de povos diferentes – indígenas, africanos e europeus – misturados num mesmo caldeirão de violência, resistência e força cultural, que fomos moldados.
Estamos em 2024, tentando fazer dessa cidade lindíssima e sofrida – belo cenário para relações humanas injustas e violentas – um lugar bom de se viver. “Rio de ladeiras, civilização encruzilhada/ cada ribanceira é uma nação”, cantou o carioca Chico Buarque.
Identitarios de esquerda e de direita não querem construir nada, só destruir.